Instabilidade afeta venda de minério de ferro em outubro
25/11/08
São Paulo, 25 de Novembro de 2008 – A instabilidade do mercado no Brasil, particularmente na indústria automotiva, já causou efeitos nas vendas nacionais de minério de ferro em outubro, quando apresentaram queda de 33,37% em relação ao mesmo mês de 2007, e somaram 2,9 bilhões de toneladas. Em 10 meses, as vendas totalizaram 38,75 bilhões de toneladas, 11,9% abaixo das 44,03 bilhões de toneladas de igual período do ano passado. Já as vendas de pelotas caíram 26,89%, para 471 milhões de toneladas. No acumulado do ano, porém, a alta é de 17,73%, para 5,48 milhões de toneladas comercializadas.
Os dados são do Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Sinferbase), com base nas informações fornecidas pela Companhia Vale do Rio Doce (Vale). A mineradora, não se pronunciou a respeito. No final de outubro, a companhia informou que a demanda por minério de ferro tinha sofrido “direta e imediatamente o efeito da retração da produção siderúrgica” e anunciou um ajuste dos programas de produção em diversos países, o que implicaria em redução de ritmo relativamente aos níveis praticados até setembro de 2008.
De fato, a intensificação da crise financeira global provocou efeito direto na produção do aço, devido à relevância para a produção industrial e construção civil. E diversas siderúrgicas, ao redor do mundo, passaram a tomar medidas de contenção da produção. Conforme a Associação Mundial de Aço (Worldsteel), em outubro foram fabricados globalmente 100,5 milhões de toneladas de aço bruto, 12,4% abaixo do registrado em igual mês do ano anterior.
No País, as principais compradoras do minério da Vale, a Usiminas e a ArcelorMittal, já anunciaram medidas de redução da produção. A Usiminas vai antecipar para 5 de dezembro os trabalhos de manutenção programada no Alto Forno 2 da Usina de Ipatinga (MG). O início dos trabalhos, originalmente previsto para junho de 2009. A companhia espera voltar a operar esse forno até abril de 2009. Tal procedimento reduzirá a capacidade anual da usina em 3%, ou 300 mil toneladas. Já a ArcelorMittal Tubarão informou a redução temporária da produção em 35%, processo iniciado na primeira quinzena de setembro.
Para se adaptar ao atual momento de menores compras de minério de ferro tanto no Brasil como no exterior, a Vale informou a decisão de reduzir a produção de minério de ferro em 30 milhões de toneladas métricas anuais (10% do total), com a paralisação, a partir de 1º de novembro de 2008, das atividades de algumas minas, produtoras de minérios de menor qualidade. Vale e Samarco respondem por cerca de 80% da produção.
Exportações
Apesar da queda na produção ser mundial, as exportações de minério de ferro ainda não apresentaram retração em outubro. De acordo com dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a exportação de minério de ferro somou 26,73 milhões de toneladas no décimo mês do ano, alta de 6,5% ante outubro de 2007. Em valores, foram exportados US$ 1,9 bilhão, acima dos US$ 992 milhões apurados em igual mês de 2007.
Conforme os dados do Sinferbase, somente a Vale (incluindo a participação na Samarco) exportou 22,91 milhões de toneladas de minério de ferro e 4,69 milhões de toneladas de pelotas. Os volumes correspondem a altas de 8,9% e 4,5%, respectivamente. No entanto, representam a quedas de 9,4%, no caso do minério de ferro, e de 7,7%, em pelotas. “Os dois últimos meses devem ser piores”, afirmou um analista, citando o plano de redução da produção.
China
As importações de minério de ferro pela China em outubro cresceram 2,94% ante igual período de 2007, para 30,61 milhões de toneladas. E grande parte do minério importado veio da Austrália, 14,38 milhões de toneladas, uma expansão de 27,63%. Enquanto isso, o Brasil entregou 7,58 milhões de toneladas ao país asiático, uma expansão mais modesta, de 5,92% em relação a outubro do ano passado. “A Vale deve estar com problemas para realizar embarques para a China, eles estão preferindo honrar os contratos com os australianos, que são os principais fornecedores de minério para a Ásia”, disse um analista que acompanha o mercado. “É bem provável que seja uma retaliação pela tentativa de reajuste.”
A China reduziu os volumes de minério importados da Índia em 14%, para 3,7 milhões de toneladas; e Canadá, queda de 33,63%. Em destaque ficaram as compras de minério de ferro venezuelano, que dispararam 193%, para 410,8 mil toneladas.
(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 5)(Luciana Collet – Com Reuters)
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