Mineração, sustentabilidade e responsabilidade social
24/11/06
O conceito de sustentabilidade vem se espalhando cada vez mais no meio corporativo. Os números podem provar os investimentos e o empenho crescente das empresas em questões de ordem ambiental e social. Entretanto, mesmo com a melhor aceitação hoje do conceito, o desenvolvimento sustentável passa por um momento crucial. O desafio é trazer para o movimento um grande número de empresas que ainda não absorveu as noções de sustentabilidade em seus processos de produção. Obstáculo maior a transpor está em tornar realidade efetiva as medidas socioambientais que estão sendo propostas para a equalização de questões de grande complexidade que conformam as agendas ambientais e sociais. Conduzir os negócios atendendo às exigências da competitividade local e global, ao mesmo tempo contemplando conceitos de sustentabilidade, representa hoje um dos grandes desafios do setor empresarial comprometido com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável.
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Na realidade, o melhor dos cenários apontaria para o fato de que meio ambiente e responsabilidade social deveriam deixar de ser responsabilidade para se tornarem oportunidades. Os exemplos se multiplicam. Hoje em dia, até mesmo a tomada de empréstimo por uma empresa junto a instituição financeira, sofre influência direta de suas práticas e políticas de sustentabilidade, uma vez que a disponibilização de créditos ?politicamente corretos? está em alta. Cada vez mais os bancos dificultam ou até mesmo negam empréstimos a quem prejudica o meio ambiente ou não mantém uma boa relação com os empregados e premiam com linhas mais incentivadas, empresas que apresentam boa performance em projetos ambientais e de responsabilidade social. Assim, grandes bancos nacionais têm buscado adequar suas políticas de crédito a este novo contexto, abraçando causas que outrora eram exclusividade de organizações não-governamentais. A verdade é que as noções de crédito responsável derivam mesmo da atuação das ONGs, a partir do momento em que elas descobriram que não era suficiente apenas vigiar as grandes empresas, sem destacar uma especial atenção para quem as financiavas. Assim, os bancos passaram a ser alvos especiais de suas ações.
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Bons indicadores sociais e ambientais desempenham papel estratégico especialmente no caso de empresas com atuação transnacional. No Brasil, setores tradicionais que apresentam bom desempenho na balança comercial, como o agrícola e de mineração, tendem a ser mais cobrados, justamente por causa de sua maior inserção no mercado internacional, uma vez que seus processos produtivos são caracterizados por interações mais intensas entre meio ambiente e sociedade, muitas vezes conflituosas, conformando situações que poderiam gerar potenciais barreiras alfandegárias e não alfandegárias, impostas em razão da sustentabilidade ou não dos processos produtivos. Há que se considerar também que os investidores passam a analisar as contingências ambientais e sociais impostas às empresas como fatores de risco a serem embutidos nas operações, o que fatalmente faz elevar ou cair o rating de investimentos nessas empresas.
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Apesar de o Brasil ocupar uma posição de destaque no campo da responsabilidade corporativa, como aponta os dados da pesquisa da CNI, publicados em abril/2006, dando conta que 76% das empresas do setor já operam sistemas de gestão ambiental, e que também destas 35% destinaram investimentos a proteção ambiental em 2005, a verdade é que, infelizmente, um grande número de empresas ainda vê a responsabilidade corporativa com a simples publicação de um balanço social ou como a visita guiada de alguns estudantes em seus pátios.
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Mais do que nunca, o momento se mostra oportuno para uma ampla revisão de toda a estratégia corporativa no País. Algumas fases como o da ecoeficiência nos processos produtivos já ficaram para trás, sendo encarada hoje como obrigação básica de toda a empresa. Os desafios hoje são mais complexos, exigindo a integração de ações sociais, econômicas e de meio ambiente nas estratégias corporativas de cada empresa. Tal desafio ganha contornos mais agudos quando se analisa que, passados mais de 20 anos desde a inauguração do conceito de desenvolvimento sustentável, as tendências de degradação ambiental e enfraquecimento do tecido social ainda continuam acentuadas.
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A indústria da mineração vem mostrando avanços importantes no campo da ampliação da sustentabilidade de seus processos produtivos e da expansão de suas ações de responsabilidade social. Recentemente, o IBRAM promoveu um grande evento em Belém/PA, focado na discussão da responsabilidade social e ambiental da atividade na Amazônia. Contudo, muito ainda precisa ser feito, sendo este apenas o primeiro passo de um novo contorno que se busca atingir na indústria de mineração na Amazônia. Ganha corpo também no setor a adoção de abordagens ambientais inovadoras, como o mapeamento de emissões de carbono, a substituição de processos produtivos por outros de maior expressão ambiental e social, a adoção e patrocínio de unidades de conservação pelas empresas, implantação de conceitos de parceria público-privada para gestão ambiental integrada, dentre muitos outros.
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Neste novo contexto de gestão mais responsável, associada à busca de uma atuação mais responsável das empresas de mineração, amplia-se a compreensão de que o impacto da atuação dessas corporações transcende, em muito, a simples e imediata relação entre capital e trabalho. Mais que isto, as empresas se consolidam como vetores do desenvolvimento econômico e social, assumindo cada vez mais um papel que outrora era do Estado, de indutor e modelador da economia local, regional e mesmo nacional.
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São múltiplos os exemplos que emergem no setor de mineração de atuação responsável, que comprovam que vale a pena investir em responsabilidade social. Dentre esses, merece destaque o recente trabalho de mobilização liderado pela Embu S/A Engenharia e Comércio, tradicional empresa de agregados para a construção civil de São Paulo, que está contribuindo para tornar realidade a implantação do Parque Estadual Fazenda Tizo, localizado na confluência da Rodovia Raposo Tavares com o Rodoanel, que já está preservando 130ha de Mata Atlântica da melhor qualidade em plena Grande São Paulo, além de lançar as bases para um modelo de gestão compartilhada entre o setor produtivo e o poder público, para a gestão de unidades de conservação.
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Não há como pensar o futuro da mineração no Brasil dissociado da noção de sustentabilidade ambiental e social. As tendências apontam para o fato que a empresa que não adequar seus conceitos e visões nesses campos estará fadada a deixar o mercado no médio e longo prazo. As sociedades evoluem e as contingências ambientais e sociais se ampliam diariamente. Neste ponto ganha destaque a atuação de uma instituição como o IBRAM, que tem por estratégia de atuação antever as tendências, antecipar-se aos fatos, construir capitais coletivos e ordenar a visão do setor. O desafio é grande, especialmente porque a errática e a imprevisibilidade das coisas são fortes no nosso país, mas perfeitamente possível.
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*Diretor de Assuntos Ambientais do IBRAM