Retomada já estimula alta de preços
23/06/09
Os preços dos produtos siderúrgicos iniciaram trajetória de alta que poderá adentrar o segundo semestre, alimentada por um movimento em curso de reestocagem na cadeia consumidora. O Valor apurou que a tonelada do produto subiu em média US$ 80 no mercado americano nas duas últimas semanas e, em menos de 15 dias, as placas aumentaram US$ 100, saltando de US$ 300 para US$ 400 a tonelada. O fato é visto como uma retomada por fontes do setor e especialistas como Germano Mendes de Paula, economista da universidade de Uberlândia.
Benjamin M. Baptista, presidente-executivo da ArcelorMittal Tubarão, braço de aços planos da América do Sul da multinacional ArcelorMittal, avalia que a demanda pelo produto vai aumentar lentamente. Ele não crê que os preços do aço vão dobrar, mas certamente irão retornar a níveis saudáveis para o sistema como um todo. “O cenário de 2008 era absurdo e sinaliza a catástrofe que acabou acontecendo”, disse o executivo.
A ex-Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) trabalha, como outras brasileiras, para reativar seus três alto-fornos para elevar a oferta de aço, já que sua capacidade de produção encolheu 50% com a crise. Dois altos-fornos, com maior capacidade, sofreram cortes de 20% na produção no final do ano passado e um terceiro, menor, foi paralisado e encontra-se em reforma. Baptista espera que a partir de julho os dois equipamentos maiores que estavam operando a 80% da capacidade voltem a 100%. Estes equipamentos respondem por 6,2 milhões de toneladas de aço da empresa, que tem capacidade total de 7,5 milhões de toneladas. O terceiro alto produz em situações normais 1,3 milhão de toneladas de aço, mas só retornará a operar no segundo trimestre de 2010.
A expectativa do presidente da ArcelorMittal Tubarão é fechar o ano com uma produção de 5 milhões de toneladas de aço, na forma de placas, reduzindo o nível de ociosidade da empresa de 50%, no início do ano, para 33%.
Para Marco Polo Mello Lopes, vice-presidente executivo do IBS, o maior problema é a falta de mercado externo. ” A melhoria interna é gradativa, mas insuficiente para preencher o volume que era exportado, cerca de um terço da produção do país. Esse mercado sumiu”, disse, apontando que em maio somaram 593 mil toneladas, com queda de quase 10% sobre abril. No ano, os embarques ainda sofrem uma retração de quase 40%. “O consumo total do país, neste cano, deverá cair 23%, para 18,7 milhões de toneladas, em linha com a previsão mundial da Worldsteel”, comentou
A empresa também está aumentando a capacidade de laminação de 2,8 milhões de toneladas para 4 milhões de toneladas anuais. No dia 11, entrou em operação na usina de Serra (ES) um segundo forno de pré-aquecimento de placa. “Com isso, estamos prontos para atender a qualquer aumento da demanda por laminado a quente no país, pois vamos elevar, a partir de agosto, a oferta de bobina a quente em quase 50%”, disse Baptista
Apesar da crise, a Arcelor Brasil, uma das unidades mais rentáveis do grupo, continua tocando investimento de US$ 128 milhões numa segunda linha de galvanização apta a fazer 300 mil toneladas na unidade Vega do Sul, em Santa Catarina. “Hoje, a Vega tem capacidade de 500 mil toneladas para os setores automobilístico e linha branca. Com isso, nos preparamos para atender a qualquer alta da demanda de produtos planos no Brasil e na América do Sul nos próximos três anos”, disse. A Arcelor é a segunda maior fornecedora de aço para ao setor automotivo do Brasil, perdendo só para a Usiminas.
O grande nó da recuperação do mercado de aço é que as siderúrgicas poderão levar mais tempo para retomar a oferta do que podem prever seus clientes, entre os quais construção civil, automotiva, máquinas e equipamentos e bens eletrodomésticos. Quando dos cortes de 50% na produção, os consumidores estavam superestocados, o que indica que a demanda não caiu na mesma proporção, de 50%. Foi menos, observa uma fonte do setor. Logo, se houver uma defasagem entre oferta e demanda, poderá surgir uma “bolha” de preços que pode estimular uma corrida ao produto pela cadeia de clientes.
O economista Germano Mendes de Paula concorda que já a partir do segundo semestre a situação dos negócios poderá melhorar para a siderurgia e não há motivo para os preços continuarem em queda. “As usinas vão vender mais e ficar em situação melhor que no primeiro trimestre, pois já há preços de referência para;minério;e carvão, mas não estarão rindo à toa”, observa. Ele constata que a ociosidade as empresas baixou de 50% para uma média de 40%, mas este é um resultado médio. “Não está todo mundo caminhando pra a mesma direção”. E lembrou que quem está sustentando o mercado de aço ainda é em grande parte a China, seguida do Oriente Médio. De 1,18 bilhão de consumo aparente previsto para este ano pela Worldsteel no mundo, a China responderá por 404 milhões de toneladas.
Valor Econômico