Projeto de US$ 6,8 bilhões da Vale impulsiona crescimento de Canaã
03/03/11
Mineradora atrai moradores para o município, que cresce rápido, sem conseguir planejar ocupação
Na AvenidaWeyne Cavalcanti não há vagas para estacionar. A principal via de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, viu omovimento aumentar após a instalação da mina de cobre Sossego pela Vale, em 2004, num movimento parecido com o da conterrânea Parauapebas.
O asfalto chegou à principal zona comercial de Canaã depois que a mineradora pavimentou 21 quilômetros no município em 2005. A avenida recebeu lojas, semáforos e trânsito. A última medição feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica 1,2 mil veículos e 2,1 mil motocicletas em 2008 ? a frota jovem nas ruas denuncia aumento dos números nos últimos meses. ?Há um ano havia bem menos carros aqui?, diz a secretáriade administraçãoCynthiaBittencourt.
A falta de vagas na avenida reflete a prosperidade trazida pela mineração. E, com ela, a ocupação desorganizada por uma população que cresceu mais de 150% emuma década, saindo de 10,9 mil, em2000, para 26,8 mil, em 2010. ?Há cada dia chegam de duas a três mudanças?, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Ribamar.
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A maior parte das pessoas migra para Canaã por causa da promessa de prosperidade representada por um novo projeto da Vale. A mineradora investe US$ 6,8 bilhões para instalar, na parte sul da Serra de Carajás, a mina S11D, na qual pretende produzir 90 milhões de toneladas de minério de ferro a partir de 2015. Carajás, maior mina a céu aberto do mundo, produziu 101 milhões de toneladas no ano passado em sua parte norte, instalada em Parauapebas, cidade vizinha a Canaã. ?Carajás demorou 30 anos para produzir o que vai ser produzido aqui. Depois da implantação da S11D, o orçamento crescerá bastante?, afirma o prefeito Anuar Alves da Silva (PDT).
Segundo Silva, o município pode receber uma grande fornecedora de peças de reposição para máquinas e equipamentos, além de dois hotéis e um shopping center. ?A prefeitura tem toda a disposição de oferecer os ncentivos necessários?, diz.
Problemas
O Produto Interno Bruto (PIB) de Canaã cresce em ritmo chinês. A geração de riqueza quase dobrou de 2007 para 2008, saltando de R$665,6 milhões paraR$1,271bilhão. Arenda per capitadeR$48,7 mil, em 2008, foi cinco vezes maior que a da capital Belém, de R$9,79 milnomesmo ano.
Os números, contudo, não fazem de Canaã um paraíso. Até 2005, a cidade tinha na pecuária sua principal atividade econômica. Agora, enfrenta problemas típicos do crescimento sem planejamento. ?Os índices de criminalidade e prostituição em algumas áreas sãomaiores que emBelém?,diz o presidente do núcleo paraense do Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Sindical (Cepas), Raimundo da CruzNeto.
O prefeito reconhece as deficiências. ?Temos problemas de moradia, saúde e educação. Tem muita gente vindo e não temos estrutura para recebêlas. Espero que a Vale ajude nisso?, diz Silva. Ele afirma que a mineradora reformou o hospital municipal, construiu duas novas escolas e tem organizado cursos profissionalizantes.
O presidente do sindicato de trabalhadores rurais, porém, discorda da passividade da prefeitura. ?A Vale não tem a obrigação de fazer nada?, afirma Ribamar. Selgundo ele, a compra de terras pela mineradora está levando famílias do campo para a cidade sem qualquer orientação do poder público. ?Muita gente deixa a zona rural e acaba marginalizada?, afirma.
A coordenadora da Fundação Vale para o sudeste do Pará, Aline Torre, diz que antes de comprar terras a empresa faz um estudo de impacto populacional. Ela ressalta que os projetos na região contam com Parcerias Sociais Público Privada, elaboradas junto com o município prevendo o crescimento local. A executiva diz tambémque a mineradora auxilia a prefeitura a obter financiamento para a construção de mil habitações, sendo 900 delas pelo programa Minha Casa, Minha Vida.
Empresa discute novo planejamento com a prefeitura
Por prever o impacto do aumento populacional em Canaã dos Carajás, a Vale está auxiliando a prefeitura na revisão do plano diretor do município. Segundo Aline Torre, coordenadora da Funda Vale no sudeste do Pará, o plano atual foi elaborado com auxílio técnico da mineradora.
?O plano poderia durar mais tempo, mas em função da dinâmica da região ele merece uma atualização?, diz. A executiva ressalta que a companhia também ajudou Canaã na confeção de um planejamento detalhado de rede de esgoto e paviementação. Agora o esforço tem sido para auxiliar na obtenção de financiamento diante do Ministério das Cidades.
?Fizemos projetos para buscar recursos no governo federal, porque muitas vezes o município não tem técnicos preparados ou desconhece as linhas de financiamento?, observa.
A empresa também diz orientar a prefeitura a obter financiamento para conjuntos habitacionais. Outro foco da Fundação Vale, segundo sua coordenadora, é a formação de mão de obra. Em 2010, o programa da mineradora fomou 366 pessoas em Canaã dos Carajás
Brasil Econômico