No atual cenário de crise, o caro pode sair barato
23/01/09
Mas, em meio ao grande grau de incertezas que permeia o cenário econômico, quem diz saber o que vai acontecer provavelmente está extrapolando sua capacidade de previsão econômica. Fosse o filosofo Sócrates um economista, hoje diria: “Só sei que nada sei”.
Em muitos textos sobre a crise em voga vemos sugestões como “aproveite as oportunidades, mas com cautela” ou “os ativos estão baratos, mas o risco continua alto”. Creio que os investidores fiquem confusos diante de frases com uma essência assim abstrata. Afinal, comprar ou não comprar? O objetivo aqui é tentar ajudar um pouco nesta decisão.
Antes de tudo, na atual conjuntura, é essencial manter alta liquidez. É aconselhável que pelo menos algo como 30% do portfólio esteja em fundo DI ou CDB pós-fixado com liquidez. Quando as aclamadas oportunidades aparecerem, será preciso ter liquidez para poder aproveitá-las.
Não se impressione com movimentos de alta. O mercado vai permanecer no vai-e-vem por todo o primeiro trimestre do ano. Aproveite este período apenas para fortalecer suas convicções. Em 2009, o melhor será comprar mais caro, mas comprar com maior certeza. Caso contrário, o barato pode sair caro.
O cenário geral é, sem dúvida, de melhora gradual do ambiente dados os pacotes de estímulo ao redor do mundo. Mas a intensidade destes pacotes nunca foi testada antes e a taxa de juros americana já está em zero, ou seja, não há certeza se todo o esforço vai funcionar e, se não funcionar, o susto será grande. Por outro lado, quando estiver mais claro que os estímulos governamentais foram eficientes, os ativos de risco – como a bolsa de valores, por exemplo – estarão mais caros. Porém, ainda terão pela frente um bom potencial de alta.
Outro ponto importante é a diversificação. Em um ambiente de incertezas e com o risco de eventos pontuais, a velha máxima de não colocar todos os ovos na mesma cesta vale como nunca.
Diversifique entre classes de ativos e, dentro de cada classe, tenha diferentes produtos. Na renda fixa, além de aplicações pós e pré-fixadas, tenha aplicações atreladas à inflação. As NTN-Bs ganham com a queda de juros reais, mas oferecem proteção caso a inflação suba (por exemplo, por conta da variação cambial). Além de títulos públicos, tenha um pouco de títulos privados de altíssima qualidade. Existem prêmios interessantes sendo pagos no mercado – acaba de sair emissão da Bradespar, holding da mineradora Vale, pagando 125% do CDI.
Na bolsa de valores, é comum ver preferência das pessoas físicas por carteiras mais concentradas. Mude! Aqui também vale a diversificação. O ideal é manter uma carteira com pelo menos dez papéis. Vale a combinação de empresas de setores considerados mais agressivos, como mineração, siderurgia, petróleo, e defensivos, a exemplo de alimentação, consumo, energia elétrica. Assim, ficam mitigados os riscos associados a eventos setoriais ou de empresas específicas. Mais uma sugestão: ao aplicar em fundos de ações, escolha aqueles pouco correlacionados ao Ibovespa, que tenham foco no longo prazo, pois eles procuram identificar ações que estão especialmente descontadas e, portanto, apresentam um potencial maior num horizonte mais amplo.
Entre os fundos multimercados, busque aqueles que usam estratégia de curto prazo ou “trading”. Apesar de a classe ter sofrido muito no ano passado, os que usam esta tática foram bem melhor. Por estarem focados em movimentos de curto de prazo, entram e saem com muita velocidade ao identificarem oportunidades de apostas. No ambiente de volatilidade elevada, esta estratégia é particularmente boa, pois permite ao gestor fechar apostas malsucedidas mais rapidamente que os demais, limitando perdas.
Finalmente, mas muito importante, só comprometa em sua carteira ativos de risco em um valor tal que, caso o mercado piore mais, não se sinta obrigado a vender e, portanto, o faça por emoção e não pela razão. Estamos num cenário em que nada melhor que um dia depois do outro para aumentar a convicção. Por ora, os investimentos devem seguir na mesma linha. E lembre-se: o caro deve sair barato!
Paulo Corchaki diretor de estratégia de investimento do Itaú Private Bank
E-mail: wms@itau.com.br
Valor Econômico