Investidor faz lucro em ações de energia
12/08/08
Nos últimos dois meses, desde que a crise internacional voltou a se agravar, os investidores correram para se abrigar nas ações de energia elétrica, consideradas defensivas por uma série de motivos. Essa movimentação é nítida no desempenho recente desses papéis bem superior ao resto da bolsa. Depois de terem ganhos ou, no mínimo, perdas menores, os investidores agora resolveram vender tais papéis para ir em busca de outras ações que já sofreram bem mais. Entre as dez maiores quedas do Índice Bovespa ontem, quatro eram elétricas. As preferenciais (PN, sem direito a voto) série B da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) caíram 9,63%, enquanto as ordinárias (ON, com voto) da Light, 7,98%. Em seguida ficaram as PNBs da Companhia Paranaense de Energia (Copel), em queda de 6,25% e as PNs da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) caindo 5,81%. “Nos últimos dois meses, as elétricas se mostraram como um porto seguro ante os papéis dos setores mais ligados ao mercado internacional, como petróleo, mineração e siderurgia”, diz o analista da Corretora Unibanco Marcos Severine. “Agora está ocorrendo uma realocação de recursos, que é bastante normal de acontecer quando algumas ações ficam muito mais defasadas do que outras”, afirma ele. Os números comprovam como as elétricas saíram bem menos arranhadas dessa última pernada da crise. Desde junho, o Índice de Energia Elétrica (IEE) caiu 6,24% enquanto o Índice Bovespa teve uma queda de 24,62%. No ano, o IEE ainda acumula uma alta de 3,88% ante uma baixa de 14,35% do Ibovespa. Vários motivos levaram os investidores a se abrigarem nos papéis de elétricas. Um deles é o fato de essas empresas serem tradicionalmente excelentes pagadoras de dividendos. Algumas elétricas possuem o retorno via dividendos (o “dividend yield”) superior a 10% ao ano, praticamente o ganho de um fundo de renda fixa, descontando o Imposto de Renda (IR) e a taxa de administração. As ações que oferecem bons dividendos ganham importância à medida que o mercado fica turbulento, pois é uma forma do investidor garantir algum tipo de retorno com o papel. O aumento da inflação também foi um atrativo para as elétricas, já que as suas tarifas são reajustadas com base nos índices de preços. “Investir nessas ações é uma forma de o investidor evitar que o seu dinheiro seja corroído pela inflação”, explica Severine. No entanto, a partir de agora, que a inflação começa a arrefecer, consequência do processo de alta da taxa de juros, as elétricas perdem um pouco da atratividade. No médio prazo, os fundamentos do setor – preço de energia em alta, com a demanda bem maior que a oferta – continuam intactos, acredita o analista da Corretora Unibanco. Algumas elétricas também caíram com fatores específicos. Foi o caso da Cesp e da Transmissão Paulista. O resultado da Cesp do segundo trimestre, divulgado na sexta-feira, foi ruim, com várias provisões que não se esperava, diz Severine. O balanço da Transmissão Paulista também trouxe provisões operacionais que afetaram o resultado, lembra ele. Dentro do setor, o analista acredita numa recuperação principalmente dos papéis da Cemig, da Cesp e da Eletropaulo. A Cesp também encaminhou ofício ao Ministério de Minas e Energia pedindo o reconhecimento de que as concessões das usinas hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá vencem apenas em 2024. No entendimento do governo federal, tais concessões vencem em 2015. Essa polêmica de prazos foi a grande responsável pelo fracasso do leilão de privatização da companhia este ano. Em relatório, a Link Investimentos afirma que o grupo de estudos criado pelo ministro Édison Lobão deve propor uma saída para o problema, que provoque algum tipo de ônus para as companhias em troca da segunda renovação das concessões, o que deve tirar valor da Cesp. Severine também acredita que a companhia não terá sucesso em sua reivindicação, mas isso não deve ter impacto sobre as ações, pois o mercado já não tinha grandes esperanças. De volta a janeiro A bolsa começou a semana com o pé esquerdo. O Ibovespa caiu 3,29%, para 54.720 pontos. É a menor pontuação desde 23 de janeiro, quando encerrou os negócios em 54.234 pontos. A preocupação aumenta quanto mais o índice se afasta dos 58 mil pontos, considerado um nível psicológico importante. “Com o processo de queda das commodities e de alta dos juros, está havendo um fluxo de saída de recursos dos mercados emergentes rumo aos países desenvolvidos, como os EUA, seja para ações ou para os papéis de renda fixa do governo”, diz o chefe da mesa de operações da HSBC Corretora, José Augusto Miranda Valor Econômico