Províncias minerais terão ano difícil
06/04/09
Anderson Luís AraújoDa Redação
Segundo a doutora em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maria Amélia Enriquez, é certo que a desordem econômica mundial já está colocando os municípios mineradores paraenses em situação difícil. Com a crise, ela acredita, deve cair bruscamente a receita das cidades que se sustentam praticamente apenas do repasse da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cefem). A queda nas exportações e a consequente redução na produção de minérios são certamente fatores decisivos para reduzir os chamados “royalties minerais”. “Além de reduzir o volume de receita, aumentará a demanda social devido ao desemprego e ao aumento da procura pelos serviços públicos por essa população sem fonte de renda”, analisa a estudiosa.
A economista, cuja tese de doutorado faz uma ampla e profunda reflexão sobre a mineração no Estado, afirma que este efeito maléfico da crise nos municípios de perfil minerário é reflexo de uma política incorreta para a aplicação dos recursos conseguidos com os royalties. Em seus estudos, Maria Amélia levanta o dinheiro repassado pelas empresas às cidades quase nunca cumprem sua função original: servir para diversificar a economia local. Ela diz que, geralmente, a compensação financeira por explorar os recursos do subsolo se transforma em receita para custeio da máquina pública. “É uma forma errada de gerir o recurso. Se fosse aplicado da forma correta, seria essencial como salva-guarda em um momento difícil e prolongado de crise, como o que estamos passando”, comenta.
Ela diz que, em algumas cidades, a situação deve estar mais grave, como em Vitória do Jari, no Amapá. “Lá, quase a totalidade da Cefem é usada como custeio para administração municipal”, afirma. Nas cidades paraenses, ainda não é possível medir com precisão quais esses efeitos, no entanto, a redução da produção já levou ao cancelamento de contratos com empresas terceirizadas e se fala em dez mil desempregados no setor.
O desemprego traz um “efeito dominó” difícil de administrar, segundo Maria Amélia. A desocupação reduz a circulação de dinheiro, aumenta a demanda nos serviços públicos e, por tabela, os gastos com a gestão municipal. “Crescem as despesas em um momento que o município tem uma receita menor por conta da redução de repasse da Cefem, o que é um problema sério”, avalia a pesquisadora.
Por outro lado, Maria Amélia analisa que o setor mineral tem boas chances de se recuperar com mais rapidez. Ela não concorda com análises sobre o preço das comodities que se limitam a comparações com os valores praticados poucos meses antes da crise. Segundo a pesquisadora, observando uma a evolução histórica das cotações dos principais minérios da pauta, os preços praticados estão longe de chegar ao “fundo do poço”. A crise ainda não conseguiu, por exemplo, baixar as cotações para níveis menores do que em 2000, o ano de recuperação da crise asiática.
“É preciso ter cuidado na hora de fazer esse tipo de análise e olhar uma série histórica de resultados. O País tem algumas condições que nos coloca em vantagem diante de outros países, como a Rússia, que sucumbiu ao ataque especulativo. Uma delas foram as reservas feitas ao longo dos últimos cinco anos. Isso não nos protege da crise, porque é um fenômeno em que está provocado seu efeito global. Mas, não fossem esses vantagens seria muito mais danoso. Está ruim, mas seria catastrófico se o País não estivesse com sua economia estabilizada”, pondera.
A posição das grandes empresas mineradoras de manterem mais de R$ 23 bilhões em investimentos no Estado é uma sinal de que os investidores acreditam nos “fundamentos econômicos do Brasil”, diz Maria Amélia. As condições que mantiveram o País longe da falência enquanto perdura a crise ainda são motivos para insistir no Estado, cujas jazidas minerais guardam um minério de excelente qualidade, objeto de desejo de clientes como a China. São eles, os chineses, que continuam comprando minério de ferro, mesmo na turbulência e mantendo os bons níveis de exportação de gigantes como a Vale. Os resultados continuam avaliados como excelente pelo menos nesse item – o número um da pauta de exportação paraense.
