Minas Gerais já tem seu Centro Cultural Banco do Brasil
28/08/13
Minas Gerais das cidades históricas quer mostrar que também tem uma Belo Horizonte com arte e cultura. A cidade ganhou ontem a versão mineira do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH). Fica na praça da Liberdade, onde, desde 2010, vem sendo estabelecido um circuito cultural.
Com nove museus e espaços culturais em funcionamento e três novos em instalação, a região da praça é marcada por contrastes. Há os prédios projetados por Oscar Niemeyer e outros neoclássicos ou em estilo eclético, do fim do século XIX e do início do XX, construídos para atender a órgãos públicos e secretarias de Estado.
O destaque, o majestoso Palácio da Liberdade, recentemente entrou na era da tecnologia interativa. Inaugurado no ano de fundação da cidade, 1897, construído como residência de governadores, foi reformado e aberto à visitação em 2006.
Em 16 das 30 salas com belas peças e móveis estilo Luís XV e mourisco, vídeos contam marcantes momentos da história mineira. Logo à direita do saguão, na primeira sala, uma tela com moldura em espelho mostra conversa que remete ao golpe de 1964.
A sala fica próxima à bonita escadaria feita com estruturas metálicas encomendadas à Bélgica na época da construção do palácio. Ali, o então governador (1961-66) José de Magalhães Pinto e sua equipe “discutem”, na noite de 31 de março, a entrada em cena das tropas mineiras em apoio à deposição do presidente João Goulart.
Já em telefone da década de 1950 se pode ouvir uma “conversa” entre Juscelino Kubitschek e Niemeyer. O então governador (1951-55) encomenda ao arquiteto o projeto do Palácio das Mangabeiras para se tornar residência oficial dos governadores mineiros.
A presidente Dilma Rousseff foi inaugurar ontem o CCBB-BH, que está sendo aberto hoje ao público com a exposição “Mulheres Artistas”, da coleção do Centre Georges Pompidou, de Paris.
O espaço cultural nasce como um dos maiores do país. À medida que forem sendo recuperadas as salas, terá 12 mil metros quadrados, com área para exposição, teatro, sala multimeios. Está absorvendo investimentos de R$ 37 milhões em reforma, restauro e aquisição de mobiliário e equipamentos.
O apoio está sendo petista, mas, independentemente de disputa política entre candidatos à Presidência da República, os tucanos são os realizadores do circuito. No início de seu primeiro governo, em 2002, Aécio Neves (PSDB) começou a reivindicar um CCBB para Minas, conta a secretária de Cultura do governo do Estado, Eliane Parreiras.
Nos dois mandatos de Aécio (2002/2010) foram sendo liberados os prédios à medida que iam sendo transferidas 18 secretarias e 25 órgãos públicos para o Centro Administrativo Tancredo Neves, projeto de Niemeyer em Serra Verde, ao norte de Belo Horizonte.
A equipe do governador Antonio Anastasia reconhece que a proposta foi idealizada por Francelino Pereira, governador de 1978 a 1983, diz Cristiana Kumaira. Ela é a gerente-executiva da empresa Circuito Cultural Praça da Liberdade, responsável pela gestão da área.
Quando governador (1978-83), Pereira já planejava a transformação da região em circuito cultural, criando uma região específica para contar a história de Minas, seu minério, sua música, literatura e arte, o chamado Brasil profundo, já que o Estado é apontado entre aqueles que preservam raízes bem brasileiras.
Uma síntese desse Brasil profundo está no Memorial Minas Gerais Vale. Inaugurado em 2010, é fundamentalmente um museu iconográfico com diferentes manifestações e momentos da vida mineira.
Em uma sala com a reprodução em miniatura de uma cidade histórica, o visitante pode ouvir a narração de como era a vida no século XVIII. Já em outra, Fernanda Montenegro narra a trajetória de Milton Nascimento e o Clube da Esquina. Logo na entrada, a filha de João Guimarães Rosa baseia-se em “Grande Serão: Veredas” para contar um pouco da vida do escritor.
Um destaque é a sala que retrata a Inconfidência Mineira por meio de seus personagens principais narrando as respectivas trajetórias em quadros interativos.
A museografia é de Gringo Cardia e, como lembra o gerente do museu, Wagner Tameirão, a proposta de interação vai além dos espaços. São promovidos encontros de poesia, música, teatro, abrindo espaço para performances, de forma a trazer o belo-horizontino e alunos das escolas para o museu.
Com criações de Paulo Schmidt, o Espaço TIM UFMG de Conhecimento, por sua vez, conta a origem do Universo. Abriga o único planetário mineiro. No espaço interativo, as estrelas, os planetas, a vida na Terra, o ambiente, a origem do homem são o destaque. Tudo com explicações de alunos de filosofia ou história da UFMG.
A Cemig montou o Centro de Arte Popular. Inaugurado no ano passado, o acervo reúne peças de artistas do Vale do Jequitinhonha, Cachoeira do Brumado, Divinópolis, Prados, Ouro Preto. Sabará, entre outros. Há as obras avaliadas hoje em milhares de reais e as de artistas não consagrados, mas todos retratando a arte popular mineira.
Eike Batista, por meio do grupo EBX, montou o Museu das Minas e do Metal. De forma interativa, coloca a mineração e a metalurgia em perspectiva histórica, além de mostrar o papel do metal no dia a dia das pessoas. Independentemente do momento das empresas X, o museu continua recebendo apoio do empresário, garantem os gestores.
Uma das novidades é a Casa Fiat de Cultura, para exposições de artes plásticas. A montadora vai transferir a atual sede no bairro do Belvedere para a praça, no antigo Palácio dos Despachos.
Outra vem do grupo proprietário do Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, do empresário Bernardo Paz, que está montando a Inhotim Escola nos prédios onde funcionava a Secretaria de Cultura. Ali haverá exposições e atividades educativas.
Já o Sebrae está instalando o centro de economia criativa. Na área do gabinete militar do Palácio da Liberdade, em galpão de 2 mil metros quadrados, haverá um museu do automóvel com veículos antigos com acervo do Veteran Car Club do Brasil.
Valor Econômico