Vale quer liquidar empréstimo-ponte
09/03/07
Vera Saavedra Durão09/03/2007
A Vale do Rio Doce deve liquidar ainda neste semestre a posição remanescente de US$ 2 bilhões do empréstimo-ponte de R$ 14,6 bilhões feito junto a bancos para comprar a Inco, informou Fábio Barbosa, diretor executivo de finanças da Vale. Deste total, a companhia já conseguiu refinanciar 84%.
Segundo o executivo, a Vale tem várias alternativas para esta liquidação e cogita até mesmo de usar seu próprio caixa para quitar esta parcela final de dívida. A companhia pode também lançar mão de alternativas financeiras que os bancos venham a sugerir ou mesmo que a própria mineradora venha a imaginar.
“Não temos ainda um plano definido de como será feita a liquidação desta parcela, que é pouco representativa dada a dimensão do endividamento inicial e dado o tamanho do nosso fluxo de caixa. Certamente esta operação não vai representar nenhuma dificuldade para a Vale”, disse Barbosa.
Em entrevista para divulgar o balanço da Vale referente a 2006, ele falou sobre estratégias da companhia para 2007. Na área financeira, a prioridade será trabalhar na `desalavancagem` da companhia reduzindo seu endividamento, informou o executivo. O nível de alavancagem da Vale, medido pela relação dívida bruta/Lajida pulou de 0,77 vezes em dezembro de 2005, para 2 vezes no final de 2006, por conta da aquisição da canadense Inco, por US$ 17,6 bilhões à vista.
Quando Barbosa fala em desalavancar a companhia, o que pretende é reduzir este múltiplo, que já bate no teto tolerado pelas agências de rating para empresas com grau de investimento, avaliam analistas de mineração. Para preservar esta nota de risco de primeiro mundo, que já foi reafirmada por agências de rating como a Standard & Poor`s a Vale está atenta a melhorar sua estrutura de dívida este ano. “Nossa segunda prioridade na área financeira é buscar melhorar nosso perfil de endividamento em operações que se afigurem oportunas para este objetivo”, disse Barbosa.
A aquisição da Inco, no entender do executivo, elevou a Vale ao mesmo patamar de seus competidores, transformando-a numa empresa diversificada geograficamente e em produtos. “Se a Vale tivesse evoluído seguindo a média do mercado, nosso valor de mercado no final de fevereiro seria de US$ 64 bilhões e não de US$ 79,2 bilhões. São US$ 15 bilhões a correlação de valor gerado com esta aquisição”, analisou.
Segundo os cálculos da Vale, a Inco contribuiu com US$ 200 milhões para o lucro da companhia no último trimestre do ano, que fechou em US$ 1,5 bilhão pela contabilidade americana. “Com a Inco, nossa área de ferrosos reduziu sua participação na receita da Vale de 70% para cerca de 50%”, afirmou Barbosa. A área de não ferrosos, subiu para mais de 40%, ampliada por conta do níquel participação de 25%, alumínio (9%), cobre (7%) e platina e outros (1%).
O diretor executivo de finanças da Vale disse que a companhia vai focar suas atividades em minério de ferro, níquel, cobre e carvão nos próximos anos. Ele previu uma produção de minério de ferro de 300 milhões de toneladas este ano, de 287 mil toneladas de níquel, e 247 mil toneladas de cobre. E garantiu que a Vale vai manter sua condição de maior exportadora de minério de ferro para a China, conquistada em 2006. “Vamos exportar este ano 100 milhões de toneladas de minério de ferro para a China”, afirmou. Para Barbosa, o cenário do mercado de minério de ferro é de manutenção de uma economia chinesa aquecida nos próximos dois anos. A Vale não trabalha com a perspectiva de queda de preço do minério para 2008. Vê o mercado de aço em ampla atividade.
No caso do níquel, apesar de analistas como Felipe Hirai, da Merrill Lynch, estarem prevendo queda de preço para este ano, para este ano, no patamar de US$ 10 por libra peso, a Vale está comemorando o fato do preço do metal ter chegado a US$ 42,8 mil a tonelada ontem. Barbosa não acredita que o níquel esteja a patamares tão elevados que as usinas de aço inoxidável possam substituí-lo na composição do seu produto. Apesar de ser agora a maior produtora de níquel do mundo, a Vale , segundo ele, não tem intenção de especular com o produto e nem de usar táticas artificiais para segurar o mercado. Mas, destacou que o mercado de níquel está bem firme e que a Vale está trabalhando para ampliar sua oferta.
O balanço do último trimestre de 2006 que incorporou as contas da Inco nos últimos dois meses de 2006, ficou aquém das expectativas do mercado, fechando em US$ 1,5 bilhão em US Gaap e em R$ 3,4 bilhões em BR Gaap. Isto deveu-se a duas razões: a contabilização das despesas feitas com a compra da Inco, que somaram R$ 1,4 bilhão no balanço em BR Gaap, originando um déficit de R$ 1 bilhão no resultado não operacional da empresa, com impacto negativo no lucro líquido, que poderia ter fechado em R$ 4,4 bilhão, como admitiu o analista Rodrigo Ferraz, da Corretora Brascan.
O outro efeito negativo que chegou até a derrubar as ações da Vale em meio ao pregão de ontem, deveu-se a reavaliação dos estoques da Inco de preços de custo para preços de mercado, obrigando a Vale a amortizar a diferença contábil para mais (o valor dos estoques saltou de US$ 1,4 bilhão para US$ 3,1 bilhões). No quarto trimestre foram amortizados US$ 946 milhões e no primeiro de 2007 serão mais US$ 980 milhões. Apesar do efeito ser transitório, os investidores temem que o fato possa afetar seus ganhos em dividendos em 2008.
Valor Econômico