Mineradoras investem em tecnologia para atender demanda chinesa
26/02/08
Para atender a alta no consumo asiático, empresas investem até na exploração de matéria-prima com baixo teor de ferro
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Léo Tavares/Divulgação
Mina de Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, na Região Central, receberá investimentos de US$ 50 milhões e ganhará sobrevida até 2013
O consumo voraz da economia chinesa derruba o tabu de que minério não dá duas safras. Minas Gerais prova o contrário. A procura pelo minério de ferro explorado na Região Central do estado é tão grande que a Vale já se prepara para uma terceira onda de aproveitamento da matéria-prima de baixo teor de ferro, encontrada em rochas que pareciam intocáveis. Um dos campos de teste para a nova tecnologia será Conceição do Mato Dentro, a 175 quilômetros de Belo Horizonte. Só agora o município ganha prioridade nos planos da companhia para atender os chineses e indianos. A Vale estuda a extração e o beneficiamento dos chamados itabiritos compactos, que têm teor de 42% de ferro e precisam passar por um processo mais caro para ser enriquecidos até estar prontos para a comercialização. Será um novo avanço tecnológico, revela Silmar Silva, diretor da área de ferrosos da mineradora no Sudeste e principal executivo da empresa em Minas. ?Nunca investimos tanto em pesquisa quanto nos últimos três anos, para acompanhar o crescimento da China, que não dá o menor sinal de arrefecimento?, afirma. A produção de minério de ferro da Vale no estado ultrapassou, ano passado, a meta de 200 milhões de toneladas ? foram exatas 203,118 milhões de toneladas ? um recorde, 12,2% superior aos números de 2006. A terceira onda de aproveitamento do minério de ferro mais pobre está próxima e vai chegar também a concorrentes da Vale, na opinião de José Fernando Coura, presidente do sindicato da indústria da mineração em Minas (Sindiextra). A primeira fase da lavra do minério de ferro em Minas começou com a extração da hematita, rica em ferro, com teor de 67%, que enfrentou a escassez depois dos anos 70. A segunda onda, desde então, está centrada nos itabiritos ?friáveis? (que se fragmentam com facilidade), com 45% a 50% de ferro antes de passarem por sistemas de tratamento que elevam esse teor a 65%. A Rio Paracatu Mineração, empresa do grupo canadense Kinross, conquistou fama ao explorar, com tecnologia de última geração, a jazida de ouro de Paracatu, no Noroeste de Minas, considerada a de menor teor no mundo.O projeto da concorrente Anglo American, que adquiriu recentemente o sistema Minas-Rio da MMX, erguida pelo empresário Eike Batista, envolve, da mesma forma, técnicas em Conceição do Mato Dentro para retirar minério pobre da terra e enriquecê-lo. ?O ciclo da mineração completou 300 anos em Minas e ainda temos um potencial enorme a ser explorado. Além das jazidas do quadrilátero ferrífero ? na Região Central ? há ocorrências ao longo de toda a Serra do Espinhaço e no Norte de Minas, onde as reservas nem foram medidas?, afirma José Fernando Coura. O reajuste de 65% a 71% dos preços de minério de ferro para 2008, que a Vale confirmou na semana passada, dão uma injeção aos novos projetos de exploração do ferro no estado. As pretensões da mineradora de repetir, em 2008, a mesma taxa de crescimento de 12% estão na direção do cenário observado pelos analistas de mercado. Denilson Duarte, analista de mineração e siderurgia da corretora Máxima Asset Management, viu no acerto dos contratos da Vale com clientes do Japão, da Coréia do Sul e da China a confirmação de que essas empresas prevêem aquecimento da economia mundial e têm condições de repassar o reajuste anunciado.
Estado de Minas