Lições da crise
15/09/09
Há exatamente um ano, o mundo assistia, atônito, à quebra do Lehman Brothers. Ontem, no discurso em Wall Street que marcou o aniversário da crise, o presidente Barack Obama falou em novos sinais de comportamento de alto risco no mercado financeiro e bateu na tecla da regulação, que até agora não saiu do lugar por conta de fortes lobbies contrários no Congresso e da complexidade da coisa.
O fato é que o discurso do presidente americano reforçou a sensação de que não estamos seguros. E tem muita coisa ainda para ser feita antes de ser virada essa página. A crise mostrou como as coisas não devem ser feitas, como o sistema financeiro estava frágil, e como estamos interligados, mas um ano depois ainda não temos receitas prontas para resolver todos os problemas.
No Brasil, a crise encontrou um sistema financeiro sólido, arrumado, que já havia vivido, no passado, a sua crise particular e corrigido, a duras penas, suas fragilidades. A atuação competente do Banco Central foi também determinante para atravessar as turbulências. Agora, superado o pior momento, o que importa é olhar para frente. E não baixar a guarda.
O sistema financeiro entrou de um jeito e saiu de outro da crise. Os bancos públicos avançaram na concessão de crédito e ocuparam o espaço deixado pelos privados. Foi bom para combater a crise? Eles cumpriram o papel anticíclico que cabe ao setor público?
Sim, concordam analistas e o governo. A questão é como o sistema deve se comportar daqui para a frente. E a palavra chave é controle.
Não dá para descuidar dos controles. A história do mundo veio comprovar o que a nossa antiga história já havia mostrado ? afirma Sérgio Cutolo, que é presidente da Andima, diretor do Pactual e já presidiu a Caixa.
Cutolo acredita que a tendência é de o crédito aumentar e a competição entre os bancos públicos e privados pode mesmo derrubar as taxas de juros, como previu o presidente do BC.
O desafio para os bancos públicos é resistir às pressões políticas e manter em funcionamento pleno as centrais de risco. Dar crédito a quem tem condições de recebê-lo e explicitar os subsídios embutidos. Só assim navegaremos com segurança num mar ainda sujeito a tempestades.
Agricultura tem urgência
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, quer retirar jazidas de minerais usados em fertilizantes do marco regulatório da mineração, em estudo no Ministério de Minas e Energia. Ele acredita que o código mineral vai tramitar ?uns dez anos? até ser aprovado, mais tempo do que a agricultura pode esperar.
Segundo Stephanes, o setor precisa reduzir sua dependência de insumos importados. Ele afirma que 91% do potássio utilizado no campo brasileiro vêm de países como Rússia, Ucrânia e Canadá. No caso do fósforo, 51% são importados.
? Importamos fósforo do Marrocos para usar no Mato Grosso. Mas existem jazidas de fósfoto no Mato Grosso, que nunca foram exploradas ? afirma o ministro. ? Um código é muito demorado e a agricultura brasileira tem urgência. Não pode esperar.
Agricultura tem pressa
Mais grave do que a dependência em fertilizantes, a falta de infraestrutura para escoar a safra do Centro-Oeste preocupa o ministro da Agricultura. Ele critica a falta de investimentos em hidrovias e afirma que monopólios como o da Vale no setor ferroviário só atrapalham o setor. Assim como a demora em algumas obras, como a construção de novos terminais de grãos no Porto de Itaqui (MA), por exemplo.
? Não há uma visão integrada entre os projetos de infraestrutura e as necessidades da agricultura ? critica.
Segundo ele, isso afeta diretamente a renda do produtor da região Centro-Oeste.
Câmbio no caminho
A demanda por aço no mundo dá sinais consistentes de recuperação. Tanto que a produção mundial do setor cresceu 26,8% de dezembro de 2008 a julho deste ano e 36 dos 74 altos-fornos desligados no pior momento da crise já foram religados. Mas as siderúrgicas nacionais correm o risco de perder esse bonde. Segundo Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do Instituto Aço Brasil, o câmbio valorizado tem tirado a competitividade do setor, num momento de acirramento da concorrência internacional. Ele reconhece que não existe receita para o dólar e defende uma saída pelo mercado interno, com barreiras à entrada de aço a preço de liquidação, estímulos ao consumo e investimento nas cadeias produtivas.
Inovação export
A consultoria Gad?Innovation foi convidada pelo governo da Malásia para criar e executar um plano de gestão de inovação para o setor moveleiro daquele país. O convite surgiu após representantes do governo conheceram o projeto ?de Inovação?, encomenda pela Abimóvel para incentivar a inovação do setor moveleiro brasileiro.
Melhor e pior
Pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF) prevê que o faturamento do setor de franquias vai crescer 14,8% no terceiro trimestre deste ano, acelerando frente ao aumento de 12,7% dos três meses anteriores. O ritmo permanece, no entanto, abaixo do verificado em 2008, quando o setor cresceu 19,5%, faturando R$ 55 bilhões.
Com Alvaro Gribel e Bruno Villas Bôas
O Estado do Maranhão