Mina de Itataia
16/08/07
Dificuldades ambientais retardam a construção das duas hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, com as quais o governo quer garantir o abastecimento energético nas próximas décadas. Para evitar surpresas indesejáveis, outra saída cogitada vem sendo a utilização da energia nuclear, em paralelo com a matriz energética de origem hídrica. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) revelou a urgência da retomada do plano das fontes energéticas, sob pena de um apagão semelhante ao de 2001. Os investimentos privados deslancharam novos projetos e as atividades econômicas vêm crescendo, refletindo-se na abertura continuada de postos de trabalho, enquanto a produção energética não acompanha esse ritmo. Nessa correlação de forças não pode haver desequilíbrios prejudiciais. Apesar da sufocante carga tributária e da postura dos governantes fazendo ouvido mouco ao clamor da sociedade diante do ônus tributário incidente sobre a produção, a tendência da iniciativa privada é pela execução de projetos até então mantidos em compasso de espera. A energia nuclear passa por revisão sobre sua imagem, atenuados os riscos dos vazamento de material radioativo. Até os grupos radicais de defesa do meio ambiente mudaram de postura depois de avaliações com matrizes energéticas mais poluentes como o carvão mineral. A geração de energia nuclear depende, essencialmente, de urânio. Como reservas inexploradas, o Brasil dispõe de 310 mil toneladas descobertas, garantindo alimentar essa matriz pelos próximos 80 anos. O potencial é suficiente para gerar oito mil megawatts nas próximas quatro décadas e corresponde a quatro vezes o volume atual. Há também 800 mil toneladas de urânio não aferidas no subsolo. Essa riqueza é o maior estímulo para o uso da energia nuclear, aproveitando o fato de ser o País auto-suficiente no insumo dessa cadeia geradora de energia. A exportação de parte do urânio serviria para financiar a construção de usinas. A Comissão Nacional de Energia Nuclear defende junto ao governo federal um plano capaz de representar, pelo menos, 5% da matriz energética até 2030, com a construção de duas novas centrais nucleares do porte da usina de Angra dos Reis, uma delas à margem do Rio São Francisco. A pesquisa para dominar o processo do combustível nuclear é relevante para o País, que já domina a tecnologia, mas não produz todas as etapas em escala comercial. O Ceará está inserido nesse projeto com sua mina de urânio. Recentemente, diretores das Indústrias Nucleares Brasileiras e técnicos do Ibama estiveram visitando a mina de Itataia, em Santa Quitéria. A empresa busca parcerias para explorar a jazida com capacidade de produção de 800 toneladas por ano de urânio, de 300 milhões de metros cúbicos de calcário, utilizado na fabricação de cimento, e 120 mil toneladas por ano de ácido fosfórico, empregado na fabricação de sais minerais e fertilizantes. Com sua exploração econômica, a mina de Itataia se prenuncia como instrumento propulsor de desenvolvimento do Ceará.
Diário do Nordeste