Rio Tinto fornece de Corumbá para Cosipa
29/06/07
Francisco Góes29/06/2007
Nelson Perez/Valor
Rodrigues, da Rio Tinto: “Agora vamos continuar a conversar para mais uma carga”
;A Rio Tinto Brasil, subsidiária do grupo anglo-australiano Rio Tinto, fechou o primeiro contrato de venda do minério de ferro de sua mina na morroaria de Santa Cruz, em Corumbá (MS), para uma grande siderúrgica brasileira. O negócio envolveu o fornecimento de 33 mil toneladas de minério de ferro para Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão (SP). O transporte do produto envolveu logística complexa por rio e mar, passando por cinco países.
Na operação o minério foi transportado, via 2,5 mil quilômetros de hidrovias, pelos rios Paraguai e Paraná, e exigiu transbordo para navio em San Nicolás, na Argentina, onde seguiu por mar até o porto da Cosipa, em Cubatão. Eduardo Rodrigues, diretor comercial da Rio Tinto Brasil, disse que a resposta da Cosipa ao teste feito com o minério de Corumbá foi muita boa.
“Agora vamos continuar a conversar para fechar mais uma carga e, eventualmente, acertar a possibilidade de um contrato de longo prazo”, afirmou Rodrigues. Todo o frete do primeiro carregamento, incluindo a navegação de interior e a grande cabotagem (desde a Argentina), ficou a cargo da empresa de navegação H. Dantas, contratada pelo Rio Tinto para esta operação.
Adauto Alves Ribas, superintendente de suprimentos da Usiminas Cosipa, afirmou que o grupo costuma fazer testes com todas as matérias-primas oferecidas por fornecedores. Ele disse que o minério de Corumbá é de boa qualidade, mas avaliou que a logística envolvida na operação é cara para a Rio Tinto. Ribas disse que não há definição sobre novos contratos de compra do minério de Corumbá. Hoje a Usiminas compra 100% do minério que precisa da Companhia Vale do Rio Doce e a Cosipa é abastecida por Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e Itaminas.
O diretor comercial da Rio Tinto tem uma visão clara sobre este assunto: “Projetos como o de Corumbá, que têm custos mais elevados, são viáveis em um ambiente favorável para a mineração e a siderurgia, como o que vivemos hoje.” A mina de Corumbá, comprada pela Rio Tinto em 1992, tem capacidade atual de produzir 2 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Cerca de 60% da produção é vendida para a Arcelor Mittal na Europa e 40% para a Siderar, empresa do grupo Techint, na Argentina.
A produção de Corumbá é escoada pela Transbarge Navegación (TBN), empresa da Rio Tinto, ao longo das hidrovias dos rios Paraguai e Paraná, onde não há mercado local para o produto. A Rio Tinto tem projeto em parceria com outras empresas privadas para transformar o minério de ferro de Corumbá em ferro-gusa, matéria-prima na produção de aço.
O plano consiste na instalação de uma unidade de produção de ferro-gusa, com capacidade de cerca de 900 mil toneladas por ano, com base na tecnologia Hismelt, que consiste no uso de carvão mineral e minério de ferro fino. O uso desta tecnologia, ainda em fase de validação comercial, surgiu como alternativa ao fornecimento de gás natural pela Bolívia, processo que complicou-se na transição para o governo de Evo Morales, em 2005.
A Rio Tinto também tem o objetivo de ampliar a capacidade da mina de Corumbá até 15 milhões de toneladas por ano até 2014. Em uma fase intermediária, em 2010, a mina passaria para 7,5 milhões de toneladas. O investimento, incluindo expansão da mina e porto, é de US$ 1 bilhão. O plano da Rio Tinto contempla ainda investimentos de outros grupos privados na construção de usina siderúrgica para produção de placas de aço. Poderiam ser uma ou duas unidades, cada uma com capacidade de produzir 2 milhões de toneladas por ano.
Todos os projetos capitaneados pela mineradora no Mato Grosso do Sul ainda dependem de licenciamento ambiental. Rodrigues diz que a concessão da licença do porto preocupa em função de discussões jurídicas sobre a competência do licenciamento entre o Estado e a União. Está prevista a expansão e adequação do porto existente e a construção de um novo terminal para o minério. A expansão da mina depende também de maior clareza na legislação federal sobre investimentos estrangeiros em mineração nas áreas de fronteira do país.
“A expectativa é de que esse tema (a mineração em faixa de fronteira) evolua para que a empresa possa avançar com seus investimentos”, diz Rodrigues. O Ministério de Minas e Energia informou, por meio de sua assessoria, que deverá haver reunião na semana que vem para tratar do tema. A idéia é constituir uma comissão formada pelo próprio Ministério, pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para analisar novo modelo de projeto de lei a ser enviado à Casa Civil.
Rodrigues, da Rio Tinto, diz que a empresa aprovou investimento de US$ 28 milhões para fazer o detalhamento de engenharia da mina, do porto e do projeto minero-siderúrgico. “Em doze meses esperamos ter uma decisão final se vamos para a frente ou não”, afirmou. A expectativa da companhia é de que nesse tempo os problemas legais sejam resolvidos.
Valor Econômico