"Mineração não é igual a petróleo"
03/11/09
Sinal de que a indústria da mineração começa a sair do poço em que as vendas do setor se meteram depois do estouro da crise financeira mundial, os projetos de pesquisa mineral estão sendo retomados em meio à corrida dos estados e municípios assentados sobre ricas jazidas atrás de royalties tão polpudos quanto os do petróleo. Nivelar a exploração de bens minerais ao óleo que promete uma receita bilionária na camada pré-sal é uma leitura equivocada, garante João Luiz Carvalho, presidente da mineira Geosol ? Geologia e Sondagens, maior empresa brasileira de sondagem para pesquisa mineral. ?O petróleo é energia, um bem escasso no mundo, e, assim, todo país detém um certo controle sobre essas jazidas. Na mineração, não é necessariamente dessa forma. As mineradoras têm de bancar sozinhas o custo da produção?, afirma, nesta entrevista ao Estado de Minas. Carvalho insiste que o Brasil precisa voltar a investir fortemente para conhecer suas reservas. O Norte de Minas e o Sul da Bahia, áreas que têm sido consideradas novas fronteiras da mineração, são bom exemplo dessa necessidade. Nelas, há mais esperança do que indícios de grande riqueza, na sua opinião. ?Em geologia, não há tomografia nem radiação. Nenhum método substitui as etapas de sondagem e pesquisa?, alerta. Dona da Companhia Brasileira de Bentonita (mineral de argila com diversas aplicações industriais), a Geosol formou, em setembro, uma joint-venture com a alemã Süd Chemie para atender a procura crescente desse mineral para aditivos de fundição, construção civil e fabricação de papel. A Süd Chemie do Brasil adquiriu 26% da mineradora de Vitória da Conquista, na Bahia. As exportações de minerais já estão se recuperando depois da crise mundial, levando empresas como a Vale a retirar da gaveta planos de exploração e expansão de jazidas. Como se dá esse retorno na pesquisa mineral?Assistimos a uma reação, mas não na mesma velocidade rápida com que os negócios diminuíram depois da crise. Persiste uma certa insegurança para que as pesquisas retomem o seu ritmo. As empresas de menor porte, que pesquisam a maioria das jazidas brasileiras, dependem de recursos financeiros e essa alavancagem ainda não veio. Um dos maiores consumidores dos serviços de pesquisas continua a ser o setor do ferro. Em 2010, outras commodities minerais devem retomar as pesquisas, como ouro, alumínio e cobre. Trabalhamos do Rio Grande do Sul ao Norte do Brasil, mas a concentração maior está em Minas Gerais, Pará e Bahia. No ano passado, chegamos a tocar quatro projetos fora do país, na Libéria, Guiné e em Angola, para pesquisa de ferro e diamante. No momento, só há continuidade do projeto na Guiné.
Há uma onda de esperança e muitas apostas do governo estadual e de prefeituras no potencial das reservas de minério do Norte de Minas. Qual sua avaliação?A expectativa, hoje, é, sem dúvida, muito maior do que os indícios apurados até agora. Torço para que realmente ocorra um novo boom mineral no Norte de Minas, mas os dados disponíveis não são conclusivos. Precisamos investir muito em pesquisa mineral, geofísica, trabalho de perfuração e prospecção em nível de detalhe para afirmar qualquer coisa. Em geologia, não há tomografia nem radiação. Nenhum método substitui as etapas de sondagem e pesquisa. Não existe metodologia que se aplique, a não ser mapeamento, geofísica, sondagem e análises químicas. O Norte de Minas tem sido considerado por alguns especialistas um segundo Quadrilátero Ferrífero (extensa área da Região Central do estado considerada uma das maiores províncias minerais do mundo). O senhor, então, não concorda com essas opiniões?Como geólogo, penso que o Norte de Minas não tem demonstrado até o presente momento, principalmente no tocante a ferro, jazimentos com teores superiores aos do Quadrilátero. Se isso vai ocorrer, dependemos de pesquisa. É muito cedo para; afirmar isso. Pode até ser que venha a ser montado um grande polo naquela região, mas os jazimentos são pequenos quando comparados aos existentes no Quadrilátero e em Carajás.
Como o senhor avalia as discussões sobre um novo marco regulatório da mineração e o possível aumento da taxação sobre o setor, tendo a exploração de petróleo e gás como inspiração? Precisamos mudar o foco na mineração. Passar a encarar a atividade com outros olhos, modificando o Código de Mineração com muito cuidado para não compararmos a indústria mineral à do petróleo. É um equívoco essa comparação. O petróleo tem um valor de mercado diferente dos bens minerais. São duas indústrias que, apesar de estarem no mesmo segmento, diferem em termos de tecnologia, de investimentos gerados e da necessidade de financiamento. Se o país tomar como modelo a indústria do petróleo, sem considerar a realidade da mineração, vai, mais uma vez, travar o desenvolvimento da atividade. O petróleo é energia, um bem escasso no mundo, e, assim, todos os países detêm um certo controle sobre jazimentos petrolíferos. Na mineração, não é necessariamente dessa forma. As mineradoras têm de bancar sozinhas o custo da produção.
Estado de Minas