Uma Visão Comentada sobre Carvão Metalúrgico
13/02/15
O Brasil ocupa um lugar de destaque no setor mineral mundial, fato este proporcionado pela sua vasta extensão territorial emersa, a que se somam a chamada ?Amazônia Azul?, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva. Resultam daí diferentes territórios e formações geológicas que consolidam uma grande diversidade de recursos minerais, que gera uma produção em torno de 72 substâncias, das quais 23 são metálicas, 45 não metálicas e 4 energéticas. Diante deste quadro, importante se faz ressaltar que ao se falar em minerais estratégicos não se pode deixar de frisar a necessidade urgente de estratégias políticas, econômicas, sociais e ambientais que visem solidificar novos rumos para as indústrias de mineração e transformação mineral do país.
O carvão metalúrgico para fabricação de coque, de função térmica e redutora para a siderurgia integrada, é um exemplo em que o Brasil depende praticamente 100% de importação. O país importa esse tipo de carvão, principalmente da Austrália, Estados Unidos, Rússia, Canadá, Colômbia, Venezuela, Indonésia e África do Sul, visto que o carvão aqui produzido não possui as propriedades adequadas para tal uso com as tecnologias atualmente disponíveis.
O carvão mineral, coqueificável ou não-coqueificável, é um redutor/combustível primordial na produção de aço. Isso significa que, para produzir aço, o Brasil necessita de carvão mineral e continuará importando essa matéria-prima, com uma tendência de custo cada vez maior. O carvão nacional conhecido e já caracterizado, não apresenta propriedades físico-químicas adequadas para que seja totalmente utilizado na maioria dos processos siderúrgicos. A exceção é a utilização no processo de redução direta, que já foi comprovada em nível industrial.
Para oferecer um carvão metalúrgico ao mercado, é necessário prospectar novas áreas, abrir novas minas e implantar sistemas de beneficiamento mais eficientes para redução das cinzas e enxofre. Atualmente, a retomada das atividades da exploração do carvão encontra dois grandes obstáculos: a obtenção das licenças ambientais e a deficiência na logística de transporte para as usinas siderúrgicas.
Algumas alternativas são possíveis para o incremento da produção do carvão nacional para uso siderúrgico, como por exemplo, as misturas de biomassas, que podem ser aplicadas em diferentes etapas do processo siderúrgico, tais como: processo de coqueificação, injeção pelas ventaneiras dos altos-fornos, pelotização e briquetes autorredutores para processos alternativos de produção de ferro primário. Em todos esses processos deve-se estudar o tipo de biomassa mais adequado, a necessidade de pré-tratamento da biomassa e o tipo de tratamento físico e químico mais apropriado, considerando as particularidades de cada etapa do processo siderúrgico. A grande vantagem da mistura com a biomassa é a obtenção de teores de cinzas e enxofre adequados ao uso siderúrgico, visto que as biomassas apresentam teores muito baixos desses elementos.
Um dos principais gargalos técnicos para a produção de um carvão nacional com características aceitáveis para uso siderúrgico é a baixa eficiência do beneficiamento dos carvões. Deve-se salientar que a produção de carvão nacional beneficiado do tipo metalúrgico irá gerar uma fração de alto teor de cinzas que pode ser utilizado para a geração de energia elétrica. Assim, torna-se necessário que estudos de viabilidade econômica sejam feitos levando em consideração a escala de produção da mina, o uso da fração térmica gerada no beneficiamento, os investimentos necessários para revitalizar a infraestrutura de portos e ferrovias e, finalmente, os custos dos carvões produzidos em comparação com os carvões similares importados.
Assim sendo, no Brasil o carvão mineral se insere no contexto do crescimento da demanda por matérias-primas mais eficientes em que se colocam os chamados ?minerais raros? ou ?estratégicos? em evidência. O conceito de temporalidade aliado à política econômica é marcante no diagnóstico de uma estratégia setorial para produtos e serviços a serem desenvolvidos como alvos de desenvolvimento a ser alcançado. Para a área de mineração, a temporalidade tem que aliar uma visão muito particular sobre a exploração de recursos naturais não renováveis ao longo do tempo, pois, a maturação de projetos mineiros demanda muitos anos e fases encadeadas de prospecção, pesquisa, lavra com ou sem beneficiamento e fechamento de minas.
Assim, os minerais ditos estratégicos numa época podem não serem em outra época, ou ainda, os minerais que possuem extração e uso convencionais num certo contexto podem ser estratégicos em outro contexto. De forma que na atualidade o termo mineral estratégico tem sido utilizado como sinônimo de recurso mineral escasso, essencial ou crítico para um país, podendo ou não estar associado a objetivos políticos ou mesmo com a formação de estoques ditos estratégicos, que regulam os mercados da economia mundial globalizada.Marcelo Ribeiro Tunes? mrtunes@ibram.org.brDiretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM
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