Número de estrangeiros a trabalho dobra no Brasil
08/09/08
O sotaque, na maior parte das vezes, é carregado. Alguns trocam as letras ?r? pelo ?l?, ?a? pelo ?o? e, em muitos casos, sofrem ao pronunciar o ?rr? e o ?lh?. Quando vão começar a conversa, logo entregam: ?Eu non falar bem português. Se você falar bem devagarzinho, compreendo?. Mas a intenção de aprender e absorver a cultura é grande. Os estrangeiros que vêm trabalhar por aqui estão mais numerosos e enxergando o Brasil com outros olhos ? mais abertos e menos puxados. O país deixou de ser visto como lugar de praia, samba e futebol para se tornar a própria casa, onde vão fincar os pés e ganhar dinheiro.Leia mais:Hotéis e restaurantes de BH se adaptam a estrangeirosVisitantes buscam aprender a cultura localO crescimento da economia brasileira está motivando os estrangeiros a arrumarem as malas e desembarcar no país. No primeiro semestre deste ano, o número de autorizações para estrangeiros trabalharem no Brasil chegou a 18,2 mil, o maior em cinco anos, segundo dados do Ministério do Trabalho. O crescimento é de 45% em relação ao mesmo período de 2007. Se forem considerados os dados do primeiro semestre de cada ano, desde o início da série histórica, em 2004, o total de estrangeiros que veio trabalhar no Brasil quase dobrou. Passou de 9,3 mil para 18,2 mil em 2008.Em Minas Gerais, o número ainda está longe de alcançar os índices de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas cresce, pouco a pouco. Só no primeiro semestre deste ano, 607 pessoas de outros países vieram morar no estado, quase o mesmo volume de todo o ano de 2005. Alguns são empreendedores e escolheram o Brasil para fazer negócios. Outros chegam para trabalhar nas multinacionais. A siderurgia e a mineração são as áreas que mais atraem estrangeiros, com a descoberta das novas jazidas e a valorização do minério de ferro lá fora. Outros segmentos também começam a despertar a atenção de investidores internacionais, como o setor imobiliário, automotivo e de entretenimento. ?No Rio e em São Paulo, a vinda dessas pessoas está muito associada com a questão da exploração do petróleo no mar. Os técnicos estrangeiros já vêm junto com os navios?, observa Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de Imigração, do Ministério do Trabalho. Ele lembra ainda que, em Minas, as atividades de siderurgia e mineração captam mão-de-obra superior ou com formação técnica especializada, que vem repassar o conhecimento aos que vão ficar. Os chineses (onde eles não estão?) lideram a lista dos desembarques em território mineiro, seguidos dos americanos, franceses e italianos. O chinês Zhu Quiang faz parte do grupo que chegou a Belo Horizonte no primeiro semestre do ano. Em abril, inaugurou o escritório de representação da China Metallurgical Group Corporation, empresa no ramo da siderurgia e metalurgia. ?A China expandiu muito nesse setor nos últimos anos. Acumulamos muita experiência e queremos compartilhar com as empresas daqui?, afirma o empresário de Pequim. A Escola Americana só tem o nome e o diretor americanos. Seus 150 alunos são de 20 nacionalidades diferentes, estudando logo ali no Bairro Buritis, em BH. Nos últimos dois anos, o número de filhos de estrangeiros matriculados na escola cresceu 40%. ?As famílias brasileiras se misturam às de estrangeiros, que vêm trabalhar como diretores na Fiat ou estão ligados à mineração. Eles preferem dar uma educação internacional aos filhos, pois sabem que vão ficar de três a cinco anos no Brasil e que a próxima etapa pode ser em Dublin, por exemplo?, afirma Dawn Kelly, gerente de Marketing e Desenvolvimento da instituição. Há um ano e meio na função, ela própria notou diferença entre essa etapa e a última vez em que trabalhou no país, em 1990. ?Antes, eu nunca encontrava ninguém de fora aqui em BH. Agora, isso mudou?, compara. A holandesa Ingrid La Heij chegou há oito meses com a família em Belo Horizonte. O marido veio transferido por uma multinacional de eletroeletrônicos. Ingrid abre o sorriso quando vai falar de Minas. ?As pessoas são agradáveis e restaurantes são bons. Não tenho o que reclamar, nem do tráfego. ? Ela costuma se reunir todos os meses com grupo de mulheres de estrangeiros que trabalham na capital. Semana passada, levou a filha, Sofie, de dois anos. No encontro, trocam idéias sobre a educação dos filhos e a vida fora do país.
Estado de Minas