O Brasil e as mudanças climáticas
10/12/09
Flavio Rufino Gazani;PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DO MERCADO DE CARBONO (ABEMC)
Um aquecimento acima de 2 graus na temperatura atual do planeta já resultaria em febre na Terra. Os cientistas do mundo inteiro indicam que, se continuarmos a nos desenvolver da mesma maneira como fazemos hoje, as emissões globais de gases causadores do efeito estufa (GEE) aumentarão 70% até 2050.Para conter o aumento da temperatura global em 2 graus, nível necessário para que as alterações climáticas ainda sejam suportáveis ou adaptáveis, é preciso reduzir as emissões globais em 17 GtCO2e/ano (17 bilhões de toneladas de GEE expresso em CO2 equi valente). Hoje já emitimos cerca de 45 GtCO2e/ano, e as projeções apontam para 61 GtCO2e/ano.Portanto, são necessários cortes mínimos na ordem de 25% das emissões globais até 2020.Um ponto chave é como reduzir nossas emissões de GEE, pois, para isto, os países em desenvolvimento dependem de tecnologia e de recursos das nações ricas ? e até mesmo estas, até hoje, não estão conseguindo reduzir suas emissões a níveis satisfatórios. O mundo enfrenta um desafio enorme, e é necessária uma transição para uma economia de baixo carbono. O Brasil deve tomar uma posição proativa, cumprindo metas ambiciosas de redução de emissões, buscando subsídio e incentivo internacional para apoiar a indústria brasileira a se transformar em um setor de baixa emissão a tempo de não perder vantagem competitiva.Neste contexto, o Brasil também tem que lidar com a realidade do pré-sal, que, segundo estimativas do Ministério do Meio Ambiente, deve adicionar pelo menos 100 milhões de toneladas nas emissões apenas na extração e no refino, triplicando os números atuais da Petrobras. Para que o Brasil possa se colocar em uma rota de transição para uma economia de baixo carbono, ao mesmo tempo em que explore o pré-sal, precisamos investir concomitantemente uma parte significativa dos recursos para estimular a redução de emissões no país.A Amazônia, mais do que nunca, é vista como o pulmão do mundo. Com o aumento do aquecimento global e o reconhecimento de que as emissões provenientes do desmatamento contribuem para esta febre do planeta, temos mais claro o papel da Amazônia para o equilíbrio do ecossistema mundial e brasileiro. Louvável a meta anunciada por Carlos Minc de reduzir o desmatamento em 80% até 2020, apesar de o Greenpeace acreditar que é possível atingir uma meta de desmatamento zero até 2015.Assunto polêmico em pauta na 15ª Conferência do Clima (COP-15) é a possível inclusão da preservação de florestas nativas nos acordos climáticos. A diplomacia brasileira foi sempre muito sensível a este tema, por razões de soberania nacional, afinal somos donos de 60% da maior floresta tropical do planeta, mas já se dispõe a discutir tal inclusão.
No entanto, hoje se reconhece a importância das emissões de carbono provenientes do desmatamento.Estimativas apontam que a preservação de florestas nativas por meio do mecanismo chamado REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) permitirá resgatar cerca de 5 GtCO2e/ano, do total de 17 GtCO2e/ano que devem ser reduzidas.Isto poderia gerar uma receita entre US$ 20 e US$ 40 bilhões ao ano no mundo, dos quais de US$ 8 a US$ 16 bilhões podem vir para o Brasil, representando um importante incentivo para a redução do desmatamento no país.Contudo, o REDD deve ser também um meio de conservação da floresta associado à exploração sustentável em áreas específicas, e não prever apenas a manutenção das florestas em pé (conservação florestal ou criação de reservas). A inclusão do manejo florestal sustentável (exploração de impacto ecológico reduzido) como atividade em um projeto de REDD, o chamado REDD+ (mais ou plus), pode trazer uma atividade econômica sustentável para a região da Amazônia.Para estimular a redução do desmatamento é fundamental que se criem mecanismos mistos de financiamento, tanto de gestão pública, como o Fundo Amazônia, financiado por doações internacionais e gerido pelo BNDES, como também de mercado com participação privada.Afinal o capital privado tende a se mover mais rápido e ambos os esforços são necessários.Podemos então concluir que é necessária cooperação mundial para conter o problema e manter relativo equilíbrio climático na Terra. Esperase durante a COP 15 em Copenhague que as nações reunidas somem esforços em um novo acordo internacional dando continuidade ao compromisso inicial assumido no Protocolo de Kyoto, porém com metas desta vez bem mais ambiciosas.
Jornal do Brasil