Itabira está parada à espera das decisões da Vale
10/12/08
Itabira, na Região Central de Minas Gerais, berço da Vale, atravessa momento de apreensão, desencadeado pela queda de produção, paralisação da usina de beneficiamento na mina do Cauê e anúncio de demissões e férias coletivas. Na cidade de 105 mil habitantes, cerca de 3 mil pessoas trabalham na Vale e outras 5 mil para empresas que prestam serviços à companhia, segundo levantamento da prefeitura municipal. Proporcionalmente, o contingente afetado pode ser pequeno ? mas o efeito psicológico das demissões, segundo autoridades locais, gera pessimismo da mina ao comércio. Na fila das homologações no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Metabase) de Itabira e região, os funcionários discutiam a crise econômica mundial, que imaginavam estar longe de atingi-los. ?Eu tenho dois anos de Vale e meu marido, 19. Nós dois fomos demitidos no início do mês. Ainda tenho a esperança de que ele seja remanejado. Neste momento, seria bom. Ao mesmo tempo, não imagino recomeçar minha vida do zero em outro lugar?, afirmou uma ex-funcionária da Vale que pediu para não ser identificada. Mãe de dois filhos, disse que o Natal será o contrário do planejado. ?Férias e compras foram suspensas?, lamentou.A instabilidade no emprego afetou a confiança do consumidor. Foi o que percebeu o gerente da Rede Minas Móveis e Eletrodomésticos, Maurício Tomaz Santos. ?As pessoas entram na loja, fazem orçamentos, mas não querem se comprometer com financiamento. Eles falam que vão esperar 2009. Estamos perdendo vendas?, afirmou. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Itabira, Maurício Henrique Martins, prevê retração de até 10% nas vendas deste Natal diante da expectativa inicial de crescimento de 5%. ?Mais de 70% do movimento do comércio da cidade depende dos funcionários da Vale e dos terceirizados. Isso gera um efeito dominó?, ressaltou. Segundo ele, os comerciantes associados ? cerca de 700 ? não querem investir em estoque e a maior parte deles largou de lado os planos para o ano que vem. Para driblar a queda do movimento, o gerente do Supermercado e Granja Bela Vista, Carlos Alberto Totô, apelou para liquidações. ?Estamos fazendo uma oferta atrás da outra para atrair e fidelizar a clientela. Diante da tensão, as pessoas estão economizando ao máximo. Ninguém sabe o que vai acontecer quinta-feira. Itabira depende muito da situação da Vale?, destacou. O prefeito da cidade, João Izael Querino Coelho (PR), frisou que tem mantido conversas com a direção da mineradora, que garantiu a manutenção do atual quadro de funcionário até ao menos 15 de janeiro. O conglomerado informou, por meio da assessoria de comunicação, que não há previsão de anúncio para ampliação do prazo de férias coletivas e nem de novas demissões. A companhia salientou ainda que os investimentos previstos para 2009, de US$ 14,9 bilhões para todo o país, estão mantidos. Mesmo assim, Querino Coelho demonstra preocupação. Segundo ele, com a redução de 50% na produção de minério de ferro no município, a arrecadação da Contribuição Financeira sobre Exploração Mineral (CFEM) cairá de R$ 4 milhões para R$ 2 milhões. ?Teremos de rever projetos e a proposta orçamentária para que obras não sejam comprometidas. O que mais temo é o efeito psicológico, porque a cidade tem uma identidade muito forte com a Vale. O pensamento aqui é que, se ela não vai bem, a cidade também não?, observou. A Vale fechou o terceiro trimestre do ano com 62 mil postos de trabalho no mundo, 47 mil no Brasil e 22 mil em Minas Gerais. Na terça-feira da semana passada, a companhia informou ter dispensado 1,3 mil no país, dos quais 20% desse contingente (260 pessoas) teriam sido demitidos em Minas. Em férias coletivas, são cerca de 5,5 mil trabalhadores, 80% (4,4 mil) no estado. No complexo do Cauê, cerca de 400 trabalhadores estão em férias e outros 2 mil foram transferidos para a mina de Conceição, na mesma área ocupada pela Vale. A produção da unidade teria sido reduzida à metade ? de 120 mil toneladas para 60 mil toneladas.
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