Tragédias forçaram Ibram a rever o modelo de gestão
16/12/19
Após duas grandes tragédias ambientais e sociais – em Mariana, 2015, e Brumadinho, neste ano -, a principal entidade representativa da indústria de mineração no Brasil, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), teve de fazer várias mudanças no seu modelo de gestão, bem como democratizar a participação das empresas associadas nas decisões. A imagem da mineração ficou bastante arranhada, no país e no exterior, assim como a do próprio instituto, que faltou liderança mais ativa nas duas crises.
“Foi feita uma grande mudança nesses sete meses no modelo de gestão do Ibram, que era visto como um órgão de algumas empresas de mineração – principalmente da Vale”, afirmou ao Valor Econômico Wilson Brumer, presidente do Conselho Diretor da entidade desde 16 de abril, para um mandato de dois anos. Brumer, que um dia já foi dos quadros da Vale, ainda quando estatal, não representa nenhuma das companhias associadas.
A primeira ação foi um movimento de união do setor, pois o impacto de uma tragédia, como as de Mariana e Brumadinho, de uma ou outra empresa do setor, atinge toda a indústria de mineração do país, disse Brumer, em entrevista ao Valor, logo após a aprovação do novo estatuto do Ibram. Segundo disse, o novo documento que passa a reger a entidade, mais moderno, retrata uma representação mais ampla das empresas por meio de conselheiros indicados.
O número de conselheiros passou de 17 – vários deles eram da Vale – para 25 e o peso de cada associada ficou mais equilibrado. Também foi eleito um novo vice-presidente do conselho diretor, Eduardo Ribeiro, que comanda a CBMM, produtora de nióbio.
A indústria de mineração brasileira é formada por 9,4 mil minas, operadas por 7.638 empresas, sendo 87,3% microempresas, 11,5% na classe de pequenas e médias e apenas 1,6% qualificadas como grandes. O setor no país – grande produtor de minério de ferro, nióbio, bauxita e caulim e exportador de estanho, níquel, magnesita, manganês e ouro, entre outros minerais – responde por 199 mil empregos diretos. O saldo da balança comercial, neste ano, deverá fechar em US$ 23,5 bilhões.
Os investimentos previstos pelas mineradoras instaladas no país no período de 2019-2024 são de US$ 27,5 bilhões (no quinquênio 2018-2023 estavam estimados em US$ 19,5 bilhões. Mas, para se concretizarem, é preciso ambiente de segurança jurídica e previsibilidade, afirma o dirigente.
Entre as outras mudanças definidas em sete meses da nova gestão do Ibram, está a criação dos comitês setoriais – ouro, agregados, fertilizantes, minerais não metálicos, minério de ferro e metálicos -, cada um com representante de uma empresa. Também foram criados cinco comitês técnicos para a diretoria executiva, dentre eles o de sustentabilidade.
Brumer admite que a atividade de mineração no país está com a imagem e reputação abaladas perante a sociedade após as tragédias que levaram à morte quase 300 pessoas e causaram enormes danos ambientais e sociais. Em setembro, divulgamos uma Carta de Compromisso. É uma declaração pública de novos propósitos para a indústria minerária, com diversas metas, afirma. Na carta foram estabelecidos 12 pontos, entre eles a questão das barragens e a disposição de rejeitos, mitigação de impactos ambientais, relacionamento com comunidades e comunicação e reputação. O setor precisa falar mais com a sociedade, diz.
O dirigente apontou ainda a criação de uma diretoria de relacionamento com municípios mineradores. O que será daquele local após acabar a atividade de mineração ali? É preciso trazê-los para a nova realidade, afirma. O Ibram quer também se aproximar mais da cadeia produtiva – de fornecedores a fabricantes de máquinas até a produção do aço.
A entidade passa a ter posicionamento contundente em relação à atividade garimpeira. Tem de haver regulamentação para os garimpos, mineração feita por uma ou poucas pessoas, diz Brumer. Segundo ele, é preciso diferenciar grupos organizados de mineração, com CNPJ, dos donos de garimpos, que reúnem dezenas de direitos de lavra e terceirizam a atividade, com elevada atuação informal. E quase nada de preocupação com os danos ambientais que causa.
Leia a íntegra no site do Valor.