Mineração responde por um terço do PIB do Pará
11/10/11
Novas ocorrências minerais foram identificadas ao oeste do território,criando um novo vetor de crescimento, até então focado em Carajás
Entre 2009 e 2010, o faturamento da produção mineral do Pará dobrou, atingindo cerca de R$ 17 bilhões, o melhor resultado da história, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Esse montante representa 27% do total da produção brasileira, que fechou o ano passado com aproximadamente R$ 65 bilhões, outro recorde. A indústria mineral é a principal força econômica paraense, respondendo por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, que gira em torno dos R$ 58 bilhões – cerca de 2% do PIB nacional. No acumulado de 2002 a 2008, o PIB paraense cresceu 36,6%, colocando o Estado na 13ª posição do ranking econômico do País. A mineração foi responsável também pelo crescimento de 25% na criação de postos de trabalho no Estado. Por setor, a indústria extrativista tem a maior participação, com 65% da produção e a de transformação, 35%. Na divisão por commodities, o minério de ferro continua liderando o ranking, com 41% do total da produção, seguido pela
O ano de 2010 superou as expectativas do setor mineral também nas vendas ao exterior. No ano passado, a exportação de produtos minerais do Pará cresceu, em valores, de US$ 4,8 bilhões para US$ 8,5 bilhões, correspondendo a 86% do total vendido pelo Estado ao exterior. Minério de ferro responde por US$ 7 bilhões desse total e é o principal produto exportado pela indústria extrativa mineral do Pará, com 85 milhões t, tendo como destino prioritário a China, seguida pelo Japão, Alemanha e Estados Unidos. O cobre vem em seguida na pauta de exportações, com mais de US$ 700 milhões, depois manganês, com US$ 326 milhões, e caulim, com cerca de US$ 270 milhões. Já na indústria de transformação, o líder foi a alumina, com quase 5 milhões t exportadas, resultando no movimento de US$ 1,3 bilhão. Na segunda colocação vem o alumínio, com cerca de US$ 900 milhões, seguido do ferro gusa, com US$ 375 milhões em vendas.
A expectativa para este ano, segundo o Ibram, é que os negócios sejam ainda melhores e o crescimento de produção ultrapasse 10%. “O setor mineral receberá investimentos recordes. Até 2015, cerca de R$ 65 bilhões serão investidos na mineração”, afirmou recentemente Paulo Camillo Penna, presidente do Ibram. “Mineração é a base da economia paraense e está em expansão”, endossa Cassiano Ribeiro, diretor de Estudos Socioeconômicos do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp). O setor de mineração faz com que o Pará esteja entre os seis Estados brasileiros que mais exportam. “O sudeste do Estado é a região mais desenvolvida, onde está Carajás, a maior mina de ferro a céu aberto do mundo, mas uma nova fronteira vem se consolidando e envolve o oeste do Pará, no baixo Amazonas, próximo ao município de Trombetas. Novas jazidas de bauxita, de níquel foram descobertas. Há um potencial enorme ainda a ser desenvolvido no Estado”, avalia Ribeiro.
Com 7,58 milhões de habitantes, de acordo com os dados mais recentes do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), e extensão territorial de 1,25 milhão km2 – o segundo do País em tamanho -, o Pará possui diversos novos empreendimentos em andamento na área de mineração. Um deles é o Projeto do Alemão, de extração de cobre da Vale, localizada em Parauapebas, que deve entrar em operação em 2016. Até 2017 a companhia pretende produzir cerca de 1 milhão de toneladas – atualmente, a Vale produz 250 mil t de cobre por ano – e se tornar uma das maiores produtoras mundiais do minério. Diferente das minas de cobre de Sossego, em Canaã do Carajás, que são a céu aberto, a mina do Alemão terá exploração subterrânea. Além desse projeto, a Vale descobriu outros grandes depósitos de cobre na província mineral de Carajás: Paulo Afonso, Furnas e Polo, localizados entre Marabá e Parauapebas.
Projetos como esses fazem alavancar não apenas a receita estadual, mas também a arrecadação dos municípios que detém projetos minerais. Parauapebas é um dos que mais recebem. Em 2010 foram mais de R$ 230 milhões apenas de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), sendo que o município fica com 65% da receita total, conforme determina a legislação. Localidades mineradoras também garantem outras receitas a partir da indústria mineral. Os cinco municípios com melhor colocação na geração do valor adicionado do PIB do Pará abrigam atividades ligadas à indústria mineral, extrativa ou de transformação: Belém (R$ 15,3 milhões), Parauapebas (R$ 6,5 milhões), Barcarena (R$ 3,9 milhões), Marabá (R$ 3,6 milhões) e Ananindeua (R$ 3,1 milhões).
