O importante papel de orquídeas e bromélias na reabilitação de uma área minerada
13/12/07
As epífitas são plantas que vivem sobre outras plantas, que se estabelecem diretamente sobre o tronco, galhos, ramos ou sobre as folhas das árvores, algo comum nas florestas tropicais, como a amazônica. São plantas de espécies como orquídeas e bromélias. Pois o cuidado que o pessoal da Mineração Rio do Norte (MRN), a produtora de bauxita instalada no município de Oriximiná, no oeste do Pará, tem com a reabilitação das áreas mineradas é tanta que essas plantas são reintroduzidas nas florestas adultas replantadas, levando em consideração a espécie da árvore de onde foi retirada. Ou seja, uma orquídea encontrada em uma castanheira, obrigatoriamente será fixada numa árvore da mesma espécie, numa ação considerada como um importante papel na recomposição da floresta.
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, reconhece que a mineração brasileira conviveu durante anos com o estigma de ser uma atividade poluidora e de deixar muitas áreas degradadas quando a exploração das jazidas terminava. Mas a evolução das tecnologias de exploração, a legislação ambiental e as pressões do próprio mercado estão contribuindo para mudar esse quadro.
?São muitos os casos de como a atividade mineral atua positivamente em relação ao meio ambiente. Este papel vai desde a recuperação dos locais onde se deu a exploração mineral, passando por experiências que contribuem para melhor destinação de resíduos até a preservação de áreas de interesse ambiental?, afirmou o presidente do Ibram. Sustentabilidade das áreas reflorestadas
De acordo com o gerente de saúde, segurança, meio ambiente e relações com a comunidade da MRN, Ademar Cavalcanti, a mineradora tem trabalhado na construção de um índice de sustentabilidade das áreas reflorestadas na Floresta Nacional Saracá-Taquera, onde a empresa está instalada. Para o seu desenvolvimento, têm sido pesquisadas variáveis referentes à dinâmica dos reflorestamentos, à fertilidade do solo e à presença de diversas espécies da fauna. ?Buscamos com isso potencializar as ações de melhoria do programa de reabilitação das áreas mineradas?, explica Cavalcanti.
Nesse sentido, a empresa tem, ao longo dos anos, identificado espécies potenciais à recuperação das áreas mineradas, produzido anualmente 500 mil mudas de 100 diferentes espécies arbóreas amazônicas e desenvolvido um programa de monitoramento das áreas reflorestas. O investimento anual bate a casa dos R$ 5 milhões, recurso que fez do programa da MRN referência mundial para recuperação de áreas mineradas.
Dados recentes apurados pelos pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal da Pará (UFPA), do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia mostram que a metodologia do reflorestamento feito pela MRN tem sido bem-sucedida. Áreas reflorestadas há cerca de 20 anos no platô Saracá – onde se encontra uma das três minas em atividade -, demonstram uma tendência evolutiva de integração das áreas reabilitadas ao ecossistema original, incluindo flora e fauna. ?Além de ser tema de teses e artigos em publicações científicas, a experiência da MRN serve de subsídio para outras empresas, agências governamentais e ONG?s que a utilizam na recuperação de ambientes alterados?, afirma Cavalcanti.
O engenheiro florestal Gentil Antônio Souza Júnior reforça que, daqui a alguns anos, quando se falar em projeto de recuperação de florestas tropicais, a tecnologia desenvolvida pela MRN servirá de referência. ?Hoje a MRN não produz apenas bauxita, mas também tecnologia?. Ele ressalta que já existe área recuperada que se transformou numa floresta similar à original. ?Se alguém desavisado visitar essa área, pensará que se trata realmente de uma floresta nativa?, acrescenta Gentil. Programa de reflorestamento
De 1981 a 2006, a MRN reflorestou cerca de dois mil e quinhentos hectares, o que representa 2.300 campos de futebol. O trabalho para recompor uma floresta, começa bem antes da bauxita ser extraída. O processo tem início com a compra de sementes em 15 comunidades ribeirinhas presentes na área de atuação da MRN. Mensalmente, os moradores recebem uma lista com a relação das espécies de semente a serem coletadas. Esta atividade envolve cerca de 100 famílias, o que gera renda e propicia melhoria das condições de vida dessas pessoas. Ao chegar ao horto florestal da MRN, essas sementes têm caminhos diversos. Parte dela é direcionada para o plantio em bancadas e depois transferida para saquinhos plásticos, quando já são mudas. Outra parte é estocada e uma terceira passa pelo processo de beneficiamento, para facilitar a germinação. Anualmente, o horto florestal produz meio milhão de mudas e adquire outras 150 mil de produtores da região, ação que também ajuda na geração de renda da população local. No reflorestamento, são usadas cerca de 100 espécies nativas da Amazônia. Plantas ajudam na recuperação do ecossistema
Após o decapeamento vegetal, uma equipe percorre toda a área recolhendo epífitas e identificando a espécie da árvore onde se encontrava afixada. As epífitas coletadas são levadas ao horto florestal, onde são classificadas e cultivadas. De 2001 até hoje, foram coletadas mais de 14 mil epífitas de 83 espécies, sendo 56 de orquídeas, 12 de bromélias e 15 de aráceas. Uma das raridades é uma micro-orquídea que, adulta, mede um centímetro.
Essas epífitas são reintroduzidas nas florestas adultas replantadas, levando em consideração a espécie da árvore de onde foi retirada. Ou seja, uma orquídea encontrada em uma castanheira, obrigatoriamente será fixada numa árvore da mesma espécie. Essa é uma ação que tem um importante papel na recomposição da floresta.
No processo de decapeamento do solo para lavrar a bauxita, a primeira camada, chamada de topsoil, rica em sementes, nutrientes e microorganismos, é removida e armazenada. Posteriormente, o topsoil é distribuído durante a preparação do solo das áreas que serão reflorestadas. O plantio é realizado de janeiro a abril, período do ano em que há maior volume de chuvas na região. As mudas são plantadas em espaçamento regular e distribuídas de forma aleatória na área. Cada hectare recebe em média 1.700 mudas, de 80 a 100 espécies diferentes. Para potencializar o crescimento das mudas, é adicionado ao solo adubo mineral e calcário. Caso 10% das mudas não sobrevivam, é feito um replantio, substituindo as espécies mortas por outras. Inteligência ambiental
O diretor de Assuntos Ambientais do Ibram, Rinaldo Mancin, destaca que os impactos ambientais da mineração são localizados e mitigáveis, uma vez que as áreas de mineração são bem pequenas. ?Se tentarmos comparar, por exemplo, com a produção de soja, para cada real gerado em um hectare com a mineração, seriam necessários no mínimo 30 hectares de soja para se obter os mesmos resultados econômicos?, afirma.
?Se num passado recente a inteligência ambiental estava no Governo e depois nas ONGs, hoje as empresas investem milhões em programas ambientais, contratam os melhores técnicos do mercado, compram os melhores equipamentos?, acrescenta Mancin.
Pará Negócios