03/03/11

Mineradora canadense Colossus, que está presente apenas na Bolsa de Toronto, planeja capitalização para extrair 33 toneladas do metal no antigo garimpo
O artesão Ivan Batista reproduz emminiaturas os tempos áureos do garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis (PA). Ele ganha a vida reconstituindo, em pedras pintadas de dourado, a mina que na década de 1980 recebeu mais de 40 mil garimpeiros. Batista vende as peças a turistas e, com o lucro, compra pedras preciosas e ouro para revender. Sempre umas poucas gramas. Pouco para quem sonhou enriquecer. ?Peguei 80 quilos de ouro, mas investi tudo no garimpo porque queria pegar uma tonelada?, afirma.
A corrida do ouro em Serra Pelada, como Batista viu, não se repete mais. A exploração agora entra em uma etapa industrial comanda pela canadense Colossus Minerals. Nascida como empresa júnior na Bolsa de Toronto em 2006, quando levantou US$ 150 milhões para investir no Pará, a mineradora negociou com a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) uma área de 100 hectares. Com isso, obteve o direito de explorar o núcleo subterrâneo próximo à antiga cava do garimpo (veja gráfico ao lado). Em contrapartida, a Colossus cedeu 25% da Serra Pelada Companhia Mineral, a empresa criada por ela para o projeto, à Coomigasp, que também receberá um bônus pré-fixado sobre a produção.
A empresa agora instala uma estrutura subterrânea para extrair 33 toneladas de ouro e 20 toneladas de paládio e platina da região. A reserva será acessada por um túnel que terá cerca de quatro quilômetros de extensão e até 400metros de profundidade. Mas, enquanto as escavações de acesso à reserva aurífera avançam com a ajuda de uma escavadeira apelidada de tatuzão, o presidente da mineradora indica que o projeto não será o único da Colossus no país. ?Esse é o nosso primeiro projeto, mas estamos de olho abertos para novas oportunidades no Brasil?, afirma Randy Reichert.
O executivo descarta abrir o capital da Colossus em bolsas fora do Brasil. Reichert indica como mais provável o desembarque na BM&FBovespa. ?Estamos investigando o que podemos fazer. Ainda somos pequenos para ir à Bovespa,mas estudamos alternativas?, diz.
Desafio é desmitificar garimpo
Famoso internacionalmente por ter sido o maior garimpo a céu aberto do globo após documentário da inglesa BBC ? que cunhou, em 1983, o apelido de ?formigueiro humano? a ? a região vive do passado. A vila de Serra Pelada abriga cerca de 6 mil pessoas em barracos próximos ao lago de 170 metros de profundidade formado pela inundação da cava do garimpo.
O lugar é isolado do centro de Curionópolis, cidade de 18 mil habitantes a cerca de 120 quilômetros de Marabá, principal município do sudeste parense. O único acesso à vila é por uma estrada de terra de 35 quilômetros, recentemente reestruturada pela Colossus. A reforma foi uma das ações da empresa para se aproximar dos moradores. ?É uma honra continuar a história de Serra Pelada. Estamos levando isso a sério?, diz Reichert.
O tom diplomático do executivo revela o quão delicado é estar em Serra Pelada. Isto porque a parceria com a Coomigasp não é consenso entre os cerca de 40 mil associados da cooperativa. ?Para nós, não é bom. Eles vêmaqui, cercam a terra e vendem o ouro. A gente não recebe nada?, diz Antônio, garimpeiro ainda em atividade que, como sobrenome, prefere dar o apelido de Seu Careca, como é conhecido na região. A manifestação é uma mistura de protesto e de fantasia que ronda Serra Pelada. Os garimpeiros ainda acreditam ser possível encontrar pepitas com quilos de ouro.
O diretor de geologia da Colossus,Darci Lindenmayer, garante que o metal se encontra hoje em pequenos fragmentos, quase em grãos. ?A jazida de Serra Pelada é pequena, o que aflorava na superfície era em uma área de 200 metros (de largura)?, diz.
O metal está diluído em rochas que serão processadas a partir de junho de 2012. A Colossus pretende moermil toneladas por dia para produzir 7,4 quilos de ouro ? cerca de 238 onças troy (barras de padrão internacional, com 31,1 gramas). Cada onça está cotada em US$ 1,4 mil, em média.
Parceria com a Vale
A Colossus firmou uma parceria com a Vale que define a possibilidade de compra do terreno onde fica a reserva aurífera de Serra Pelada. Com apenas 100 hectares sob seu domínio, a mineradora canadense precisou da parceria com a brasileira, detentora do direto minerário na região. Graças ao acordo, o projeto da Colossus pode ganhar uma sobrevida caso ela consiga confirmar a extensão do corpo mineral nos domínios da Vale. ?Firmamos um contrato preferencial até 2013, que define que, se encontrarmos reserva, temos o direito de compra da área?, diz o diretor de geologia Darci Lindenmayer.
A expectativa do executivo é pela confirmação de estudos prévios realizados pela própria Vale, que indica a continuidade da reserva. ?A Vale cedeu uma área onde estamos fazendo prospecção. Com certeza, a reserva continua?, afirma Lindenmayer.

Brasil Econômico