Vale está a um passo de levar a Inco
06/09/06
Agnaldo Brito
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) está muito próxima de assumir o controle da mineradora canadense Inco, líder no mercado de níquel e dona das maiores reservas do metal no mundo. Ontem, a mineradora americana Phelps Dodge deixou a disputa e abandonou o acordo de fusão com a Inco, o que abriu caminho para a Vale. Outro sinal que o negócio está mais perto de se concretizar veio da própria Vale. Segundo o Estado apurou, a mineradora deu o sinal verde para quatro bancos levarem a operação adiante.Credit Suisse, UBS, ABN Amro e Santander se comprometeram a financiar os US$ 18 bilhões oferecidos pela Vale para comprar a Inco. Agora, com o sinal verde da mineradora, as instituições financeiras começam a buscar outros bancos para reunir os recursos e dividir os riscos – o chamado empréstimo sindicalizado.De acordo com uma fonte, esta é a indicação definitiva de que a companhia se prepara para comprar a Inco. “A Vale autorizou os bancos a irem ao mercado sindicalizar a operação. É um sinal importante”, sustentou a fonte. Oficialmente, a companhia não comentou o fracasso do acordo entre a Inco e a Phelps nem a captação.A conclusão do negócio significará a maior aquisição de ativos já feita por uma companhia brasileira. O negócio pode levar a Vale da quinta para a segunda posição entre as maiores mineradoras do mundo.CHEQUEA Vale deu prazo até o dia 28 deste mês para uma resposta da Inco, e tem até o dia 2 de outubro “para assinar o cheque”, diz a fonte. “O negócio não sai apenas se qualquer das concorrentes da Vale, como a BHP Billiton, entrar na disputa na última hora e dar um lance maior. Mas isso não deve ocorrer”, avalia. A oferta da companhia foi considerada elevada desde o início.A Vale aceitou pagar 86 dólares canadenses por ação da Inco. O preço de mercado para o mesmo papel é de 85,50 dólares canadenses. Outra diferença para as demais concorrentes foi a disposição da companhia brasileira de pagar em dinheiro, sem incluir troca de ações na negociação. “Essa proposta atraiu muito os fundos de investimento que controlam mais de 50% das ações da Inco que estão no mercado”, diz a fonte.Segundo Marcos José Barbieri Ferreira, especialista em fusões e aquisições e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Neit/Unicamp), a situação patrimonial da Vale impede aquisições como a da Inco com oferta de ações. “A empresa teria uma grande dificuldade em reunir as ações para fazer uma oferta, por isso propôs a compra em dinheiro”, explica Ferreira. Segundo ele, a diferença entre ações ordinárias e preferenciais criaria dificuldade para uma oferta envolvendo esses papéis.Um outro analista acrescentou que a emissão de novas ações para uma compra envolvendo papéis da companhia reduziria o volume de ações nas mãos dos controladores. “Haveria risco de este grupo perder o controle. Foi isso que fez a empresa optar por uma oferta em dinheiro pela Inco”, diz.APRENDIZADOAlguns analistas de mercado acham que a Vale teve habilidade ao disputar a Inco, capacidade que faltou à companhia há dois anos quando tentou sem sucesso comprar a também canadense Noranda. “Naquela ocasião, a empresa chegou com muita arrogância e perdeu”, lembra um analista. A avaliação é que, desta vez, a operação seguiu estratégia diferente. “Além do preço elevado, a companhia trilhou um caminho sem confronto. Assumiu publicamente que manteria a direção atual da Inco e não faria cortes de funcionários. Isso sem dúvida ajuda no negócio”, afirma José Alberto Baltieri, analista de mineração e siderurgia da Fator Corretora.Segundo Claudio Pitchon, diretor do banco West LB, a entrada da empresa no mercado de níquel reduz a percentagem da receita oriunda do mercado de minério de ferro de 75% para 56%. Além disso, a exposição na América do Sul cai de 98% para 60%. “É um passo definitivo à diversificação da companhia”, afirma Pitchon.