IBRAM, CEOs de mineradoras e EY debatem os maiores riscos para a mineração
04/07/19
Projeções do cenário econômico mundial colocam a mineração como ‘muito importante’ para o desenvolvimento de projetos de diversas naturezas. A perspectiva é de crescimento da demanda por minerais no curto, médio e longo prazos e de evolução nos preços dos minérios de uma forma geral – ainda mais que os investimentos na ampliação da produção não têm acompanhado o ritmo da demanda dos países.
Este posicionamento foi externado na manhã de hoje (4/7) por Afonso Sartorio, sócio-líder de Mineração e Metais da EY na América do Sul, durante seminário realizado pela empresa em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em Belo Horizonte (MG). O encontro foi realizado no Mining Hub, o primeiro espaço dedicado ao desenvolvimento de inovação para o setor mineral.
A demanda crescente por minérios vai exigir das mineradoras mais atenção e investimentos por minérios com menos impurezas e, para isso, deverá haver uso intenso de tecnologia; além disso, a tecnologia será decisiva para que as companhias sejam mais competitivas em custos.
No seminário, a EY apresentou seu estudo ‘Top 10 business risks facing mining and metals em 2019-2020’, com base em entrevistas com 250 executivos do setor em vários países – veja mais informações em https://www.ey.com/en_gl/mining-metals/10-business-risks-facing-mining-and-metals. No evento, temas considerados riscos, como transformação digital e licença social para operar foram debatidos em dois painéis, com a presença de executivos e CEOs do IBRAM, da EY, da Vale, da Nexa Resources, da Gerdau, da Anglo American e da AngloGold Ashanti.
Presidente do IBRAM defende mais diálogo com sociedade
O diretor-presidente do IBRAM, Flávio Ottoni Penido, falou na abertura do evento sobre o momento turbulento por que passa o setor mineral no Brasil e os esforços das mineradoras em desenvolverem e aplicarem estratégias que tornem a atividade mais segura e, assim, contribuam para que reconquistem a confiança da sociedade. Ele lamentou as propostas que têm sido veiculadas publicamente, como as que equivocadamente defendem a elevação indiscriminada de tributos para a mineração, o que, em vez de ser uma solução, acaba por gerar um cenário de maior insegurança jurídica.
Penido defendeu o amplo diálogo, transparente e claro com a sociedade para que as mineradoras assegurem um horizonte de tranquilidade às suas operações.
Seminário debate transformação digital na mineração
No seminário, a EY e o IBRAM reservaram espaço para debates sobre temas selecionados. Entre eles, a transformação digital, do qual participaram Gustavo Vieira, CIO da Vale, Gustavo França, CIO da Gerdau e Marco Carrete, Gerente corporativo de Tecnologia em Automação da Nexa Resources. Este painel foi moderado por Augusto Moura, sócio da EY para Indústria 4.0.
Para Marco Carrete, da Nexa, a mineradora que não investir na transformação digital terá dificuldades para captar recursos financeiros em bolsas de valores internacionais, condição que já é uma exigência de investidores. Para Gustavo França, da Gerdau, a transformação digital deve ser encarada como estratégia para o negócio das companhias.
Gustavo Vieira, da Vale, falou que a companhia tem como um dos desafios atingir escala global nesta fase de transformação digital para compartilhar soluções mundo afora entre as empresas da corporação – para isso, a Vale investe em hubs de inovação, laboratórios digitais em várias partes do mundo e conectados. Já França mencionou outro desafio: preparar as pessoas (entre os quais, os colaboradores) para o novo momento da jornada da companhia, das mudanças em cada profissão e setores da empresa, como sendo uma oportunidade para todos.
Licença social para operar tem novos requisitos
Em seguida, a programação abriu espaço para o debate em torno da Licença para Operar. Este painel foi mediado por Marco A. Araújo, sócio-líder da EY em Belo Horizonte, e teve como debatedores Wilfred Bruijn, CEO Brasil da Anglo American, Camilo Farace, CEO da AngloGold Ashanti Brasil, e Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do IBRAM.
A licença social para operar saltou sete posições no ranking de temas que representam riscos à mineração global, segundo Araújo, da EY. Com os rompimentos de barragens de rejeitos no Brasil, o cenário para se obter a licença ampliou e mudou. Vozes minoritárias, por exemplo, ganharam mais presença; o acesso e a velocidade da circulação de informações aumentou, citou Araújo.
Segundo Rinaldo Mancin, do IBRAM, o setor tem por desafio esclarecer a importância e as contribuições rotineiras do setor mineral para a sociedade e o desenvolvimento das nações e transformar estas informações relevantes em respeito e confiança por parte das pessoas. Ao mesmo tempo, deve ser amplamente transparente nos contatos, bem como na abordagem sobre os riscos da operação mineral.
Mancin informou que experiências internacionais, como no Chile e no Canadá, podem inspirar soluções para a mineração do Brasil melhorar o nível de relacionamento com as comunidades e a sociedade em geral. Ele acredita que a adoção da autorregulação pelo setor – apoiada pela legislação geral – pode ser um caminho. No Canadá, por exemplo, há um padrão rígido de exigências para ocorrer a operação mineral, que pode ser adaptado à realidade brasileira e, assim, contribuir para melhorar a percepção da sociedade em relação a indústria minerária.
Segundo Camilo Farace, da AngloGold, um dos riscos das empresas é assegurar a manutenção dos projetos minerais em atividade, que dependem da licença social. Após o rompimento da barragem a montante em Brumadinho, ele contou que a AngloGold Ashanti identificou que uma comunidade próxima a uma de suas barragens, também construída pelo método a montante, estava temendo por sua segurança.
A companhia, então, agiu com total transparência e clareza. Convidou a comunidade a percorrer a área da barragem, a ouvir explicações e a tirar dúvidas. Constataram que apesar de ser uma barragem a montante, ela não apresentava as mesmas características da que se rompeu e que o risco era considerado tecnicamente muito baixo.
Segundo Farace, assim como na agricultura há diversos tipos de produtos e cada qual é produzido com características distintas, o mesmo ocorre em relação à mineração e às suas estruturas, como as barragens. Embora haja espaço para a continuidade de barragens a montante, como comprovado no caso da AngloGold Ashanti, este método construtivo foi demonizado após o rompimento em Brumadinho.
Wilfred Bruijn, da Anglo American, lembrou que os brasileiros têm que ser conscientizados da importância da atividade mineral, ter acesso a informações com o máximo de transparência sobre os riscos, ainda mais que é um setor com o qual a população terá que conviver ao longo dos anos. “Nossa mensagem tem que ser aberta, explícita com todos os stakeholders”, afirmou.