Preços altos escondem perdas nas exportações
26/02/08
O saldo da balança comercial na quarta semana de fevereiro alcançou um déficit de US$ 81 milhões. Motivo: as importações no período foram de US$ 3,74 bilhões, média diária de US$ 749,8 milhões, quando as exportações atingiram só US$ 3,66 bilhões, média de US$ 733,3 milhões. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, frente a este resultado, informou que o último déficit semanal foi na terceira semana de maio de 2002, quando o saldo negativo bateu em US$ 31,3 milhões. Esse fato deve ser contraposto ao anúncio, também dessa semana, de que a Companhia Vale obteve reajustes de 71% para o minério de ferro de Carajás e de 65% para as demais jazidas. A Vale justificou o aumento explicando que aumentou sua produção, de 2000 a 2007, em cerca de duas vezes, enquanto a China, a maior consumidora externa, aumentou a produção de aço em cinco vezes nesses anos. A maior dificuldade da empresa era sustentar investimentos que acompanhassem esse sensível crescimento de demanda.Há uma crença consolidada entre alguns analistas da corrente de comércio brasileira de que os preços em alta das commodities garantem um ganho nas relações de troca do Brasil com outros países e tudo indica que este aumento de preços tende a ser uma tendência bem mais longa do que antes era previsto. Nessa visão, o recorde no preço de comodities, em um País que as mantém como base da pauta, representa incremento adicional para o ingresso de dólares na balança comercial. Por essa razão, esses analistas esperam um superávit de cerca de US$ 28 bilhões, apenas pela alta no preço das comodities.Essa visão da corrente de comércio não é única. O Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) entende que há um `efeito ilusório` nos bons resultados do comércio exterior porque do total de 16% do aumento das exportações no ano passado, 11,5% referemse a aumento de preços e somente 5% significam incremento de volume. A Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) confirmou certa continuidade dessa tendência ao mostrar que as exportações de janeiro registraram aumento de 20,7% em relação ao mesmo mês de 2007, mas apenas 0,2% de subida quanto ao volume embarcado. Nessa perspectiva, como ressaltou a Fiesp, os saltos nos preços das comodities se convertem em bons dividendos para os acionistas, mas não se transformam em postos de trabalho nas linhas de produção.A observação do perfil da pauta de exportação revela uma situação não exatamente tranqüila para os produtos com maior valor agregado. A indústria automobilística brasileira já apresenta certa contenção no saldo da balança comercial, com as importações do setor superando as exportações. Os dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex) indicam, por exemplo, que a Volkswagen do Brasil, a maior exportadora da indústria automobilística, reduziu em 30,11% o saldo comercial da empresa no ano passado, que foi de US$ 1,497 bilhão em 2006 e registrou 1,046 bilhão. O declínio foi provocado pelo aumento das importações que saltaram de US$ 783 milhões em 2006 para US$ 1,079 bilhão em 2007.O argumento apaziguador em torno do crescimento das importações, produto da valorização do real, é de que esse aumento é essencialmente composto pela sadia compra de bens de capital. Como mostrou pesquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entre setembro e novembro do ano passado, as importações ganharam significativa aceleração, que aumentou ainda mais em dezembro e alcançou o índice de 46% a mais do que o importado em janeiro de 2007. É verdade, como também mostrou o Iedi, que em janeiro deste ano, as importações dos bens de capital aumentaram 56% em relação ao mesmo mês de 2007. A contribuição desse segmento para o salto na composição total das importações brasileiras foi de 21%.O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, analisou o déficit no saldo da balança comercial como um `problema conjuntural` e não uma tendência, insistindo em que o valor das compras externas subiram pelo petróleo e pelo trigo adquirido da Argentina, sem tocar na questão da desvalorização do dólar. O ministro reiterou que uma nova política industrial do governo será anunciada logo após a aprovação do orçamento da União no Congresso. É promessa relevante, mas que exige uma definição prévia, estratégica, do governo sobre qual é a prioridade quanto ao perfil da pauta exportadora. Algumas tendências se consolidam e elas não sugerem a expansão, como política de governo, a exportação de maior valor agregado.
Gazeta Mercantil