Kinross pode partir para novas aquisições
26/11/08
Paracatu (MG), 26 de Novembro de 2008 – A produtora canadense de ouro Kinross deve atuar como consolidadora no mercado, adquirindo as chamadas “junior?s companies”, empresas de capital aberto, com papéis negociados principalmente no Canadá, e que trabalham com pesquisa mineral e projetos de desenvolvimento de novas minas em diversos metais. “Elas estão encontrando dificuldade para acessar financiamento para tocar os projetos”, explicou o presidente mundial da Kinross, Tye Burt. “A Kinross tem parceria com 22 empresas juniores e definitivamente deve trabalhar como consolidadora deste mercado”, disse, acrescentando que nos últimos três anos e meio a mineradora já adquiriu quatro empresas semelhantes, entre as quais destacou a Bema, canadense com atuação na Rússia e no Chile, por US$ 3 bilhões, e a Aurelian, do Equador, por US$ 800 milhões.
O executivo, no entanto, se esquivou de comentar se a companhia mantém negociações para a compra de outras empresas que trabalham com a pesquisa e desenvolvimento de projetos para a produção de ouro, ou se alguma júnior com atuação no Brasil poderia ser alvo de compra. Anteriormente, havia ressaltado que a Kinross possui caixa de U$ 700 milhões e está sempre atenta a boas oportunidades. Na semana passada, a companhia anunciou a compra, por US$ 250 milhões, do projeto Lobo Marte (Chile), antes pertencente à Anglo American e à Teck Cominco. No total, a companhia realizou aquisições que ultrapassam os US$ 4 bilhões. O valor de mercado da empresa atualmente é de US$ 10 bilhões.
Apesar da crise financeira internacional e da dificuldade das empresas juniores em levar adiante os projetos, é um bom momento para investir em minas de ouro. O metal é uma das poucas commodities metálicas cujo preço tem subido no mercado internacional. Considerado o porto seguro dos investidores em tempos de turbulência, a cotação do ouro subiu 10,31% em uma semana e fechou ontem a US$ 818 por onça-troy em Nova York, embora ontem tenha registrado redução de 0,12%.Uma onça equivale a aproximadamente 31 gramas. “Com a tendência de dólar mais fraco, oferta em queda e demanda em alta, os preços devem seguir em alta”, afirmou Burt.
De acordo com o executivo canadense, a Kinross é uma das poucas empresas de ouro que tem apresentado crescimento na produção e no volume de reservas. A companhia diz possuir a terceira maior reserva mundial, de 47 milhões de onças – das quais cerca de 40% no País. Já em produção global a empresa está na oitava colocação.
Além das aquisições, a companhia tem ampliado a produção com investimentos próprios. Ontem, foi inaugurada a expansão da mina Morro do Ouro, localizada em Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais. O projeto mais que triplica a produção da unidade, de 5,4 toneladas para 17,2 toneladas de ouro anualmente, o que coloca a empresa como maior produtora de ouro no Brasil, superando a Yamana Gold e a AngloGold Ashanti.
Orçado em US$ 550 milhões, o projeto da Kinross, além de elevar a oferta do metal ainda reduz os custos de produção. “Este projeto vai gerar uma redução importante dos custos e elevará a margem da companhia, fazendo-a capaz de prosperar”, disse o executivo, acrescentando que, com a expansão, o custo de produção da unidade cai cerca de 15%, passando de US$ 475 por onça para cerca de US$ 400 por onça.
“O teor de ouro aqui é baixo, por isso é muito importante ter uma instalação grande, que propicie economias de escala”, explicou. O teor de ouro no minério da mina é de 0,39 por tonelada minerada, o menor obtido em minas em operação. A mina tem longevidade estimada em 30 anos e o investimento se paga em entre 5 e 7 anos. Globalmente, a Kinross, que também atua nos Estados Unidos, no Chile e na Rússia, apresentou no terceiro trimestre um custo por onça de US$ 406, 13% abaixo do registrado no trimestre anterior.
Resultados
“A Kinross está em uma posição única no mercado, com produção em alta e custos em baixa”, salientou Burt. No terceiro trimestre, o lucro líquido atingiu US$ 64,7 milhões, ante os US$ 39,4 milhões do terceiro trimestre do ano passado. A receita subiu 83%, na mesma comparação, para US$ 503 milhões. A empresa não divulga a receita da operação brasileira por trimestre. No ano passado receita no País somou US$ 121,7 milhões. Para 2008, a previsão é alcançar US$ 262,9 milhões. Além de Paracatu, a empresa possui operação em Crixás, em Goiás, em parceria com a AngloGold Ashanti.
Além do projeto de Paracatu, existem projetos em andamento ou em avaliação no Chile, nos Estados Unidos, no Equador e no México. A empresa ainda possui pesquisa mineral em várias partes do mundo. No País, aplica anualmente cerca de US$ 10 milhões em pesquisa em regiões do Maranhão, Pará e Goiás. Em uma das áreas de sondagem, em Gurupi, na divisa entre o Pará e o Maranhão, as sondagens iniciais devem ser concluídas este ano e no ano que vem se define a possibilidade de prosseguimento para a próxima etapa, de estudos de viabilidade, afirmou o diretor de desenvolvimento de projetos da companhia na América Latina, Luis Albano Tondo.
De acordo com Burt, há um delicado equilíbrio entre a oferta e a demanda. Segundo projeções da companhia, a produção mundial de ouro deve cair entre 2% e 5% somente este ano. “Os produtores tradicionais, como a África do Sul, têm apresentado decréscimo na produção”, acrescentou. Já a demanda deve crescer, seja pelo aumento da procura pelo metal por parte dos investidores, seja pelo crescimento da produção joalheira, que aumenta em média 2% ao ano, conforme informou Burt.
Segundo O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), foram produzidos em todo o mundo cerca de 2,5 mil toneladas de ouro no ano passado, volume semelhante ao do ano anterior, no Brasil, no entanto, a produção foi de 49 toneladas (2% do total mundial), o que representou um crescimento de 19% ante o ano anterior. Para 2008 está previsto um crescimento de 12%, para 55 toneladas.
(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 9)(Luciana Collet – A jornalista viajou a convite da empresa.)
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