Movimento Mulheres na Mineração reivindica maior espaço e oportunidades no setor
15/03/21
A revolução da indústria mineral não engloba apenas processos, tecnologias e modelos de gestão. A relação entre as pessoas e a criação de um ambiente inclusivo e diverso são parte dessa pauta que tem no movimento Mulheres na Mineração/Women in Mining uma iniciativa canadense da qual o Brasil também faz parte, por meio da adesão de 20 companhias do setor. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, o tema ganhou espaço na pauta do Brazilian Mining Sessions 2021, no último 11 de março.
Segundo o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Flávio Penido, será divulgado em abril um relatório no Brasil, após um ano de atividades do Women in Mining Brasil (WIMBRASIL). “A pesquisa foi realizada entre novembro de 2020 e fevereiro deste ano e esperamos que os resultados inspirem mais empresas a adotar métodos concretos para abrir espaço corporativo para as mulheres. Hoje, elas são 44% do mercado de trabalho, sendo apenas 13% no setor de mineração. Queremos encorajar as mulheres para que possam alcançar melhores postos hierárquicos”, afirmou.
O vice-ministro assistente para as Américas, Michael Grant, enfatizou que empoderar as mulheres é a melhor forma de criar um futuro próspero. “O Canadá está comprometido em promover a inclusão no mundo corporativo para aumentar a participação de mulheres canadenses no mercado. Trabalhamos com uma política de abordagem feminista, inclusiva e de respeito aos Direitos Humanos”, ressaltou.
Entre as iniciativas já implementadas está o apoio aos negócios locais de empreendedoras e o empoderamento de mulheres indígenas para que possam participar de processos decisórios em suas comunidades. No caso da indústria mineral, a estratégia é chegar a 30% de colaboradoras no setor em 2030. Atualmente, são 16%.
Boas práticas
A presidente do Comitê de Diversidade e Inclusão da Brazil-Canada Chamber of Commerce (BCCC), Jamile Cruz, disse que o engajamento do governo canadense e do IBRAM em atrair e promover mulheres na mineração brasileira também tem alterado o panorama da cadeia produtiva do setor. “A proposta é criar um ambiente em que todos possam ser respeitados, se engajar e que as empresas e suas cadeias de suprimentos se comuniquem para permitir essa participação”, apontou.
A Nexa Resources foi uma das primeiras empresas a implementar as ações do movimento no Brasil. Segundo a conselheira geral da empresa, Renata Penna, a inclusão de mulheres é uma prioridade para os negócios e para o projeto de construção da mineração do futuro. “A diversidade traz uma transformação positiva”, apontou.
Em 2020, a mineradora criou o grupo Empodera, que desenvolve ações internas para aumentar a representação e desenvolver as carreiras das mulheres. Além de adaptar toda a infraestrutura para servir para uma população de 50% de mulheres nas plantas, a Nexa também criou um Comitê de Assédio Sexual, está analisando a porcentagem salarial de diferença entre homens e mulheres e tem um projeto especial de acompanhamento para as grávidas, que culminou na ampliação da licença maternidade de 98 para 180 dias. Há também uma atenção especial para a cadeia de suprimentos plural e incentivo ao empreendedorismo feminino.
A chefe de pessoal da Vale, Francinne Hansen, diz que a companhia também está engajada no mesmo propósito desde 2019, quando iniciou uma mudança da sua cultura de negócios. “Tivemos um 2020 maravilhoso em engajamento, focalização e atenção, com bons resultados na nossa força de trabalho. Fizemos campanhas de atração focadas em mulheres, campanhas internas para esse público para a indústria mineral”, listou.
Para tornar o ambiente mais atrativo, a companhia preparou sua liderança previamente, mudou uniformes, equipamentos de segurança entre outros, para criar um local favorável para a presença de mulheres.
A Kinross Gold Corporation também tem sido desafiada a criar uma cultura inclusiva e a ensinar seus líderes o que isso significa para os negócios. “Temos muito trabalho a fazer ainda. Parte importante de avançar é assumir responsabilidades. A cultura da inclusão tem que ser bem explicada, principalmente para as lideranças”, recomendou a vice-presidente de Recursos Humanos, Kathleen Grandy.
Brasileira que mora em Toronto, no Canadá, a vice-presidente responsável por toda a cadeia de suprimentos e aquisições da Yamana Gold, Cristina Bertoni, é a mulher que está à frente do movimento na companhia. “Entrei para a Yamana em meio a uma jornada variada de transformações, onde a diversidade e a inclusão sempre começam pelo topo. Hoje, 40% das cadeiras do Conselho são de mulheres e na alta cúpula somos 36%. Compreendemos que toda base para ter sucesso e inclusão tem que ser feita pela alta cúpula e está a nosso cargo promover as discussões”, reconheceu.
A empresa tem um projeto direcionado para a cadeia de suprimentos, com foco na inclusão de fornecedores locais, entre os quais, mulheres para as quais é oferecida a oportunidade competitiva de mostrar seus negócios. A Yamana também abriu um Fórum de Sustentabilidade de Mulheres, para deixar um legado para o futuro.
Inspiração
A fundadora e CEI da Artemis Project, Heather Gamble, empresa canadense que promove iniciativas para o atingimento das metas de desenvolvimento sustentável estipuladas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a questão de gênero, reconheceu que ainda há muito a fazer para que a força de trabalho feminina na mineração seja uma realidade no Canadá. “Em 2006, tínhamos 14% de mulheres nas empresas do setor e passados 16 anos, temos 16%. Com todas as iniciativas e esforços, não há dúvida que a gente vai chegar à meta de 30% em 2030”, disse otimista.
Uma das iniciativas do Canadá foi a criação de uma incubadora de negócios para mulheres empreendedoras que atuam na mineração que tem como objetivo fazer a ponte entre elas e as empresas.
Sobre – O evento “Brazilian Mining Sessions 2021” é uma série de palestras, realizadas online de 5 a 11 de março de 2021, que ocorreram paralelo à convenção anual Prospectors nd Developers Association of Canada (PDAC 2021). As palestras são voltadas para investidores e profissionais interessados no setor mineral brasileiro e e fazem parte da iniciativa BRASIL PDAC 2021, coordenada pela Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB) e pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (BCCC) sediada em Toronto, em parceria com Ministério de Minas e Energia e entidades do setor. O IBRAM e seus associados também integraram a comitiva brasileira no PDAC2021.
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*com informações fornecidas pela ADIMB.