Mineradoras de ferro usarão sua força para segurar preços
06/11/08
Os preços do minério de ferro para 2009 deverão ter uma queda entre 15% e 20% devido ao novo cenário da demanda mundial forjado pela crise dos mercados financeiros que atingiu a economia real, principalmente dos países desenvolvidos. Essa é a visão de Magnus Ericsson, especialista do setor e sócio do Raw Materials Group (RMG), consultoria sueca especializada em mineração. Segundo Ericsson, que se encontra no Brasil para uma conferência patrocinada pela revista “Brasil Mineral” hoje, em São Paulo, as três grandes mineradoras de ferro – Vale do Rio Doce, Rio Tinto e BHP Billiton – certamente vão exercer seu poder de fogo para sustentar os preços do produto no próximo ano. Juntas, as três dominam cerca de 75% das vendas no mercado transoceânico da matéria-prima usada para fabricar aço. Depois da Vale, que já cortou 30 milhões de toneladas na produção, as suas rivais anglo-australianas deverão fazer ajustes na mesma linha. “Elas têm um forte poder para definir preços”. Na sua visão, as siderúrgicas, em especial as chinesas, vão tentar arrancar de suas fornecedoras de minério de ferro uma queda expressiva nos preços. Ericsson prevê dois anos de baixa para a matéria-prima e outros dois (2011 e 2012) de estabilidade. Somente a partir de 2013 retoma um novo ciclo de alta. Para ele, a crise não será um desastre completo, como apregoam, para a indústria de mineração. “Os mercados emergentes, como China, Índia e Brasil, sofrerão um baque na demanda bem menor que os desenvolvidos – EUA e Europa”. Para ele, as negociações em 2009 serão muito difíceis – de um lado, a força dos chineses; do outro, o poder das três mineradoras. O executivo da RMG observa que, de qualquer forma, o fim do ciclo de crise que começa agora será diferentes de outros, pois os preços estão num patamar bem superior ao de outros tempos. Outros fatores que levarão a um novo ciclo de alta em alguns anos é que os custos para explorar novas minas estão mais altos, as jazidas, cada vez mais profundas no subsolo, são descobertas em lugares mais distantes e de dificultosa logística. Além disso, seus teores metálicos são mais pobres. Para ele, a crise traz outro problema grave ao setor: os investimentos em exploração já estão em queda drástica. As chamadas `junior companies`, que respondem por cerca de 50% dos trabalhos de prospecção – são a linha de frente nas pesquisas geológicas -, tiveram os orçamentos reduzidos a quase a zero. De US$ 12 bilhões a US$ 15 bilhões de investimentos totais no setor, o montante já caiu para US$ 10 bilhões e poderá baixar ainda mais. Na mineração mundial, diz Ericsson, o segmento que deve sofrer menos é o de extração de ouro, pois trata-se de um metal precioso para o qual as pessoas correm em tempos de crise. É um porto seguro nessas horas. Já os metais de base, como zinco, chumbo e níquel, deverão conviver por um bom tempo com oscilações de preços. Além da apresentação de Ericsson, que focará os novos atores da mineração mundial, o evento da “Brasil Mineral”, que completa 25 anos, terá Luiz Manreza, do Standard Bank, que falará sobre o mercado de commodities minerais sob o impacto da crise mundial.
Intelog