Vale ganha a batalha pela Inco e mantém sua classificação de risco
25/10/06
Vera Saavedra Durão, Raquel Balarin e Patrícia Nakamura 25/10/2006 Enviar para um amigo Imprimir Foram duas batalhas para a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Uma, para convencer os acionistas da canadense Inco de que sua oferta de 86 dólares canadenses por ação, em dinheiro, era a melhor disponível e que, portanto, eles deveriam vender os papéis para a mineradora brasileira. A outra batalha foi mostrar às agências de classificação de risco que a companhia conseguiria rapidamente reduzir o endividamento após a aquisição e que, portanto, merecia ser mantida na seleta lista de “investment grade” (grau de investimento, classificação dada a empresas com baixíssimo risco).
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A CVRD venceu os dois embates. À uma da manhã de ontem (meia-noite no Canadá), donos de 7,5,66% das ações ordinárias da Inco aceitaram vendê-las à Vale. O valor total desses papéis, de cerca de US$ 13,5 bilhões, será pago aos acionistas amanhã. É a maior aquisição já feita por uma empresa privada da América Latina. Um pool de 20 bancos, liderados por ABN Amro, Credit Suisse, Santander e UBS, havia colocado à disposição da companhia um total de US$ 34 bilhões para financiar a compra.
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Como a intenção da Vale é fechar o capital da Inco – e para isso é necessário que ela obtenha a adesão de no mínimo 90% dos acionistas – a companhia decidiu estender sua oferta até o dia 3 de novembro, pelo mesmo valor de 86 dólares canadenses por ação. O Valor apurou que a Vale poderá estender esse prazo por mais duas vezes, até o fim do ano. Mesmo sem ter ainda todo o capital da Inco, a canadense já pode ser incorporada à Vale como subsidiária integral, batizada de CVRD Inco, e ser consolidada no balanço da brasileira a partir do último trimestre deste ano. O presidente do conselho de administração da nova subsidiária da Vale será seu presidente executivo, Roger Agnelli.
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Ontem, as principais agências de rating anunciaram a revisão da classificação de risco da Vale. A Fitch Ratings manteve a classificação de longo prazo em moeda estrangeira em BBB- (faixa inferior da categoria grau de investimento) e rebaixou o rating em moeda local de BBB para BBB-. Segundo a agência, a mudança reflete os efeitos da alavancagem (aumento da dívida em relação ao patrimônio) já que a empresa deve assumir, ao final do processo, uma dívida de US$ 18 bilhões em forma de empréstimo-ponte sindicalizado (rateado entre vários bancos) e de mais US$ 1,9 bilhão das obrigações da Inco.
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Com a aquisição, a Fitch calcula que a dívida total da Vale, hoje de 0,8 vez a geração de caixa operacional (Ebitda, na sigla em inglês, ou lajida, em português) deverá subir para 2 vezes.
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A Vale recorreu a um corpo-a-corpo com as agências de rating para manter o “investment grade. Perder esse status significaria aumentar o custo de captação justamente no momento em que a empresa partirá para substituir parte do empréstimo-ponte (com prazo de dois anos) por captações no mercado. Uma emissão de debêntures de R$ 5 bilhões, com prazo de sete anos, já está no forno.
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De acordo com Anita Saha, diretora de finanças corporativas da Fitch Ratings para a América Latina, a empresa manteve o “investment grade” para a Vale porque a mineradora explicou como pretende reduzir a dívida neste ano e em 2007. “Eles vão usar o caixa da companhia (hoje de US$ 2 bilhões) e vender uma série de ativos não-estratégicos, como participações em siderúrgicas, entre elas a Usiminas”, afirmou Saha.
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Na Usiminas, a Vale tem hoje 23% do capital ordinário. Deverá vender para seus sócios 6% e outros 10% serão oferecidos no mercado. Com a operação, espera-se captar no mínimo R$ 1 bilhão. A empresa também deve se desfazer dos 5% que tem na usina argentina Siderar, controlada pela Ternium. Havia também rumores sobre a venda dos 50% que a Vale detém na laminadora americana California Steel, que poderia gerar entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão, mas a mineradora negou essa intenção.
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Outra opção para reduzir a alavancagem pode ser a emissão de ações, apesar de a companhia ter informado, em um primeiro momento, que não partiria para a colocação de novos papéis no mercado. O Valor procurou ontem representantes da Vale, mas a companhia informou que eles só irão se pronunciar hoje.
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A compra da Inco fez a Vale do Rio Doce conquistar o status genuíno de companhia global, ao diversificar a posição geográfica de seus ativos. Até o ano passado, a empresa concentrava no Brasil 98% de suas jazidas, enquanto o restante estava na Europa. Agora a fatia do país cai para 60%, mas a Vale amplia seus domínios no continente europeu (3%), além de ganhar peso expressivo na América do Norte (27%) e Ásia (5%).
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Ao se transformar na segunda maior mineradora do mundo, a Vale agrega mais 11 mil pessoas aos seus 38 mil funcionários, e pode elevar seu faturamento para cerca de US$ 18 bilhões e o lucro anual para US$ 6 bilhões. A empresa também reduz a dependência dos minerais ferrosos na composição da sua receita. Em 2005, tal nicho representou 74% da receita da empresa. Agora, essa proporção é de 56%. O níquel, que sequer figurava entre as principais fontes de faturamento, representará 20% da receita, tornando a Vale principal produtora mundial da commodity. Até 2011 a produção de níquel da Vale vai alcançar 402 mil toneladas/ano, quase o dobro da segunda colocada, a Norilsk Nickel.
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A aquisição também coincide com um dos períodos mais auspiciosos dos minerais não-metálicos na história. Na London Metal Exchange (LME) a cotação do níquel ultrapassa a casa dos US$ 32 mil por tonelada (a maior cotação em duas décadas) e sem perspectiva de desaquecimento a curto prazo, por conta dos estoques mundiais minguados e do nível de consumo em franca expansão.
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Controladores da Vale, capitaneados pela Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, comemoraram a aquisição da canadense. Renato Chaves, diretor de participação da Previ, atribuiu o fato à aprovação pelo conselho da companhia de uma estratégia correta de internacionalização da Vale. “Foi um trabalho conjunto dos acionistas, nas definições das estratégias, apoiando o corpo executivo. Não dá para creditar o sucesso a um determinado segmento, mas a todos, empregados e técnicos.”
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Ontem, os líderes do United Steelworkers (USW), sindicato que reúne os trabalhadores de mineração do Canadá, divulgaram nota dizendo que estão prontos para enfrentar a nova realidade da CVRD Inco, “com um acordo coletivo bem fechado em Sudbury, que garante que ninguém seja despedido, e com um primeiro acordo da Voisey`s Bay Nickel, que incrementou os salários de forma significativa para os novos membros da família de empregados da Inco”.
Valor Econômico