Rio Tinto avalia exploração de novas jazidas no País
23/07/07
São Paulo, 23 de Julho de 2007 – Entre os minérios de interesse está a bauxita, insumo para a produção de alumínio. A mineradora anglo-australiana Rio Tinto, que atualmente está em negociação para a compra da canadense de alumínio Alcan, vê o Brasil como uma região com potencial de novos projetos. A empresa, por meio de sua subsidiária Rio Tinto Brasil, conduz um extenso programa de exploração mineral em território nacional, por meio de uma equipe de pesquisa geológica que busca novas jazidas no País. A companhia investe anualmente na pesquisa de metais básicos e diamantes, entre outros. Um dos interesses é a bauxita, revelou o diretor comercial da Rio Tinto Brasil, Eduardo Rodrigues, em entrevista a este jornal. A bauxita é matéria-prima da alumina, de onde se obtém o alumínio, e o Brasil é atualmente o segundo maior produtor de bauxita, com produção anual de 22,8 milhões toneladas, em 2006, e a terceira maior reserva do mundo. A Rio Tinto já possui um dos maiores depósitos de bauxita do mundo: a reserva de Weipa, na Austrália, que produz 16,14 milhões de toneladas do minério. Já a Alcan produziu no ano passado 14,3 milhões de toneladas de bauxita e possui outra das maiores reservas mundiais, a de Gove, na Austrália. Juntas, no ano passado as empresas foram responsáveis por cerca de 17% de toda bauxita produzida no mundo. Caso efetive a aquisição da Alcan, a Rio Tinto se tornará a maior produtora de alumínio mundial, à frente da atual principal fabricante, a Rusal, respondendo por 11,62% dos 34 milhões de toneladas produzidas em todo o mundo. Independente da negociação, a Rio Tinto já anunciou planos de investir US$ 1,8 bilhão na expansão de suas operações de refino de alumina, o que demonstra o interesse da empresa em ampliar sua atuação nesta área. No ano passado, cerca de 13% do faturamento global da empresa, de US$ 25,4 bilhões, foram provenientes de suas atividades de alumínio. Minério de ferro Por hora, porém, o projeto mais desenvolvido no Brasil é o do Pólo Minero-Siderúrgico de Corumbá, que a empresa vem estudando desde 2004 e para o qual estão estimados investimentos de US$ 1 bilhão, somente por parte da mineradora. A empresa está estudando a ampliação da mina de minério de ferro que possui em Corumbá (MS), por meio da Mineração Corumbaense (MCR), dos atuais 2 milhões de toneladas por ano, para 15 milhões de toneladas anuais em 2014, atingindo uma capacidade intermediária de 7,5 milhões de toneladas por ano em 2010. Aliada à expansão da mina, está prevista a construção do pólo siderúrgico, a ser instalado na região de Antonio Maria Coelho, a 45 quilômetros de Corumbá, e contará com uma unidade de ferro gusa com capacidade para produzir 800 mil toneladas por ano. Um investidor parceiro, ainda a ser escolhido pela Rio Tinto, poderá também implementar unidades transformadoras do gusa em aço, com uma capacidade de 2 milhões a 4 milhões de placas anuais. Hoje, três companhias avaliam investir neste projeto, mas Rodrigues não revelou quais seriam os grupos interessados uma vez que foram assinados acordos de confidencialidade. Projeto logístico O projeto também prevê um braço logístico, com a ampliação e adequação do porto Gregório Curvo (PGC) e a construção de um novo porto, no distrito de Albuquerque (MS), para escoar a produção de minério de ferro que não for utilizada no projeto siderúrgico. O plano de logístico compreenderá o transporte fluvial pelos rios Paraguai e Paraná até o porto do Rio da Prata e via transporte marítimo até a chegada dos produtos aos mercados consumidores. Somente o transporte fluvial passará por cinco países: Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Rodrigues revelou que, com a implantação plena destes projetos, cerca de 15 milhões de toneladas de minério de ferro e produtos siderúrgicos serão embarcados por meio do PGC e do Porto de Albuquerque. A frota da empresa passará dos atuais quatro para 26 comboios. A logística, já utilizada para o escoamento da produção atual, possui custo mais elevado do que outros projetos minero-siderúrgicos ao longo da costa brasileira, mas Rodrigues destacou os investimentos já realizados na melhoria do sistema. `Para diminuir esta desvantagem, a Rio Tinto vem investindo continuamente`, disse Rodrigues, destacando investimentos da subsidiária, a Transbarge Navegacion (TBN), de US$ 55 milhões em infra-estrutura, tecnologia de ponta e capacitação profissional. Ele ressaltou o momento mundial propicio para o investimento em mineração e siderurgia. `Ainda que com custos elevados, o projeto de Corumbá é viável e uma interessante oportunidade de negócios. Não há duvidas de que quanto mais o tempo passa, o projeto perde excelentes oportunidades de mercado. No entanto, o projeto continua atrativo.` Problemas legais A expectativa da empresa é de que no segundo semestre do ano que vem a companhia possa iniciar as obras, previstas para durar cerca de 30 meses. Com isso, até o final de 2010 o novo projeto estaria em operação. Para isso, porém, deverão ser resolvidos problemas de ordem jurídica e ambiental. Segundo Rodrigues, o Comitê de Investimentos da Rio Tinto, em Londres, aprovou um orçamento de US$ 28 milhões para finalizar o detalhamento de engenharia da mina, do porto e do projeto minero-siderúrgico. `Para darmos continuidade às ações previstas, é necessário, entretanto, que nos próximos doze meses sejam definitivamente esclarecidas as questões legais referentes aos investimentos de empresas estrangeiras de mineração na faixa de fronteira.` Em março deste ano, a Rio Tinto finalizou os estudos socioambientais e solicitou os licenciamentos prévios destes empreendimentos. No entanto, no âmbito logístico, a Rio Tinto sequer enviou ao órgão o Estudo de Impacto Ambiental, uma vez que ainda é necessário que o Ibama entre em acordo com o Ministério Público para que o órgão ambiental possa conceder licenças ambientais para portos no Rio Paraguai. Todos os licenciamentos de novos portos no Rio Paraguai foram suspensos por uma decisão judicial afetando, assim, todos os projetos daquela região. `Não haverá avanço no projeto minero-siderúrgico idealizado pela Rio Tinto sem a construção do novo porto.` Além disso, o projeto também enfrenta um imbróglio jurídico a respeito da Lei de Faixa de Fronteira, que estabelece regras para a atuação de empresas estrangeiras na área de fronteira. `Ainda enfrentamos a falta de clareza jurídica para a interpretação da Lei de Faixa de Fronteira, mas temos confiança de que um projeto de lei, de autoria do governo federal, seguirá para votação no Congresso Nacional ainda este ano para resolver esta questão.`
Gazeta Mercantil