Nas indústrias de transformação, a crise ainda está longe do final
Aguardando melhores ventos, o setor mineral continua reagindo à crise como se portou desde o início do abalo na economia mundial: a indústria de base permanece se segurando com a exportação do minério de ferro e as indústrias de transformação vem amargando uma situação cada vez mais crítica. O diretor do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Estado do Pará, Mauro Corrêa, afirma que a queda na exportação é brutal, comparada com o ano passado. “A única opção é esperar pelo retorno dos compradores e negociar um preço menor na cotação do minério de ferro”, assinala.
Corrêa explica que das 11 siderúrgicas instaladas no Pará, somente duas continuam funcionando. A Cosipar e Sidepar mantém as atividades, mas muito aquém dos resultados observados nos primeiros meses do ano passado. O diretor aponta que em janeiro desde ano foram exportadas apenas 19.737 toneladas de ferro gusa e em fevereiro 34.989. À primeira vista parece um crescimento, mas, quando colocado diante dos números de 2008, o número demonstra que a crise é uma realidade: no ano passado o Pará exportou 241 mil toneladas no primeiro mês e 115 mil no segundo. “Conseguimos manter uma boa média de 150 mil toneladas/mês até setembro passado, quando precipitou a crise”, ressalta.
A redução se mostrou cada vez mais agressiva ao longo dos meses, depois da desestruturação da economia em escala mundial. Em outubro, na primeira queda, foram exportados somente 103 mil toneladas; em novembro, caiu para 62 mil toneladas; e, em dezembro, o Estado exportou somente 37 mil. “Infelizmente, ainda não há sinalização de melhora para o setor. Vendíamos tudo para o mercado americano, que está fechado e não temos absorção interna do produto. Estamos negociando ainda a redução da cotação do minério de ferro para os patamares praticados no início do ano passado. O preço alto está dificultando a estabalização das siderúrgicas”, pontua. O resultado, segundo Corrêa, está na redução da atividade a níveis nunca antes vistos: mais de três mil demitidos e empresas paralisadas, férias coletivas e outras medidas paliativas enquanto a crise não recua. (ALA)
Cotação do minério de ferro segura a pauta de exportações do Pará
Na indústria de base, o minério de ferro apresentou variação positiva nos dois primeiros meses deste ano, com aumento de 32% em relação ao ano passado. O único entre os nove produtos da pauta de exportação mineral que conseguiu tal façanha. O conjunto corresponde a 86% de tudo que é exportado no Estado, segundo do diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) no Pará, André Reis. Os outros importantes itens caíram. A exportação de caulim declinou em 34%; a de cobre, em 76%; e a de bauxita, em 63%.
André Reis detalha que o crescimento nas exportações está ligada a constante demanda chinesa, que ainda é grande e a cada ano tem sido maiores. Para se ter ideia, no ano passado, no primeiro bimestre o Pará vendeu 3,7 milhões de toneladas para a China. Neste ano, com todos os rumores da crise, o volume cresceu para 5 milhões de toneladas. “Havia o receio de reduzir as vendas devido ao grande estoque chinês de mais de 193 milhões de toneladas de minério de ferro, guardados em portos e siderúrgicas. Mas, cinco meses depois, os chineses continuam importando muito.
O diretor do Ibram comenta ainda que as perspectivas continuam otimistas, uma vez que os estoques dos principais compradores está acabando. “Isso reduz o poder de barganha e melhora a cotação do nosso produto”, sublinha. Quanto a redução brusca na venda dos outros itens, ele diz que isso produz sim desestabilização do setor, porque houve redução não apenas na quantidade exportada, mas também nos preços praticados.
Otimista, o representante do Instituto pontua que o movimento que reduziu a oferta do minério, como a queda na produção e a paralisação de pesquisa em busca de novas minas, é um fator determinante para mais adiante melhorar a cotação do produto. André Reis observa também que até fevereiro deste ano, a indústria extrativa de minério não apresentou saldo negativo no geração de empregos. A diferenção entre admissões e demissões é de apenas um posto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego. André ressalta que em todos os Estados o resultado foi negativo, menos no Pará. “É pouco, mas indica uma estabilização, mínima que seja”, pontua. (ALA)
O Liberal – PA