24/10/08

Rio de janeiro e São Paulo, 24 de Outubro de 2008 – No maior resultado divulgado por uma empresa da América Latina no terceiro trimestre, a Companhia Vale do Rio Doce (Vale) lucrou R$ 12,4 bilhões de julho a setembro, um aumento de 167% em relação ao mesmo período do ano passado. Com 95% das vendas atreladas ao dólar, o lucro da companhia em reais ganhou uma contribuição de R$ 2,8 bilhões provenientes da valorização da moeda americana.
Além da alta do dólar, o recorde da Vale também refletiu marcas históricas da companhia em receita bruta, produção, geração de caixa e embarques, mas as taxas de crescimento ficaram bem aquém do salto no lucro. A receita bruta alcançou R$ 21,4 bilhões, valor 33,4% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2007. A geração de caixa, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ficou em R$ 11,3 bilhões, um aumento de 41,9%. A Vale ressalta que possui “recursos em caixa da ordem de US$ 15,3 bilhões, disponibilidade de volume significativo de linhas de crédito de médio e longo prazos e perfil de dívida de baixo risco, com baixa alavancagem, baixo custo, elevada cobertura de juros e longo prazo médio de vencimento”.
Crise
No balanço financeiro divulgado ontem à noite, entretanto, a companhia reconhece que a crise vai afetar a demanda por minerais no mundo todo, inclusive na China, seu maior mercado . “Esperamos a continuação da desaceleração econômica global, com o ritmo de crescimento caindo no curto prazo ao nível observado na recessão de 2001. Esperamos que uma recuperação gradual comece no segundo semestre de 2009, com a expansão global voltando à tendência de longo prazo possivelmente apenas em 2010”, prevê a empresa.
Considerando as vendas por país, a China é o principal mercado, com participação de 20,1% na receita da Vale, Brasil com 17,8%, Japão com 10,5% e Alemanha com 7%. Entretanto, a crise deve reduzir os custos da mineradora. O custo dos produtos vendidos (CPV), descontando-se a depreciação, atingiu R$ 7,4 bilhões no terceiro trimestre do ano, 17,3% acima dos R$ 6,384 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. “Deste aumento de R$ 1,105 bilhão, R$ 969 milhões se devem aos preços mais elevados dos insumos e R$ 450 milhões à expansão dos volumes de vendas. Já a apreciação do real no período contribuiu para reduzir o CPV em R$ 315 milhões”, explicou a companhia.
“Espera-se que a desaceleração da economia global concorra para diminuir as pressões inflacionárias. Ao mesmo tempo, é provável que a expansão da produção global de minérios e metais se expanda mais lentamente, o que deverá contribuir para a redução dos custos de insumos e serviços para a mineração”, acrescentou.A remuneração dos acionistas da Vale também bateu recorde em 2008, no valor total de US$ 2,85 bilhões, com aumento de 52% em relação aos US$ 1,875 bilhão pagos em 2007. Em dólares, o lucro líquido da Vale alcançou US$ 4,8 bilhões (crescimento de 64%) e acumula US$ 11,9 bilhões. Nos nove primeiros meses do ano passado, o lucro foi de US$ 9,2 bilhões. No ano, o lucro líquido em reais atingiu R$ 19,259 bilhões – 23,5% superior ao lucro do mesmo período do ano passado e a receita totalizou R$ 54,82 bilhões, ante R$ 50,86 bilhões no mesmo período de 2007. No trimestre, o resultado da companhia supera a Petrobras, que também tradicionalmente contabiliza crescimentos expressivos. Desde 2005 o melhor resultado em um trimestre da estatal foi registrado de abril a junho, com lucro líquido de R$ 8,7 bilhões.
“Temos disponibilidade de linhas de crédito rotativo de US$ 1,9 bilhão, com vencimento médio de 3 anos, que proporcionam um colchão de liquidez. Até 30 de setembro de 2008 não havíamos utilizado essas linhas de crédito.”
Mas as ações PNA da Vale contabilizam baixa de 52,34%¨em 12 meses, enquanto que o índice Ibovespa registra baixa de 46,06% no período. Ontem, antes do anúncio dos resultados, os papeis PNA da companhia caíram 3,21%, para R$ 23,30 e os ON tiveram queda de 5,69%, para R$ 25,6. “Os números vieram muito acima do esperado, o próximo trimestre pode ser mais fraco, mas a Vale é bem administrada, tem contratos de longo prazo e se tiver queda nos próximos trimestres deve ser pontual”, afirmou o economista chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira.
Produção
No terceiro trimestre deste ano a empresa atingiu um novo recorde no embarque de minério de ferro e pelotas, um total de 86,6 milhões de toneladas métricas, o número é 12,5% superior ao registrado em igual intervalo de 2007. Considerando o consolidado de nove meses, foram 239,9 milhões de toneladas, ou 11,8% mais do que no ano anterior. A Ásia ficou com 42,6 milhões de toneladas do total de minério de ferro e pelotas vendido pela companhia no terceiro trimestre, o número representa 49,2% dos embarques. A Europa respondeu por 25% e o mercado brasileiro por 15,3%. A receita bruta da Vale com a venda de minério de ferro subiu 71,4%, um total de R$ 10 milhões.
A receita com os minerais não-ferrosos caiu 19,3%, para R$ 5,45 bilhões. Os menores preços do níquel e a apreciação do real contribuíram para redução de R$ 1,9 bilhão na receita. No acumulado de nove meses, os não-ferrosos renderam R$ 17,4 bilhões, bem abaixo dos R$ 24,6 bilhões de igual intervalo de 2007.
No níquel refinado, por exemplo, o aumento nos embarques, de 69 mil toneladas no terceiro trimestre, ante 61 mil do terceiro trimestre de 2007, não garantiram crescimento em valores. No terceiro trimestre deste ano foram R$ 2,6 bilhões, ante R$ 3,77 bilhões de 2007.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 4)(Sabrina Lorenzi e Rita Karam)

Gazeta Mercantil