Já as cidades que obtiveram os maiores PIB per capita do Pará também têm a mineração em algum momento da sua cadeia produtiva: Canaã dos Carajás (R$ 48.639), Parauapebas (R$ 45.225), Barcarena (R$ 42.937), Tucuruí (R$ 27.564), Marabá (R$ 17.974), Oriximiná (R$ 16.982), Almeirim (R$ 15.325), Benevides (R$ 11.337), Ourilândia do Norte (R$ 11.146) e Belém (R$ 10.755). Todas elas com renda bem acima da média do PIB per capita do Pará (R$ 7.993). No aspecto da remuneração o setor também ganha pontos. Dados do Ministério do Trabalho, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2008, mostram que, entre os segmentos da atividade econômica no Pará, a indústria extrativa mineral obtém a segunda melhor média de remuneração mensal no Estado (R$ 3.021,88), perdendo apenas para as instituições de crédito (R$ 3.296,96), ainda assim por uma margem mínima. Já no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que mede desenvolvimento humano, econômico e social de todos os municípios brasileiros, das dez cidades melhor ranqueadas no Pára cinco possuem atividade ligada diretamente à mineração: Parauapebas, que lidera o ranking do Estado, Barcarena (3º lugar), Ananindeua (5º), Canaã dos Carajás (7º) e Marabá (8º).
Ao considerar os benefícios sociais e econômicos proporcionados pela atividade de mineração, especialistas afirmam que a arrecadação tributária tende a se multiplicar por dez nos municípios. Além disso, a atividade estimula o surgimento de novas oportunidades de negócios e empregos nas regiões produtoras. Parauapebas, com 153 mil habitantes, PIB de R$ 6,6 bilhões, o segundo maior do Pará, e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.741, é conhecido por conter a maior província mineral do planeta, a Serra dos Carajás. Mas tem se destacado também na expansão econômica dos setores de comércio e serviços. A cidade possui dois centros comerciais expressivos e um shopping center com mais de 120 lojas. “Parauapebas tem crescido continuamente na última década e, com os novos projetos previstos, deve manter ritmo forte de expansão econômica”, afirma Daniel Pereira Lopes, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Parauapebas. “Quando um projeto começa a ser implantado movimenta diretamente a economia local. No pico da implantação os negócios chegam a crescer em torno de 30% no município, impactando comércio, hotelaria, transportes”, revela Lopes. “O setor mineral fomenta direta e indiretamente o desenvolvimento de Parauapebas, a renda per capita melhora, os serviços públicos também, com impacto positivo em toda a cadeia produtiva”, acredita.
Mas nem só de aspectos positivos vivem os municípios que recebem grandes projetos. Os pontos negativos acontecem em dois momentos, lembra o dirigente da CDL. “Quando os investimentos são anunciados há um fluxo grande de mão de obra para a cidade, que, sabe-se, vai levar um tempo para ser absorvida. Isso cria um desequilíbrio. Assim como no final da implantação, quando sobra um contingente que não é totalmente reaproveitado. Isso aumenta a demanda sobre os serviços de saúde, educação e forma bolsões de pobreza. Por isso o planejamento é fundamental”, acredita Lopes.
Quem também teme prejuízo no futuro se o bom momento da economia baseada na extração mineral não for aproveitado é Oswaldo Luiz Machado, um dos pioneiros em Canaã dos Carajás. Nascido em Santo Anastácio, no interior de São Paulo, Machado se instalou em Canaã em 1977, quando a localidade era ainda um assentamento agrícola e pertencia a Parauapebas. Hoje ele é proprietário do principal hotel da cidade, o Lancaster, e vê com orgulho o desenvolvimento da cidade. “Nesses 30 anos Canaã dos Carajás cresceu vigorosamente, passando de uma colônia agrícola a um importante produtor mineral.
Principalmente a partir de 2004, com a implantação do projeto Sossego, que o município deslanchou”, afirma o pioneiro. “Mas temos de ficar atentos, pois no futuro as coisas podem não ser tão boas, com o inchaço da cidade e todos os prejuízos sociais que vêm junto a ele.” A economia de Canaã é voltada para a extração mineral, tendo a Mineração Serra do Sossego, subsidiária da Vale, para extração de cobre, como principal promotora do desenvolvimento econômico local. Sua população gira em torno de 30 mil habitantes, o PIB municipal é de R$ 1,27 bilhão e o IDH é de 0.7. Apesar da apreensão com o crescimento desenfreado, a expectativa do hoteleiro é positiva. “Acredito que virão mais benefícios do que problemas, sobretudo porque os novos empreendimentos contemplam medidas ambientais e sociais importantes. Os últimos anos vêm sendo cada vez melhores e com o novo projeto de extração de ferro da Vale outros negócios vão surgir na cidade, beneficiando toda população”, avalia Oswaldo Machado.
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