Posco desenvolve substituto do níquel
09/05/07
O anúncio feito recentemente pela sul-coreana Posco, terceira maior usina de aço do mundo, de ter desenvolvido uma nova tecnologia para fabricar aço inoxidável sem usar níquel – num processo alternativo envolvendo manganês e nitrogênio – , pode reduzir a demanda pelo cobiçado metal no momento em que suas cotações estão registrando picos históricos acima dos US$ 50 mil a tonelada. Na avaliação feita por Anindya Mohinta, analista do JP Morgan, em relatório sobre aço inoxidável divulgado semana passada, se a fórmula alternativa da Posco vingar, o manganês pode vir a representar uma ameaça ao níquel, já que a China pode se tornar uma beneficiária do novo processo. O país pode ser o primeiro grande produtor de aço inoxidável a migrar da fórmula atual do níquel-carbono para a tecnologia sul-coreana. A China é importante produtor de manganês e suas ligas.A Posco está testando seu novo produto este ano e tem planos de colocá-lo no mercado em 2008, numa produção inicial de 120 mil toneladas anuais. Nos cálculos de Mohinta, só neste primeiro passo pode haver uma redução da demanda global por níquel de cerca de 10 mil toneladas anuais (assumindo que se trata de substituir um aço inox com teor de níquel de 8% a 9% pela nova liga). Neste cenário, a inovação pode alterar significativamente as regras do jogo do mercado de níquel, avalia o estudo. “Se os fundamentos de mercado não causarem uma correção nos preços do níquel, acreditamos que a inovação pode se encarregar disso”, afirma.Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia, reconhece o esforço da Posco em busca de alternativas ao alto preço do níquel. Segundo ele, a siderúrgica consome 150 mil toneladas do metal por ano. Mas, vê o caso da sul-coreana como mais uma busca de novas ligas para produzir inox com menor conteúdo de níquel.”Desde o ano passado, as siderúrgicas vêem tentando mudar o mix da fórmula do inox com séries de menos conteúdo do metal. O objetivo é um só: reduzir o teor de níquel da liga, para que pese menos nos seus custos”, disse Mendes de Paula. Ele explicou que o aço inoxidável é classificado por séries como 200, 300 e 400, dependendo do teor de níquel. A série 300 (austenítica) é a mais comum e a que tem mais teor de níquel. A 200 substitui o níquel por cromo e a 400 (ferrítica) em geral não tem níquel ou só uma presença irrisória. Ele reconhece que se os grandes grupos siderúrgicos fabricantes de inox não estivessem fazendo este esforço de investir em novas tecnologias, o preço do níquel teria subido ainda mais, já que a produção atual não vem sendo suficiente para cobrir a demanda, num cenário de estoques baixos. No relatório do JP Morgan, são mencionadas novas tecnologias de fabricação de aço inoxidável sem níquel cujo desenvolvimento já foi tentado pelos japoneses e pelos suíços. Estes últimos procuraram alternativas para usar o aço inox com baixo teor de níquel em aplicações médicas, devido a alergia que o metal causa no corpo humano. Neste caso, o fórmula continha 18% de manganês, 18% de cromo e 0,6% de nitrogênio. Para garantir a estabilidade química da substância os suíços colocaram um pequeno conteúdo de níquel no produto final de apenas 0,05%. Mendes de Paula não crê, porém, que estas novas ligas possam levar a uma derrocada do mercado de níquel, cujo consumo alcançou 1,3 milhão de toneladas em 2006. Para ele, é tudo questão de tempo. “A mudança do mercado exige uma nova percepção do consumidor para gerar resultado. É preciso ajustar toda cadeia produtiva, o que não acontece do dia para a noite”, concluiu.A Companhia Vale do Rio Doce , que após a compra da canadense Inco – a segunda maior mineradora de níquel do mundo em 2006 – tornou-se a maior produtora internacional desse matéria-prima, não mostrou preocupação com a notícia da Posco. Em conferencia telefônica para analistas, na sexta-feira, quando comentou seus resultados do primeiro trimestre do ano, a mineradora argumentou que os custos inerentes à substituição de materiais necessários à adequação para tal tecnologia são altos, o que pode inviabilizá-la.
Valor Econômico