Sindicato endurece oposição à negociação da CSN nos EUA
13/11/06
O poderoso sindicato que decidiu se opor aos planos de expansão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos Estados Unidos deu outro passo para impedir a empresa brasileira de assumir o controle da siderúrgica americana Wheeling-Pittsburgh, às vésperas de uma assembléia de acionistas que pode ser decisiva para o futuro da empresa e para os planos da CSN.
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Numa carta endereçada à direção da Wheeling, os Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês) ameaçam ir à Justiça se a companhia continuar conversando com a CSN. Se o negócio for consumado, o sindicato promete fazer de tudo para atrapalhar os novos patrões. O USW diz que prefere ver a Wheeling ir à falência do que entregar seu controle à empresa brasileira.
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“Seu empenho nesta transação é um insulto para o sindicato e os homens e mulheres que representamos, sem cujo extraordinário esforço e sacrifício esta companhia literalmente não existiria”, diz a carta, enviada na quinta-feira e assinada pelo diretor do USW que representa a entidade em negociações com a Wheeling, David McCall. A empresa não se manifestou.
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De acordo com o contrato coletivo que protege os interesses dos trabalhadores da Wheeling, o sindicato tem o poder de vetar qualquer mudança no controle da companhia. O USW apresentou à direção da empresa uma reclamação formal em que alega que ela desrespeitou o contrato ao concordar com uma proposta de fusão apresentada pela CSN.
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A proposta prevê a criação de uma nova companhia, que controlaria a Wheeling e uma planta operada pela CSN desde 2001 no Estado de Indiana. A empresa brasileira teria 49,5% e injetaria no negócio US$ 225 milhões por meio de um empréstimo. Após três anos, a CSN poderia receber ações como pagamento da dívida, o que ampliaria sua participação para 64% e lhe daria controle total sobre a companhia.
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Se o sindicato e a Wheeling não chegarem a um acordo sobre a reclamação, o USW poderá recorrer à Justiça. Pode até ser que não dê em nada, mas o problema para a CSN é que as ameaças do sindicato terão um efeito imediato ao ampliar a incerteza em torno da transação e as dúvidas dos acionistas da Wheeling sobre a proposta da CSN.
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O sindicato é contra o plano da empresa brasileira porque teme que um controlador estrangeiro tente reduzir os benefícios assegurados aos trabalhadores. O USW apóia uma proposta rival apresentada pela distribuidora de produtos siderúrgicos Esmark, que tenta há meses assumir o controle da Wheeling e já assinou com o sindicato um acordo em que promete aumentar os benefícios dos operários.
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Na próxima sexta-feira, haverá uma assembléia em que os acionistas da Wheeling escolherão uma nova diretoria para a empresa. A direção atual, que apóia a fusão com a CSN, quer continuar onde está. Uma chapa patrocinada pela Esmark concorre com o apoio do sindicato e de investidores que têm muita influência sobre os acionistas.
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Se a Esmark vencer, será o fim das pretensões da CSN. Se a atual direção da Wheeling sair vitoriosa, a proposta de fusão terá que ser submetida ao voto dos acionistas numa nova assembléia, em janeiro. O sindicato ameaça levar o confronto até as últimas consequências se o negócio for levado adiante. Na carta enviada à Wheeling, McCall diz que os trabalhadores não moverão um dedo para movimentar as chapas de aço que a CSN deverá fornecer à empresa.
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O sindicato diz ainda que rejeitará a mudança no controle da companhia mesmo se isso levá-la à falência, o que poderia ocorrer se após três anos ela não tiver como pagar a dívida com a CSN. “Nosso sindicato tem uma longa e bem sucedida história ficando ao lado de nossos membros e nossos aposentados durante concordatas, e podem ficar tranqüilos que faremos o mesmo de novo”, afirma a carta.
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Procurada pelo Valor, a direção da CSN informou que preferia não comentar o assunto. Na semana passada, a empresa melhorou sua proposta aos acionistas da Wheeling, oferecendo US$ 30 por ação daqui a quatro anos.
Valor Econômico