INB planeja licitação para mais duas jazidas de urânio
20/07/09
Ao mesmo tempo em que assina esta semana o primeiro contrato de extração e processamento de urânio com a iniciativa privada, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) inicia os preparativos para desenvolver mais duas reservas no país. A ideia, a principio, é seguir o mesmo modelo de consórcio acertado com a Mineração Galvani para explorar as jazidas de urânio de Santa Quitéria, no Ceará. As duas novas reservas são Pitinga, na Amazônia, e Rio Cristalino, no sul do Pará, disse ao Valor o presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho.
O contrato com a Galvani, que será assinado quinta-feira no Palácio Iracema, em Fortaleza, com presença de Sérgio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia, e do governador do Ceará, Cid Gomes, não quebra o monopólio de exploração do urânio pela União, garantido na Constituição. O acordo prevê que a Galvani, que atua em fertilizantes, irá explorar e processar o urânio e entregá-lo à INB, tendo, como contrapartida, posse do fosfato associado ao urânio existente nas jazidas.
Santa Quitéria tem a maior reserva de urânio associada a fosfato do país, com volume geológico medido em 142,5 mil toneladas de urânio, 8,3 milhões de toneladas de óxido de fósforo e 300 milhões de metros cúbicos de calcário.
Os termos do acerto entre INB e Galvani preveem o início das operações para daqui a 30 meses, ou seja, em meados de 2012. A partir daí serão produzidas anualmente 1.100 toneladas de urânio e 180 mil toneladas de fosfato. Em 2017, a mina alcançará sua plena capacidade de produção anual, com 1.600 toneladas de urânio e 240 mil toneladas de fosfato.
A Galvani, que venceu a Vale e a Bunge Fertilizantes na concorrência para a exploração de Santa Quitéria, há um ano, vai investir US$ 380 milhões para pôr o projeto em funcionamento. “Os royalties que (a Galvani) estão pagando pelo direito de exploração das jazidas é o desenvolvimento de todo o projeto. Ou seja, o parceiro privado vai construir toda as unidades de processamento necessárias para o negócio, incluindo até o processamento do urânio”, informou Tranjan.
A INB entra com os direitos de exploração das jazidas e com alguma tecnologia de processamento de urânio que será repassada à Galvani. A rota de processamento do urânio a ser usada será a que separa a matéria-prima nuclear do fosfato e a beneficia até a condição de concentrado, o chamado “yellow cake”. O urânio concentrado sai do Ceará para o exterior para passar por outras etapas de conversão do combustível nuclear que o Brasil ainda não domina. “Temos um contrato com uma empresa canadense, a Cameco, que transforma o yellow cake em gás. Este gás vai para a Urenco, na Europa, que o enriquece e ele volta para nossas instalações industriais em Rezende (RJ), que transforma este gás enriquecido em pó e depois em pastilhas que vão formar o elemento combustível para abastecer as usinas nucleares de Angra I e II e futuramente Angra III e, até 2030, mais quatro usinas”, explicou Tranjan.
O executivo adiantou que as próximas licitações da INB – as jazidas de Pitinga e Rio Cristalino – já tiveram suas reservas estimadas em 150 mil toneladas de urânio cada uma. “Agora, precisamos aferir estas reservas. Temos um programa de aferição das jazidas e um estudo sobre a rota tecnológica para separação dos minérios existentes em cada uma delas a ser desenvolvido nos próximos três anos”. Ele revelou que a INB pensa em manter o modelo de consórcio para as próximas concorrências, mas disse que a lei de criação da INB permite que se crie subsidiárias da estatal com participação de empresas privadas de até 49%. “Podemos produzir urânio em parceria nesse outro modelo sem alterar o monopólio. O urânio continua sendo da União, mas o resultado econômico é repartido com o sócio privado”.
Tranjan destacou que, a princípio, a INB não tem pressa para licitar as minas de Pitinga – que contém estanho, terras raras, nióbio, tântalo e ítrio – e Rio Cristalino, pois a entrada em operação de Santa Quitéria e a produção da mina de Caetité, na Bahia, já atende com folga o mercado interno de combustível nuclear.
“Com as 1,1 mil toneladas anuais de urânio de Santa Quitéria a INB supre quatro usinas nucleares (cada usina de 1 mil MW consome 15 mil toneladas de urânio em 60 anos de vida útil) e ainda sobram 100 mil toneladas de urânio”, disse o executivo. Segundo ele, o projeto de Santa Quitéria terá uma área industrial muito grande, abrigando as instalações para o processamento do urânio e do fosfato. “Devem ser criados 3 mil empregos industriais na região, bem no sertão cearense, a 220 quilômetros de Fortaleza”.
Valor Econômico