Primeiro superímã com terras-raras do país nasceu em Minas
16/11/16
Método de isolamento dos minerais é dominado pelos chineses
Um cubo de 3 centímetros de lado foi provavelmente o primeiro ímã artificial construído com elementos minerais conhecidos como terras-raras sem nenhuma participação chinesa. Ele foi feito no Brasil, recentemente, em experiência laboratorial que integrou diversas instituições públicas e privadas, desde a extração do mineral, passando pelo isolamento das terras-raras do minério bruto, a formação de metais e ligas, até a composição do superímã ? como é chamado o ímã artificial.?Já está grudando, quase como o dos concorrentes!?, escreveu, em e-mail a colegas do projeto, Paulo Wendhausen, professor à frente do Grupo de Materiais Magnéticos (Magma) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).O experimento exige aperfeiçoamentos, mas foi um passo na conquista de tecnologia indispensável para criação de produtos complexos como smartphones, carros elétricos e turbinas eólicas. Esse mercado pode significar US$ 1 bilhão ao ano em um horizonte próximo e uma maior autonomia e competitividade da indústria nacional, explica o professor Carlos Alberto Schneider, da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi).A base desses ímãs são as terras-raras, que existem no Brasil, são conhecidas há tempos, mas nunca antes isoladas dos minerais, como fazem os chineses, que dominam a tecnologia. Só no passado mais recente, foram feitos aqui investimentos para isolar esses elementos. A CBMM, companhia localizada em Araxá, no Alto Paranaíba, já investiu R$ 80 milhões na planta-laboratório para separar as terras-raras de outros elementos de sua jazida, como o ferronióbio, que já é vendido mundo afora.O método envolve elementos químicos e processos físicos para separação dos componentes, resultando nos elementos terras-raras isolados, com aspecto de areia. Segundo Tadeu Carneiro, presidente da CBMM, como o pirocloro extraído em Araxá traz o nióbio junto com as terras-raras, parte do custo de investimento já é coberto pelo primeiro minério, que tem mercado cativo, o que barateia sua extração. ?O custo de extração é negativo. Ele está mesmo é na tecnologia?, disse.Apesar da conquista, a construção de superímãs a partir de terras-raras no país é uma tentativa que avança a passos lentos desde 2010. A iniciativa envolve governo federal, o Estado de Minas Gerais e a Certi, em parceria com a UFSC e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo.?É uma felicidade saber que chegamos ao objetivo, pelo menos do ponto de vista laboratorial: ?Temos um ímã feito com terras-raras brasileiras. Com monazita de Araxá, com concentração e separação da CBMM, com redução no IPT e produção do ímã na UFSC. Sinto orgulho?, escreveu ao grupo Fernando Ladgraf, diretor-presidente do IPT.Produção
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Em Araxá encontra-se a mina de pirocloro, o insumo de onde se extraem o nióbio e as terras-raras. A CBMM detém 80% da produção de ferronióbio do mundo.
?Minérios do futuro? pedem investimentoPara saltar do laboratório para as indústrias e abocanhar um mercado de US$ 4 bilhões por ano dominado pela China, o processo demandará investimentos. Empresas como WEG, Siemens e Bosch acompanham as experiências brasileiras na criação de superímãs.Para o governo brasileiro, o nióbio e as terras-raras são considerados ?minérios do futuro?, que deverão ganhar políticas específicas. Segundo Miguel Nery, diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o governo vem trabalhando para promover a integração da cadeia das terras-raras no médio prazo para enfrentar o monopólio chinês.?Explorar esses ativos e processá-los, agregando valor, gera empresas e empregos para fazer carros elétricos, turbinas eólicas, entre outros produtos para os quais, hoje, o mundo depende dos chineses?, disse Carlos Alberto Schneider, da Certi.Flash?Made in Brazil?. ?O nióbio é o único produto mineral em que o Brasil é campeão mundial, porque toda a tecnologia foi desenvolvida a partir daqui?, disse José Fernando Coura, presidente do Instituto Brasileiro da Mineração. Em breve, deverá ser concluído projeto para construção de uma fábrica com custo estimado de R$ 80 milhões e capacidade de processar até cem toneladas de ímãs por ano.
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O Tempo