Pó de sílica ameaça a saúde de 537 mil trabalhadores de Minas
06/12/10
Mineração lidera ameaça à saúde no Mapa da Silicose
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Minas Gerais é o segundo estado com maior concentração de profissionais expostos à poeira de sílica, capaz de produzir doenças respiratórias graves, entre elas a silicose. São Paulo lidera o ranking nacional, indica pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde. Dos 6,1 milhões de pessoas com carteira assinada no território mineiro, 537 mil (8,7%) estão sujeitas a inalar o pó prejudicial à saúde. ;
O mapa da exposição à sílica no Brasil foi desenvolvido pela professora Fátima Sueli Neto Ribeiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisadora analisou os principais setores a expor os brasileiros à doença, entre 1985 e 2007. A mineração lidera o risco de contaminação entre as atividades econômicas de Minas Gerais. ;
Nada menos que 67% dos trabalhadores do setor mineral, no Estado, podem contrair a doença ao inalar o pó de minério. Enquanto no Brasil o percentual de operários expostos caiu nos últimos 22 anos, passando de 62,4% para 52,2%, em Minas a chance de contaminação aumentou. Em 1985 o índice era 62,4%. ;
No país, o risco ronda 3,1 milhões de operários formais. Mas o número deve ser ainda maior, reforça Fátima. Considerando-se os trabalhadores informais e autônomos, a exposição dobra. ?Há estudos mostrando que cerca de 6 milhões de pessoas estão expostas à inalação contínua de sílica no Brasil?, aponta. ;
Não há estatísticas oficiais sobre a silicose, mas ela é uma das principais causas de invalidez entre as doenças respiratórias ocupacionais. Projeção feita pela pesquisadora, baseada em atendimentos nos serviços de referência do Rio de Janeiro, indica que Minas teria mais de 4.800 doentes nos dias de hoje. O Hospital das Clínicas da UFMG também desenvolve um trabalho para catalogar pacientes com o problema que deram entrada na instituição, nos últimos 25 anos.;
Sob a coordenação da médica Ana Paula Scalia Carneiro, os dados iniciais apontam que a maioria dos casos é de pessoas que trabalham na informalidade, sem vigilância médica e cobertura previdenciária, o que faz com que o diagnóstico seja tardio. O estudo deve ficar pronto em um ano.;
O pó inalado pelos trabalhadores da mineração deixou marcas em todo o Estado. Em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, operários da extinta Mineração Morro Velho ? incorporada pela Anglo Gold Ashanti, uma das maiores produtoras de ouro do mundo ? brigam na Justiça para receber compensação financeira pelo sofrimento causado pela doença.São cerca de 1.600 pessoas à espera da indenização. Nos últimos anos, mais de 5 mil acordos foram feitos, diz o presidente do Sindicato dos Mineiros de Nova Lima e região, Marcelino Antônio Edwirges.;
Enquanto aguarda a sentença, Orozimbo Maurílio de Brito, 77 anos, passa a maior parte do tempo deitado na cama, em Ibirité, na RMBH. Respirando graças a um balão de oxigênio, ele perdeu mais de 15 quilos e não se locomove sozinho. Durante 17 anos, foi maquinista na mina. ;
Afastado por invalidez, Geraldo Bosco Vasconcelos, 47 anos, está constantemente em hospitais, fazendo exames e o controle da silicose. ?Já fui internado várias vezes e passei por uma cirurgia no pulmão. Não consigo mais respirar?, diz Geraldo, que trabalhou na mineradora por quatro anos e meio. Um acordo com a empresa garantiu a ele R$ 30 mil, há mais de dez anos. Hoje, recebe R$ 860 de aposentadoria. ;
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) alega que a exposição à silicose praticamente não existe nas grandes empresas de mineração. Mas admite que a maioria das mineradoras no país é de médio e pequeno porte. ?Vamos mostrar a elas a importância de terem uma gestão de riscos para evitar problemas futuros?, garante a coordenadora do programa ?Mineração de segurança no trabalho?, Cláudia Pellegrinelli. ;
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