15/10/08

SÃO PAULO – Siderúrgicas e companhias de mineração estão rumando para uma nova rodada de negociações de preços em meio a um ambiente de enfraquecimento da demanda de aço e abundantes estoques de minério de ferro. O quadro mina as chances de um acentuado aumento nos preços da commodity em 2009.
As negociações devem ser intensas e amargas, afirmam analistas. Enquanto as siderúrgicas devem pedir por queda nos preços as mineradoras vão pressionar para conseguir um reajuste considerável.
Mineradoras australianas conseguiram quase que dobrar o preço dos contratos de fornecimento de minério de ferro entre 2007 e 2008 diante de um quadro em que as siderúrgicas correram em busca da commodity para atender à demanda por aço de países emergentes, particularmente da China, o maior consumidor.
Mas a situação não deve se repetir ano que vem por causa do cenário econômico fraco, enquanto o mercado vai lentamente se afastar do mecanismo de estabelecimento de preços para contratos de longo prazo, afirmam analistas.
Os preços do minério de ferro devem ficar estáveis nas negociações dos preços de contratos anuais de 2009, de acordo com a mediana de previsões de uma pesquisa da Reuters com 15 analistas.
– Por causa da fraca indústria do aço, é muito difícil buscar um aumento de preços no momento – disse Nick Hatch, diretor de pesquisa, metais e mineração no ING.
– Com a desaceleração econômica e a demanda na China também parecendo desacelerar, há certamente mais chances de quedas de preços que aumentos no próximo ano – acrescentou.
O maior grupo siderúrgico do mundo ArcelorMittal foi um dos primeiros a anunciar planos de corte de 15% na produção e a maior produtora de aço da Rússia, Severstal, também foi pelo mesmo caminho. A segunda maior fabricante de aço da Europa, Corus, também sinalizou que vai se adequar a uma demanda mais fraca.
Demanda fraca e estoques abundantes de minério também deixam as siderúrgicas chinesas de joelhos. Quatro grandes siderúrgicas chinesas concordaram em cortar produção em 20% na semana passada.
Analistas continuam divididos se clientes asiáticos concordarão em um aumento de preço de meio de ano pedido pela Vale em meio a tal ambiente de demanda.
Siderúrgicas chinesas criticaram duramente o pedido da Vale para um aumento de preço adicional de 12% a 13% de modo que seus preços FOB possam ficar em linha com os pagos por produtoras de aço da Europa. Os clientes chineses ameaçaram parar de comprar da mineradora.
A diferença de frete entre o minério de ferro brasileiro e australiano levou a uma rara divergência no preço de referência dos contratos anuais e ampliou discussões sobre mecanismos alternativos de preços ao tradicional sistema de definição de referência em que a conclusão da primeira negociação de contrato anual define os valores para o restante da indústria.
A Rio Tinto informou que parou de fechar novos contratos tradicionais de longo prazo e que vai vender mais minério no mercado à vista. Enquanto isso, a BHP Billiton, que simpatiza com o sistema de referência, informou que começou a usar o mercado de minério de ferro à vista.

JB Online / Reuters