Variação cambial gera aumento de 20% do cobre
10/10/08
Os empresários da indústria de fios e cabos sinalizam que o desenvolvimento do setor está ameaçado. Cerca de 80% dos custos variáveis do setor são matérias-primas importadas, a maior parte commodities, com preços atrelados ao dólar.
A desvalorização de aproximadamente 50% do real em relação ao dólar é o principal fator do sinal vermelho que se acende, apesar da queda de 20% nos preços internacionais do cobre e do alumínio.
Essas oscilações desregradas, em conjunto, geram um aumento de 20% no custo em reais do cobre e do alumínio, e de mais de 60% no valor de outros insumos utilizados na confecção de fios e cabos, como as borrachas, catalizadores, resinas e fitas semicondutoras.
De acordo o Sindicato dos Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), o custo da matéria-prima teve um aumento de cerca de 30% nos últimos dois meses.
?Estamos diante de um grave problema, pois as empresas do setor possuem contratos com preços fixos ou reajustáveis, com bases travadas e índices defasados, todos em reais, que, face à situação atual, não têm como ser mantidos?, explica o presidente do Sindicel, Sérgio Aredes.
?Esses contratos têm de ser renegociados imediatamente para que as diferenças de base sejam adaptadas a esta realidade, corrigindo assim, o brutal desequilíbrio econômico gerado pelo câmbio?, ressalta. Para o Sindicel, o desnível econômico pode causar impacto nos setores automotivo, petroquímico, eletrônico, de energia elétrica, de telecomunicação e de mineração.
?Os nossos fornecedores estão com dificuldade de honrar seus compromissos devido à explosão cambial, e ao desaparecimento de linhas de crédito para suporte de seus acordos financeiros?, diz Aredes.
?Já não podemos descartar a possibilidade de desabastecimento de matéria-prima para o setor?, salienta. Segundo Aredes, a alta nos preços, a possível ausência de insumos e a falta de crédito no mercado externo e interno podem causar um forte impacto negativo em toda a cadeia produtiva da indústria.
?Não há a possibilidade de faturar um contrato estabelecido com base no valor do dólar de dois meses atrás?, explica Aredes. ?Insere-se nesse contexto, ainda, o possível crescimento da inadimplência por parte dos clientes que permeiam o segmento?, afirma. Esse cenário se torna ainda mais preocupante, já que o setor investiu pesadamente, ao longo desses dois anos, em aumento de capacidade e na contratação de mão-de-obra.
?Se não houver uma renegociação rápida entre a tríade fornecedores, fabricantes e clientes, o nível de ociosidade na indústria pode ultrapassar os 50%, gerando grande volume de demissões?, explica. De acordo com o Sindicel, o setor não tem como bancar os prejuízos, e as ações emergenciais precisam ser colocadas em prática urgentemente. Apesar da dificuldade para definição de preços resultante da volatilidade do cenário econômico, é mandatório que os contratos sejam renegociados com os clientes, para contemplar o valor do câmbio mais próximo possível da realidade do momento.
A redução dos prazos de pagamento é fundamental para conter a drenagem violenta do caixa das empresas. Renegociação dos contratos de compra de matéria-prima com condições de pagamento mais favoráveis deve fazer parte deste conjunto de ações. ?Outro cuidado importante é na hora de elaborar os preços e as condições comerciais dos produtos a serem ofertados no mercado neste momento?, conclui Aredes.
Revista Lumière