Com a Inco, Vale pode se tornar a maior mineradora do mundo
28/09/06
Mariana Barbosa
Com a compra da mineradora canadense Inco, a Companhia Vale do Rio Doce se transforma em uma forte candidata a líder mundial em mineração. Estudos realizados logo após a oferta de aquisição colocavam a Vale/Inco no segundo lugar no ranking das maiores mineradoras em valor de mercado (com base no preço das ações). Nesse aspecto, a Vale está avaliada em pouco mais da metade do valor da líder anglo australiana BHP Billiton.Entretanto, a comparação dos ativos – incluindo cada projeto e reserva mineral – trazidos a valor presente líquido, mostra que a diferença das duas líderes cai para US$ 2 bilhões, segundo dados da consultoria australiana Global Mining Research (GMR). A consultoria avalia os ativos da Vale/Inco em US$ 85,6 bilhões, contra US$ 87,78 bilhões da australiana BHP Billiton – excluindo aqui os negócios de petróleo e gás da BHP Billiton. Incluindo petróleo, a BHP está avaliada em US$ 115,5 bilhões pela consultoria. Já os ativos da Vale sem Inco estão avaliados em US$ 74 bilhões.Estudo da GMR aponta muitas vantagens no negócio no curto prazo, mas no longo a avaliação não é tão positiva. O estudo ressalta positivamente a diversificação geográfica – reduzindo o risco Brasil – e de produção – com a redução da dependência em minério de ferro. Pelos cálculos da GMR, a participação de minério de ferro no faturamento cairia de 74% para 64% – redução menor do que a estimada por corretoras como a Merrill Lynch, que fala em 54%. A participação do níquel no bolo das receitas sairia de 1% para 14%. `A aquisição da Inco pode antecipar o processo de diversificação da produção da Vale em uma década ou duas`, avalia o consultor da GMR, Tony Robson.PROBLEMASDentre os problemas apontados pela GMR está o fato de que a Vale entrará em um mercado altamente valorizado. De 8 anos para cá, o preço da tonelada de níquel saltou de US$ 4 mil para US$ 27 mil. Apesar do níquel ser hoje um ótimo negócio, talvez esse não seja o melhor momento para aquisições. As ações da Inco são hoje as mais valorizadas dentre ações de grandes mineradoras do mundo. `A Vale está comprando no pico do mercado de níquel. Os preços estão no mais alto patamar de 19 anos. Não subirão mais do que isso`, diz Robson.Apesar de não ver maiores problemas com o endividamento da Vale para a compra da Inco, a GMR lembra que se aparecer uma outra oportunidade de aquisição nos próximos anos, a Vale não terá condições de aproveitar.Além disso, Robson aponta questões como baixa sinergia e a herança de alguns problemas da Inco. `A Vale não tem muitos gerentes seniores que falem inglês e o mercado norte americano não tem o gerentes seniores da Inco em alta conta`, diz.A Vale ofereceu 86 dólares canadenses por ação da Inco no dia 11 de agosto, o que equivale a US$ 17,3 bilhões. Inicialmente descartada, a proposta foi recomendada pelo Conselho de Administração da Inco no último domingo. A expectativa é que a negociação seja concluída até o dia 16 de outubro.Ironicamente, apesar de agora brigarem pela liderança do setor, Vale e BHP Billiton são sócias, com 50% cada, na mineradora Samarco, em Minas Gerais.TECNOLOGIAPara o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Paulo Camillo Penna, a incorporação trará ainda benefícios em termos tecnológicos, na medida em que a Vale irá absorver os conhecimentos da Inco na exploração de níquel.A Vale tem dois projetos de níquel no Pará, Vermelho e Onça Puma, sendo que o segundo ainda depende de aprovação do conselho de administração. `Como a tecnologia em níquel é algo que a Vale ainda teria de desenvolver, a compra pode acelerar os projetos nessa área`, diz Penna.Além disso, diz Penna, a aquisição abre as portas para o mercado americano de níquel, principal cliente da Inco.`Quando os dois projetos no Pará estiverem em pleno funcionamento, a Vale se transformará na líder mundial em níquel`, diz Penna. A produção da Vale/Inco será de 402 mil toneladas ao ano, muito à frente da segunda colocada, a russa Norilsk Nickel, que produz 265 mil toneladas.