Sinergia é o maior trunfo da oferta da CSN
20/11/06
Patricia Nakamura, Ivo Ribeiro e Raquel Balarin
20/11/2006
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As sinergias da mina Casa de Pedra e das futuras usinas de placas de aço com as operações da Corus são o grande trunfo de Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, para vencer a disputa com o indiano Ratan Tata pelo controle da siderúrgica anglo-holandesa. “Nosso ganhos são bem superiores aos da Tata, o que nos permitiu fazer uma oferta melhor”, disse o empresário ao Valor, de Londres, onde comanda a operação de compra da oitava maior usina de aço do mundo.
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Em 2002, quando fracassou uma tentativa de fusão entre as duas empresas, as sinergias somavam US$ 250 milhões, que capitalizadas, chegariam hoje a US$ 1,7 bilhão. De lá para cá, as sinergias só aumentaram. A CSN deu força total ao seu projeto de exploração da mina de minério de ferro de Casa de Pedra. Hoje, a produção seria mais do que suficiente para suprir as usinas da Corus. É uma vantagem importante para a empresa brasileira. A Tata, embora altamente capitalizada, não tem como suprir a Corus. Na Índia, por lei, o minério de ferro tem de ser usado em usinas locais, que agregam valor ao produto.
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A batalha não será fácil e, na Índia, já começam a surgir informações de que o grupo Tata nesta semana deverá anunciar uma oferta ainda melhor pela Corus. Mas, se for bem-sucedido, Steinbruch poderá não apenas tornar-se o principal acionista da quinta maior siderúrgica do mundo (com produção de 23 milhões de toneladas/ano e faturamento de US$ 20 bilhões), como também dar solução ao seu projeto de abrir o capital de Casa de Pedra.
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Hoje, a Vale do Rio Doce tem direito de preferência sobre o minério excedente de Casa de Pedra, aquele que não é consumido pela CSN. E as duas companhias brigam na Justiça sobre esse direito. Se adquirir a Corus e construir duas novas usinas, o consumo cativo da matéria-prima pela CSN será superior a 40 milhões de toneladas por ano. Esse volume absorve quase toda a produção prevista para a mina a partir de 2008. Incluindo minério de terceiros, a empresa espera negociar até 75 milhões de toneladas anuais. Segundo Steinbruch, o minério destinado à Corus ou outra controlada da CSN não é objeto de preferência por parte da Vale.
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Com baixo excedente, sai de cena a incerteza sobre o impacto do direito de preferência da Vale. Abre-se espaço para a venda de 10% a 20% de Casa de Pedra. Os recursos podem ser utilizados para abater parte da dívida que seria contraída para adquirir a Corus.
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Caso seja concretizado, o valor do negócio anunciado na sexta-feira pela CSN chega a US$ 8 bilhões, sem considerar dívidas. Será a segunda maior aquisição feita por uma empresa brasileira no exterior, após a aquisição da canadense Inco pela Vale do Rio Doce por US$ 13 bilhões em outubro.
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A CSN só deverá oficializar a oferta aos acionistas da Corus depois de analisar os números da empresa européia. A “due dilligence”, segundo Steinbruch, deverá durar duas semanas. O prazo coincide com a reunião de conselho do grupo britânico, marcada para 4 de dezembro, quando será votada a oferta da Tata Steel. A CSN já tem 3,8% do capital da Corus, com ações adquiridas em bolsas.
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Para Steinbruch, este é o momento certo para a CSN fazer sua investida internacional. “Não temos dívida com o BNDES e alongamos o passivo com credores privados.” Ele afirmou que, desde a frustrada proposta de fusão, em 2002, o perfil da Corus mudou muito. Há quatro anos, a empresa tinha dívida equivalente a US$ 1,5 bilhão e resultado operacional semelhante. O perfil dos acionistas também mudou. Hoje, a maior parte deles é formada por hedge funds, que têm interesse em valorizar seus papéis.
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Apesar da firmeza de Steinbruch, as agências de classificação de risco Standard & Poor`s e Fitch colocaram em observação negativa o rating dado à CSN por conta do endividamento da empresa, que, com a aquisição, pode chegar a 3,3 vezes sua geração de caixa.
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Steinbruch ressalta que a dívida com os três bancos que lideram a aquisição alavancada – Goldman Sachs, BNP Paribas e Barclays – será contraída pela Corus, que dará seus ativos em garantia. Mas um executivo financeiro diz que, na prática, na consolidação das operações, o endividamento da CSN será maior. “É natural numa operação como essas que quem contraia a dívida seja a empresa absorvida, especialmente quando ela está instalada em um país desenvolvido.”
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Para Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia, a lógica de associação tanto entre CSN/Corus quanto Tata/Corus é a mesma: acesso a mercados de países maduros com base em fornecimento de insumos de países emergentes. E que as sinergias, tanto de uma como de outra, podem ser potencializadas de acordo com expansões resultantes da aquisição.
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Surpreso, bilionário indiano fica mudo
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De São Paulo
20/11/2006
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Quando recebeu a notícia, Ratan Tata ficou mudo e não conseguia desviar os olhos do papel. Foi durante uma visita ao jornal “The Times” que o presidente do conselho do grupo Tata ficou sabendo da proposta de compra feita à Corus pela brasileira CSN. De acordo com a edição de sábado do jornal londrino, ele demorou algum tempo antes de recobrar o fôlego.
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“Interessante”, teria murmurado finalmente, e parou de relatar os planos de integração entre as duas companhias – entre eles a exportação de aço britânico para a Ásia e demissão de funcionários.
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A oferta de 4 bilhões de libras do clã Tata é a maior já realizada por uma companhia indiana no exterior, e reverte o caminho corporativo traçado entre Grã-Bretanha e Índia. Hoje, o grupo Tata é um conglomerado com 96 companhias, que vão desde montadoras de veículos a serviços de consultoria passando por TV por assinatura.
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O braço siderúrgico, a Tata Steel, é o 56ª maior do mundo. Em 2005, fabricou 4,4 milhões de toneladas de aço. O império indiano fechou o ano passado com receitas que beiram os US$ 18 bilhões. Nascido em Mumbai em 1937, o engenheiro e arquiteto Ratan Tata é um dos homens mais ricos do país.
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Segundo o relato do “The Times”, ficou evidente que a direção da Corus não havia feito contato com o bilionário indiano para avisá-los sobre a oferta rival. Entretanto, Ratan Tata checava insistentemente o celular em busca de ligações perdidas. Uma delas era de Jim Leng, presidente do conselho da siderúrgica britânica.
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O executivo chegou a alegar que não tinha um plano de contingenciamento para realizar uma contra-proposta. “A Corus disse que isso (uma oferta rival) não deveria acontecer”. Apesar do choque, Ratan Tata permaneceu calmo e bem-humorado e se retirou da redação do Times para pegar o vôo de volta para Índia. Antes, disse ao jornal londrino que precisava se reunir com a direção da Corus. (PN)
Valor Econômico