06/02/08

As táticas empregadas pela Aluminum Corp. of China, ou Chinalco, para comprar uma fatia minoritária na gigante da mineração Rio Tinto PLC mostram o quanto os empresários chineses aprenderam desde a tentativa fracassada da Cnooc Ltd. de comprar a petrolífera americana Unocal Corp., em 2005. Essa maior habilidade faz da China uma força global mais poderosa num momento em que ela tenta garantir recursos naturais no exterior através de aquisições.
A aquisição de US$ 14,05 bilhões, realizada em conjunto pela produtora estatal de alumínio da China com a Alcoa Inc., dos Estados Unidos, é o maior investimento individual de uma empresa chinesa no exterior até hoje.
A cuidadosa preparação do acordo foi essencial. A aquisição inseriu a Chinalco e a Alcoa nas negociações de fusão relacionadas à Rio Tinto, que a rival anglo-australiana BHP Billiton vem tentando comprar no que seria uma das maiores aquisições da história. A BHP deve lançar hoje uma oferta formal pela Rio.

“Realmente, o momento e a execução” da compra de parte da Alcoa pela Chinalco “não poderiam ter sido melhores”, diz Michael Komesaroff, diretor da Urandaline Investments, uma consultoria australiana de commodities. “Estou surpreso e impressionado com o modo como foi feito.”
O negócio ainda pode enfrentar resistência, em parte porque a Chinalco é do governo chinês. Quando perguntado ontem sobre o negócio, o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, notou que existem regras diferentes para o investimento em ativos australianos por um governo estrangeiro e por outros investidores do exterior.
De qualquer maneira, analistas e executivos do setor dizem que a condução habilidosa dessa estratégia pode estabelecer o padrão para futuros negócios encabeçados por empresas chinesas.
A Chinalco e a Alcoa conseguiram arrematar 9% da Rio Tinto através da compra de ações listadas na Bolsa de Londres, durante a virada de quinta para sexta-feira, ao mesmo tempo em que evitaram vazamentos que poderiam ter alertado o mercado sobre os seus planos e fornecido tempo para a BHP se defender. A Chinalco e seus consultores também tinham uma estratégia de relações públicas cuidadosamente planejada: na sexta-feira, o presidente do conselho, Xiao Yaqing, já se encontrava em Londres para explicar aos repórteres a lógica por trás do investimento, e depois viajou para a Austrália, onde a Rio Tinto também está registrada e onde tem boa parte de seus principais ativos, para responder às perguntas da imprensa e das autoridades.
Pessoas a par do acordo dizem que a Chinalco agiu rapidamente – algo nem sempre fácil para uma estatal – para atender aos prazos e garantir a aprovação das autoridades chinesas. As autoridades britânicas deram prazo até hoje para que a BHP faça uma oferta oficial pela Rio Tinto.
A compra de parte da Rio Tinto segue uma estratégia que vem obtendo cada vez mais sucesso para a execução de negócios multinacionais por empresas chinesas. Diferentemente da oferta da Cnooc por 100% da Unocal, em 2005, que provocou uma forte reação política nos EUA, agora as empresas chinesas estão comprando fatias minoritárias em vez de almejar o controle total, o que evita vários problemas regulatórios e ajuda a acalmar o furor político.
Ao se unir à Alcoa, a Chinalco pode mostrar que o acordo foi incentivado por motivos comerciais e eliminar as suspeitas de que tenha sido orquestrado pelo governo chinês. “Ninguém acredita que a Alcoa gastaria US$ 1,2 bilhão num acordo desses por qualquer motivo que não seja lucrar”, diz uma pessoa a par das negociações.

Valor Econômico