Sem conhecer o mapa do tesouro
13/10/10
Brasil investe pouco no mapeamento geológico e responde por 3% das verbas aplicadas para a revelação do subsolo no mundo
O Brasil investe muito menos do que seus concorrentes no mundo em mapeamento geológico básico, estágio anterior à aplicação de recursos na prospecção de minerais, e não tem instrumentos tão atrativos ao setor. Essa deficiência brasileira pode comprometer os investimentos das empresas privadas e o avanço da pesquisa, alerta o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Vargas Penna, que revisou pela terceira vez, em agosto, os planos da indústria de aplicar US$ 62 bilhões em projetos de extração e ampliação da produção até 2014, um recorde. Estatísticas apuradas pela instituição apontam que, no entanto, o Brasil teve parcos 3% do orçamento de US$ 7,3 bilhões da pesquisa geológica básica no mundo ao longo do ano passado. Antes da crise global, em 2008, o total estimado foi de US$ 13,4 bilhões, quando o Brasil detinha os mesmos 3%.
Nações com dimensões territoriais mais próximas do Brasil, como o Canadá e a Austrália, registraram, respectivamente, 16% e 13% do total. ?O conhecimento geológico que se tem no Brasil é absolutamente insuficiente para reduzir os riscos do investimento na descoberta de recursos minerais?, afirma Paulo Camillo. Conforme levantamento feito pelo Ibram, comparando a área de cada país com o total de investimentos realizados, a África do Sul investe 7,7 vezes mais do que o país em levantamento geológico básico; o Chile, 17,7 vezes mais e o Peru, 14,6 vezes, além de uma longa lista de exemplos em melhor posição que a economia brasileira.
O quadro de desvantagem permanece mesmo diante do aumento das cifras destinadas ao mapeamento geológico nos últimos anos. O Serviço Geológico do Brasil (antiga CPRM) investiu R$ 132 milhões de 2005 a 2008, ante um investimento ínfimo de R$ 13 milhões entre 2000 e 2004. Menos de 20% do território brasileiro é mapeado na escala de 1/100 mil quilômetros quadrados, ou seja, cada centímetro do mapa geológico mostra 100 mil km2. Outros 4,3% são conhecidos na escala 1/50 mil km2. Com a base fraca da pesquisa financiada com dinheiro público, é de se pressupor que a aposta do setor privado na prospecção e sondagem de minerais tem muito espaço para crescer.
Ranking Roberto da Silva, diretor de gestão de direitos minerários do DNPM, lembra que a corrida da pesquisa mineral em Minas pôs o estado na primeira posição do ranking nacional este ano. A Bahia, que ocupa o segundo lugar, teve 1.930 requerimentos protocolados, menos da metade dos registros da superintendência mineira (3.540). O Pará ficou na oitava colocação, com 508 pedidos. Ao todo, foram 14.952 requerimentos no país. ?Quanto mais se conhece a geologia básica do país mais se tem a possibilidade de abertura de jazidas?, afirma Silva.
Para Paulo Camillo Vargas, do Ibram, o Brasil tem perdido a oportunidade de alavancar recursos privados em pesquisa mineral com a falta de instrumentos já usados no mercado internacional, um deles a bolsa de valores, a exemplo da sistemática em vigência no Canadá. Outra política de países concorrentes, como o Chile, é permitir que o título minerário seja usado como garantia real em financiamento de recursos para o setor privado investir na descoberta mineral.
O boom da pesquisa em Minas reúne empresas que têm planos regulares de investimento e novos concorrentes, inclusive as chamadas empresas juniores canadenses, aquelas surgidas de fundos de investidores com aplicações em bolsa. A gigante Vale anunciou R$ 1 bilhão destinados este ano para pesquisa e desenvolvimento nas áreas em que atua no mundo. Em Minas, a mineradora definiu 180 metros de sondagens, projeto semelhante ao que foi realizado em 2008 e 2009, a despeito dos efeitos da crise financeira mundial.
Já a MMX Mineração e Metálicos, empresa controlada por Eike Batista, o oitavo homem mais rico do mundo, prevê 19 mil metros de sondagem e 120 furos, dos quais 20 serão feitos este ano, informa Roger Downey, presidente da companhia. ?Nosso foco, hoje, é no minério de ferro. Temos centenas de áreas de pesquisa, já que surgiram mercado e a necessidade de aumento da oferta?, afirma.
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Estado de Minas