Mudança de condutas e práticas pode elevar a reputação do setor de mineração
12/09/19
Mais do que debater sobre os desafios da mineração brasileira, a Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM 2019) abordou o longo caminho que o setor deverá percorrer para reconquistar a confiança e a empatia da população, após os dois rompimentos de barragens ocorridos em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019).
O tema foi discutido no painel “Desafios da reconstrução da reputação da mineração brasileira”, nesta quarta-feira, 11. “A escolha dos participantes foi estratégica porque são as pessoas que não atuam na mineração e, por isso, podem nos apontar quais as falhas que o setor comentou e como podemos solucioná-las para reconquistar a confiança da população”, afirma o diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Paulo Henrique Leal Soares.
Segundo ele, o setor reconhece a necessidade de mudanças e está trabalhando para alcançar um nível operacional mais seguro. “Temos que transmitir à sociedade – e convencê-la – de que a indústria de mineração é capaz de aumentar a segurança operacional dos processos e, assim, evitar novos acidentes. Entendemos que reputação não pode ser comprada ou alugada, mas conquistada. Estamos trabalhando para que a sociedade volte a acreditar que estamos fazendo todo um trabalho para evitar novas ocorrências e estamos convictos de que isso depende mais da adoção de medidas práticas, que tenham resultados concretos do que de discursos e narrativas”, pontua.
Na EXPOSIBRAM, o Instituto anunciou iniciativas que demonstram o foco do setor com as mudanças positivas. Além da Carta Compromisso do IBRAM Perante a Sociedade, que teve seu conteúdo divulgado na cerimônia de abertura do evento, na última segunda-fera, 9, houve o lançamento do Guia IBRAM de Boas Práticas de Gestão de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos, bem como a assinatura do acordo de cooperação entre IBRAM e a Associação de Mineração do Canadá para implantar no Brasil a metodologia TSM – leia mais no Portal da Mineração – www.portaldamineracao.com.br
Pesquisa de reputação
Segundo uma pesquisa realizada pelo Reputation Institute, sob encomenda do IBRAM, a avaliação pública do setor não é positiva. Dos 450 entrevistados em todo o país, 74% registraram nenhuma ou pouca familiaridade e empatia com a mineração nacional. O nível de medo e desconfiança chega a 70%. A metade fez associações negativas com a atividade e 18% se referiram especialmente ao rompimento das barragens, como exemplo.
Segundo a diretora executiva do Reputation Institute, Ana Luisa de Castro Almeida, a retomada do setor passa, de forma obrigatória, pela reconquista da confiança perdida nos últimos anos e pela adoção de práticas que estejam em consonância com o discurso praticado pelas companhias. “É preciso esquecer o passado. Vivemos na era da indústria 4.0, onde as empresas são acompanhadas durante todo o tempo e em todos os seus aspectos. Elas estão mais expostas. No caso da mineração, o setor foi impactado pelo descompasso entre o que foi prometido e o que foi realmente realizado no caso de Mariana”, ressalta.
A jornalista e escritora Cristina Serra, autora do livro reportagem “Tragédia em Mariana”, lançado em 2018 com base no seu trabalho de campo e na coleta de materiais e documentos sobre o caso leu trechos da obra para demonstrar a quebra de discurso da mineradora Samarco em relação às consequências do rompimento da barragem para a comunidade local. “O discurso é perfeito, mas a prática deixou a desejar, o que comprometeu a percepção que as pessoas têm do setor”, ressalta.
Também participaram do painel o diretor executivo da Agenda Pública, Sergio Rodrigo de Andrade, a especialista sênior em setor extrativista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Natascha Nunes da Cunha e, ainda, o vice-presidente sênior da Mining Association of Canada (MAC), Ben Chalmers.