Nióbio de mineradora será 100% brasileiro
31/01/07
André Vieira31/01/2007
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Enéas Carneiro, o eterno candidato à Presidência pelo Prona, costumava berrar a plenos pulmões no horário eleitoral na TV: “O nosso nióbio está sendo vendido aos estrangeiros a preço de banana.”
Com a aquisição do grupo Moreira Salles da participação da americana Chevron na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), o nióbio é agora nosso. Ou melhor, 100% do controle está nas mãos do capital privado nacional. Até então, a CBMM era uma joint-venture entre o grupo nacional e a americana Molycorp.
A CBMM é considerada dona de mais de 90% da reserva mundial de nióbio, situada em Araxá (MG). Suas vendas operacionais líquidas foram de R$ 1,12 bilhão em 2005 e as exportações de US$ 462 milhões naquele ano. A empresa vende para mais de 40 países. A produção atingiu 38,8 mil toneladas de ligas de nióbio e quase 4 mil de óxidos.
O nióbio foi descoberto em 1801 pelo inglês Charles Hatchett, mas sua utilidade passou a ser reconhecida apenas nos anos 50 do século 20 por causa da corrida espacial. Por conta da forte demanda global por produtos siderúrgicos, o metal branco-acinzentado tem amplo uso. Por conferir características de rigidez e leveza, pode ser encontrado em tubulações para transmissão de gás sob alta pressão ou turbinas de aeronaves a jato, suportando bruscas variações de temperatura.
A história da CBMM é curiosa e envolve personagens importantes da cena brasileira. Inicialmente, a mineradora chamada Dema era controlada por um grupo de empresários de Minas Gerais. O geólogo Djalma Guimarães descobriu nos anos 50 a jazida de pirocloro, minério de onde se extrai o nióbio.
O primeiro impulso foi dado pelo presidente eleito Juscelino Kubitschek que ajudou a fechar um acordo com o empresário sino-americano K.L. Lee. Dono de uma empresa de mineração Wah Chang, dos EUA, a empresa fornecia tungstênio ao exército americano. A intenção do acordo era encontrar urânio, mas só achou-se nióbio na região.
Surge, então, a figura do ex-embaixador e banqueiro Walther Moreira Salles. Instigado pelo valor potencial do metal, ele adquiriu os direitos da empresa em meados dos anos 60 e começou a desenvolver a exploração do minério. José Alberto de Camargo, um executivo de confiança da família, ajudou a desenvolver novos produtos e abrir mercados, especialmente na Rússia e China. Camargo tem fortes laços com Luiz Inácio Lula da Silva: ajudou a financiar o Instituto da Cidadania, a ONG mantida por Lula nos anos 90, e as campanhas dele à Presidência. Em 2006, a CBMM doou R$ 500 mil à campanha petista. Atualmente, é dirigida por Fernando Moreira Salles, o filho mais velho do ex-embaixador, morto em 2001. Além de acionista minoritário, com 1,5%, Camargo trabalha como consultor.
A empresa tem um acordo peculiar com o governo de Minas Gerais. Um quarto dos lucros operacionais da companhia é entregue à estatal mineira Codemig por meio de uma conta de participação nos lucros. Os decretos permitem a exploração das reservas, de 457 milhões de toneladas. Em 2003, os acordos foram renovados por mais 30 anos. A atuação social – todos os 300 funcionários possuem casas próprias – e ambiental – mantém um parque nacional e criadouro de lobos-guará – é fortemente reconhecida. “Diante de uma mineradora tradicional, nem arranhamos o meio-ambiente”, afirma um assessor da CBMM, que pediu anonimato.
Valor Econômico