O País cresce se o BNDES investe na infra-estrutura
11/02/08
11 de Fevereiro de 2008 – debate sobre a possibilidade de o Brasil `descolar` de um eventual agravamento da crise econômica mundial ganhou uma variável relevante: os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cresceram 24% no ano passado em relação a 2006. Os aportes do banco alcançaram em 2007 o recorde de R$ 64,9 bilhões e para este ano a estimativa é superior a R$ 80 bilhões. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi enfático: `a economia vai crescer pelo ciclo que já está em curso`. De fato, as aprovações de projetos também bateram recorde no ano passado: R$ 98,8 bilhões, 33% a mais do que em 2006. Para o próximo triênio, a aposta do banco se mantém nos insumos básicos, mineração, siderurgia e papel e celulose, projetos para os quais o banco já reservou R$ 133 bilhões em carteira. No ano passado, os projetos de investimentos bateram em R$ 117 bilhões, uma expansão de 23% em relação a 2006. As consultas, por sua vez, atingiram o valor de R$ 126 bilhões, 20,5% maiores que as de 2006. Tais expectativas confirmam o acerto da análise do banco de que o ciclo `já em curso` sustentará a expansão da economia. O ponto essencial nesses desembolsos são os projetos destinados à infra-estrutura. No ano passado, as aprovações de aportes para este setor alcançaram R$ 46 bilhões, valor 104% maior do que os R$ 24 bilhões de um ano antes. Já os desembolsos no setor de infra-estrutura cresceram 62% na mesma comparação. O corpo técnico do BNDES informou que as três áreas líderes nesses investimentos, petróleo, gás e energia elétrica, devem continuar liderando os investimentos do banco. De fato, a principal demanda por empréstimos é da área de infra-estrutura, que respondeu por 40% dos recursos liberados. No ano passado, a energia dominou os investimentos pelos projetos de hidrelétricas de Estreito (Tocantins/Maranhão), Foz de Chapecó (Santa Catarina/Rio Grande do Sul) e Simplício (Rio/Minas Gerais). Merece registro, no entanto, que a área de indústria abrangeu R$ 26 bilhões em aportes do banco, uma valor aproximadamente 2% menor do que o dispêndio de 2006. O banco considerou que, excluindo exportações específicas, o setor de indústria teria alcançado uma expansão de 38% ante 2006. Essa conta revela na visão do banco avanços nos investimentos produtivos no setor industrial que, na visão do presidente do banco, ao lado dos aportes em infra-estrutura constituiriam um ciclo de investimentos em capital fixo `fundamental para assegurar estabilidade de preços a longo prazo`. É uma perspectiva otimista que, de certa forma, foi sustentada pelos números do IBGE, divulgados na sexta-feira, dando conta de que o setor de energia elétrica foi o que mais aumentou os investimentos em ativos fixos nos cinco últimos anos no País. Em 2007, segundo o instituto, esse setor alcançou expansão de 26,3% na compra de máquinas e equipamentos em relação ao ano anterior. Se a base de comparação migra para 2002, o setor alcança uma expansão de compra de máquinas de 145%. Não foi caso único. O IBGE mostrou que a produção de bens de capital para a indústria de construção também obteve forte aumento, de 18% na mesma comparação. Máquinas e equipamentos para peças agrícolas foi o setor que mais cresceu, 170,8% em relação a 2006. Em resumo, segundo o IBGE, a produção de bens de capital para a indústria, de modo geral, cresceu 16% no ano passado e acumulou um avanço de 49% nos últimos cinco anos. Esses dados oferecem a suficiente sustentação para a indústria que registrou em 2007 seu melhor desempenho para 2004. Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram que as vendas industriais no ano passado cresceram 5,1% ante 2006. Como apontou o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi), a liderança dos bens de capital na alta da produção industrial em 2007 confirma o conceito de crescimento sustentado. Que a produção industrial começou a apresentar desde o ano passado. E confirmado no forte crescimento da produção de bens de capital, superior à expansão da produção. Há, também, um outro aspecto essencial no novo perfil de desembolsos do BNDES. Vale lembrar que a pauta de importação de 2007 revelou o forte crescimento na compra de bens de capital, de 54% ante 2006. O presidente do banco considerou que o atual ciclo de investimento é uma oportunidade ideal para evitar que a demanda por esses bens `seja preenchida apenas por importação`. Corretamente , o BNDES avançou nos investimentos para a infra-estrutura. Porém, se o presidente do órgão deseja que bens de capital não sejam apenas importados, o setor industrial precisa obter maior atenção do banco.
Gazeta Mercantil