Paranapanema acerta a dívida
20/12/06
Vera Saavedra Durão20/12/2006
A Paranapanema se prepara para estrear no Novo Mercado, convertendo ações preferenciais em ordinárias e fazendo uma oferta pública de papéis (OPA). A oferta primária, no valor de R$ 400 milhões, deverá ocorrer no primeiro trimestre de 2007, coordenada pelo banco UBS, conforme apurou o Valor. A operação faz parte do processo de reestruturação societária e financeira da companhia, que acontece depois de dois anos de negociação. Acordo para quitar a dívida de R$ 1,2 bilhão da holding com seus debenturistas (os próprios acionistas) foi assinado ontem com Previ, Sistel, Aerus, Petros e o BNDES.
O acerto entre as partes prevê pagamento de metade da dívida (R$ 600 milhões) e conversão da outra metade em ações da Paranapanema, o que vai ocorrer em duas etapas. Na primeira, serão pagos aos debenturistas R$ 200 milhões, com recursos oriundos do caixa da holding, e convertidos R$ 200 milhões. Na segunda, será feito a OPA de R$ 400 milhões para pagar os debenturistas, que converterão os outros R$ 400 milhões em ações da empresa. Este processo pode durar até nove meses.
A cada debênture paga, outra será convertida. O valor da conversão será o mesmo do preço fixado para venda da ação no mercado na oferta pública. Este preço será determinado pelos próprios investidores através de “bookbuilding”. A expectativa de fontes ouvidas pelo Valor, é de se chegar a um número muito próximo da cotação do papel na Bovespa.
No futuro, o valor de mercado do grupo Paranapanema (que possui 71 milhões de ações) pode dobrar, ante os atuais R$ 1,9 bilhão. Tudo vai depender do preço da ação fixado no “bookbuilding” para a oferta pública e para a conversão das debêntures em ações. Em princípio, a colocação de papéis no mercado pode elevar o percentual de capital em poder do público, hoje situado próximo dos 30%. Os controladores, com quase 70%, podem ter sua participação encolhida para cerca de 60%, enquanto o BNDES, até agora grande debenturista e pequeno acionista, pode ampliar sua presença no capital da empresa de 0,82% para até 12%, conforme cálculo preliminar.
Atualmente, a Previ é a maior acionista isolada da Paranapanema, com 49,18% do capital da holding. Junto com Sistel, com 8,63%, integra o bloco de controle da companhia. O fundo Aerus detém 10,48%, a Petros, 2%, e a Telos, 0,6%.
Depois da reestruturação, a Paranapanema pretende garantir maior visibilidade ao seu papel negociado na bolsa paulista. Nos anos 80, quando o estanho valia quase ouro, a companhia chegou a ser “blue chip” no mercado de capitais brasileiro, mas perdeu atratividade total nos anos 90.
Com a nova conformação societária, a companhia terá mais musculatura, contando com o BNDES como acionista de peso e ganhando como sócia, após a reestruturação, a americana Cornell Capital Partners, especializada em financiar companhias com recursos de investidores. Em contrato assinado recentemente com o grupo Paranapanema, a Cornell se compromete a capitalizar a empresa em R$ 80 milhões através da compra mensal de ações em 24 meses.
Criado em 1996, por um pool de fundações sob a liderança da Previ, o grupo Paranapanema tornou-se o sonho frustrado dos fundos de pensão de criar a maior mineradora privada de não-ferrosos do país. Suas áreas de negócio focavam principalmente cobre, estanho e zinco. De 73 empresas que constituíram inicialmente o grupo, 30 foram fechadas logo, outras vendidas. A Paraibuna, de zinco, foi vendida ao grupo Votorantim.
Hoje, a holding tem debaixo do seu guarda-chuva apenas quatro empresas operacionais, que não estão envolvidas no processo de reestruturação. A Caraíba Metais, produtora de cobre eletrolítico, é a maior das quatro. As outras três são Eluma, que fabrica tubos e conexões de cobre e outras ligas; Mamoré Taboca, que produz estanho e minerais industriais, e Cibrafértil, fabricante de ingredientes para fertilizantes.
Durante sete anos, desde sua fundação, o grupo atravessou crises financeiras provocadas em parte pela queda do preço dos metais no exterior, passando a operar com patrimônio líquido negativo em R$ 70 milhões. Para minorar esta situação, a holding fez uma primeira emissão de debêntures em 1996. Mas, até 2003 esse títulos foram sendo sucessivamente trocados em cinco emissões seguidas, com os juros sempre capitalizados, aumentando o seu valor e gerando o débito acumulado de R$ 1,2 bilhão, que agora se pretende zerar. Somente em 2004, quando teve seu primeiro lucro, a Paranapanema começou a pagar juros aos debenturistas.
Desde então, a holding saiu do vermelho impulsionada pela valorização das commodities no mercado internacional, aumento de produção e um rígido corte de custos introduzido na gestão do atual presidente executivo, Geraldo Haenel, contratado pelos fundos para reestruturar o grupo. Haenel, engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo (Poli/USP), tem no seu currículo reestruturações da Cica, Riocel e Bacell.
O mercado tem acompanhando as mudanças da Paranapanema nestes três anos, nos quais vem registrando os melhores resultados de sua história. No terceiro trimestre de 2006, o grupo obteve um lucro consolidado de R$ 54 milhões, acumulando ganho de R$ 166,5 milhões até setembro, e o caixa da companhia, em R$ 193 milhões, garantindo recursos para pagar a primeira tranche de R$ 200 milhões aos debenturistas.
De julho a setembro, a receita líquida atingiu R$ 1,08 bilhão no terceiro trimestre, alçando a Paranapanema ao patamar das empresas que faturam R$ 1 bilhão por trimestre. No acumulado até setembro, a receita consolidada do grupo somou R$ 3,04 bilhões, podendo fechar o ano com faturamento acima de R$ 4 bilhões, um valor recorde.
As ações da holding têm acompanhado o bom desempenho do grupo. No ano, a ação PN atingiu valorização de 65,94% e a ordinária 114,49%, com as cotações de ontem atingindo os maiores valores dos últimos dez anos. A ON fechou a R$ 29,90 e a PN a R$ 26,80. O “gap” entre as ações ON e PN sinaliza que os dois tipos de papéis estão num movimento de aproximação, o que poderá facilitar a migração de PN para ON.
A unificação da ação faz parte do pacote de regras de governança para as companhias entrarem no seleto clube do Novo Mercado da bolsa paulista.
Valor Econômico