Um futuro limpo para o carvão de SC
09/06/08
A procura da indústria catarinense por matrizes energéticas mais limpas e economicamente viáveis está levando ao uso do carvão. Explica-se: diante do preço crescente e da incerteza quanto ao fornecimento do gás natural boliviano, a transformação do carvão mineral em gás desponta como alternativa. Com investimentos nacionais e internacionais e o respaldo da Petrobras, principal parceira, Criciúma, no Sul do Estado, sedia um projeto na área orçado em R$ 25 milhões.A base tecnológica de gaseificação do carvão é o Centro Tecnológico de Carvão Limpo (CTCL), instalado provisoriamente na Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de SC (Satc), lançado no dia 2. Mais do que atuação na condução das ações de recuperação ambiental da bacia carbonífera, o foco principal do CTCL é trabalhar diretamente no uso do carvão em tecnologias limpas de geração de energia para reduzir a emissão de gases poluidores.Nos últimos 15 dias, o trabalho que se iniciou há dois anos deu um salto importante. Em viagem aos EUA, o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, firmou parcerias de apoio técnico com o National Energy Technology Laboratory (NETL), em Pittsburg, no Estado da Pensilvânia, e buscou informações na Agência Internacional de Energia e no Instituto Mundial do Carvão, em Nova York.- O que teremos em Criciúma é uma espécie de refinaria. O processo é lento, mas consistente para termos garantias e respaldo ambiental e não sofrermos problemas e surpresas no futuro – explica Zancan.Até agora, foram amealhados R$ 8,5 milhões para pesquisas e o início das obras da estrutura de sustentação do centro. A intenção é, no final deste mês, oficializar esses recursos na presença do ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.- Falar de custos do gás de carvão é prematuro. A estimativa é que os primeiros testes possam ser feitos em dois anos na indústria cerâmica. Queremos produzir mil metros cúbicos/dia – revela Zancan.A previsão de produção de gás em maior escala é para daqui a cinco anos. Até lá, estarão definidos os modelos de produção e as tecnologias aplicadas e haverá estrutura para atender ao parque industrial regional.Gás pode ter outros usos além da indústriaNo primeiro momento, a gaseificação do carvão visa à produção de gás industrial, principal necessidade do setor cerâmico de SC. Mais ainda, esse esmo gás pode ser empregado na geração de energia elétrica ou a produção de combustíveis líquidos, incluindo-se o hidrogênio.- É uma questão de sobrevivência energética. O Brasil parou 25 anos no estudo do carvão. Agora retomamos, porque sofremos com os preços do petróleo, do gás e das políticas econômicas – diz Zancan.Agência Internacional de Energia projeta que, em 2030, a produção mundial de petróleo não passe de 100 milhões de barris. Para a ABCM, é um bom sinal, pois a valorização do gás será inversamente proporcional à elevação do preço do petróleo.- Hoje, qualquer resíduo é energia e se aproveita. Vivemos o mesmo preço do petróleo de 1913, alto. A demanda aumentou e falta tecnologia para aproveitá-lo da melhor forma.( ana.cardoso@diario.com.br )ANA PAULA CARDOSO | Criciúma
Saiba mais sobre o CTCL- Início da construção: setembro- Investimento: R$ 25 milhões em todo o projeto- Empregos diretos: 500- Área: 22 hectares.- Área construída: 13 mil metros quadrados, com investimentos de R$ 14 milhões em obras civis.- Estrutura: os prédios abrigarão centros de pesquisa, laboratórios e incubadoras tecnológicas. As edificações serão construídas em módulos com tijolos a base de cinzas de carvão. O sistema elétrico será supervisionado pela Eletrobrás, com eficiência energética.- Parceiros: Tractebel Energia, Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Eletrobrás, Petrobras, Cecrisa Revestimentos Cerâmicos, Satc e Ministério de Minas e Energia, além de instituições ligadas ao setor de mineração dos EUA, França e Polônia.
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A Petrobras é a principal parceira de um projeto de R$ 25 milhões em Criciúma, no Sul do Estado, para a produção de gás a partir do carvão natural, que seria um contraponto ao gás natural boliviano
Diário Catarinense