Preços de não-ferrosos em queda. Mas a alta vem logo
25/06/07
A queda observada no preço dos principais metais não-ferrosos (cobre, níquel, alumínio e zinco) não deve ter impacto na redução dos preços de produtos das indústrias de bens de consumo e da construção civil, que dependem dessas commodities. Para consultores ouvidos pelo Diário do Comércio, a queda da cotação dos não-ferrosos não será duradoura, e voltará a ser aquecida no segundo semestre com a necessidade das indústrias de repor estoques.
A queda na cotação dos não-ferrosos é atribuída a uma movimentação normal do mercado, que tenta se preservar dos altos valores atingidos por essas commodities. O cobre, metal que tem influência na formação de preço de outros não-ferrosos, vinha mantendo preços altos desde o ano passado, e atingiu o pico de valor de U$ 8,2 mil a tonelada no início de maio. Com isso, as indústrias que usam o metal preferiram queimar seus estoques próprios, o que preservou o volume do mercado, e fez o preço cair para os patamares atuais, de US$ 7,4 mil a tonelada segundo a London Metal Exchange (LME), bolsa de referência para o mercado.
De acordo com o consultor da banca de commodities do Banco Standard, Luiz Manreza, como a demanda por cobre não diminuiu, principalmente por parte da China, os estoques internos das indústrias estão chegando a seus limites. “Esses estoques terão de ser repostos, o que fará a busca pelo metal reaquecer rapidamente, e os preços vão voltar a subir”, diz Manreza.
Além da influência da cotação do cobre, o preço de alguns metais não-ferrosos oscilou negativamente devido a situações pontuais, como no caso do níquel. Recentemente esse metal teve queda recorde na LME, de 7,2%, sendo cotado a US$ 37,5 mil a tonelada em Londres no último dia 22. Em maio, o níquel tinha preço de US$ 51,8 mil a tonelada.
A queda na cotação do níquel, segundo o sócio-diretor da consultoria em metais M.Flocke, Marcus Alberto Flocke, foi reflexo de mudanças no critério de negociação do metal na LME. “Empresas com posições compradas na bolsa precisam emprestar níquel ao mercado pelas regras de Londres. Recentemente, a quantidade a ser emprestada foi alterada, e o mercado está se acostumando com a nova situação”, diz Flocke.
Outro fator que influenciou a queda do níquel foi o anúncio de que a China reduziria a demanda pelo metal. Mas, segundo Flocke, como a demanda chinesa por aço inoxidável ? que consome um terço da produção mundial de níquel para ser fabricado ? ainda é alta para 2007 e 2008, o preço do metal voltará a se recompor.
Especulação ? Apesar de a queda na cotação dos não-ferrosos se estender por cerca de 10 dias, os preços desses metais continuam elevados. E, na opinião dos consultores, irão continuar nesses patamares porque a demanda está aquecida e os estoques no mercado continuam baixos. Além desse fator, a especulação no mercado de commodities continua garantindo forte liqüidez.
Segundo o consultor do Banco Standard, antigamente era só oferta, demanda, estoque e condições macroeconômicas que regulavam o preço dos metais. Hoje, esses componentes foram “apimentados” pelos especuladores, que migraram do mercado de juros para o mercado de commodities. Essa migração ocorreu porque, enquanto a maior economia do mundo, a norte-americana, entrava em recessão e o dólar desvalorizava, as commodities ganhavam peso com a necessidade de investimento em infra-estrutura dos países emergentes, o que acarretou aumento da demanda por metais. “Isso fez os preços se desviarem dos fundamentos (oferta, demanda, estoque e condições macroeconômicas)”, diz Manreza.
Tigres ? No início desta década, as commodities de metais passavam por uma situação recessiva pela baixa demanda, o que fazia seus preços de venda ficarem bem próximos dos valores de produção. Mas, por volta de 2003, o mundo começou a crescer, puxado pela China.
A necessidade chinesa, e de outros emergentes, por adequar as infra-estruturas para suportar o crescimento de suas economias, aqueceu a demanda por metais, muito usados na construção civil. Então, os preços começaram a disparar até os patamares atuais. “Nesse período, as mineradoras enriqueceram, usaram essas riquezas para fazer aquisições e deixaram um pouco de lado os investimentos que aumentassem a produção, o que poderia elevar os estoques e baratear os preços”, diz Manreza.
Brasil ? O País tem aumentado a produção de não-ferrosos. A recente aquisição da mineradora canadense Inco pela Vale do Rio Doce fez com que a multinacional brasileira, pela primeira vez na história, passasse a produzir mais metais não-ferrosos do que ferrosos. Hoje, 44,6% das extrações da empresa correspondem a não-ferrosos, frente a 41,8% dos ferrosos. Antes da aquisição da canadense, as commodities não-ferrosas correspondiam a 5,2% da produção da Vale.
Nos primeiros cinco meses do ano, a produção brasileira de níquel foi de 14.046 toneladas. As exportações do metal atingiram no período 6.212 toneladas e as importações 2.160 toneladas. No caso do zinco, a produção no período foi de 107.480 toneladas, as exportações chegaram a 21.387 toneladas e as importações a 14.005 toneladas. Os dados consolidados são do Instituto de Metais Não-Ferrosos (ICZ).
Já a produção nacional de alumínio primário registrou expansão de 2,9% no mês passado em relação a maio de 2006, atingindo 141,8 mil toneladas, conforme números da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Diário do Comércio – SP