IBRAM é destaque no jornal Valor Econômico
28/10/16
Hora de inovar
A balada pela queda dos preços das matérias-primas e com a imagem manchada pelo impacto de desastres ambientais, a indústria de mineração de todo o mundo se encontrou no Rio de Janeiro para debater o futuro. Responsável por 5% do PIB do planeta, o setor precisa encontrar uma saída. O 24° Congresso Mundial de Mineração reuniu especialistas, empresários, investidores e ambientalistas de 40 países para traçar os rumos da retomada. Durante quatro dias se discutiu inovação, tecnologia, governança e sustentabilidade. São os pontos-chave para livrar o setor da estagnação e garantir maior segurança aos negócios. “Não há economia forte sem mineração”, disse Józef Dubinski, presidente do Congresso Mundial de Mineração (WMC 2016), que ocorreu entre os dias 18 e 21. “Estamos reencontrando o caminho do nosso desenvolvimento e o setor mineral será a alavanca do progresso”, afirmou José Fernando Coura, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). “Muitos ainda se recusam a enxergar os recursos naturais com fonte de desenvolvimento”, disse Clóvis Torres Junior, presidente do conselho diretor do IBRAM e diretor de recursos humanos, integridade corporativa e consultoria-geral da Vale.
Há quatro anos, a indústria de mineração está em baixa. A queda livre na cotação internacional das matérias-primas minerais, com a redução da demanda da China e o excesso de produção, afetou os investimentos e impactou a balança comercial de países exportadores como o Brasil. A indústria foi abalada ainda pela reação de comunidades à implantação de novos campos no Peru, pelos impactos sociais e ambientais, e pelo desastre da Samarco, com o rompimento de uma barragem que deixou um rastro de destruição em Mariana (MG). Um dos desafios agora é reconstruir a imagem para pavimentar o futuro. A tônica está em inovação, tema que pautou os quatro dias do encontro.
Tecnologia, sustentabilidade, governança e participação das comunidades foram objeto de debate no Centro de Convenções SulAmérica, lotado por mil visitantes por dia atentos aos 120 palestrantes que se revezaram nos microfones.
Alguns especialistas destacaram a importância de a indústria se reinventar. “O modelo de negócios da mineração do futuro incluirá os participantes externos em todas as áreas das mineradoras”, disse o consultor George Hemingway.
“É fundamental para empresa do setor o diálogo com comunidades das áreas de operação”, afirmou Torres Junior, da Vale, na abertura do evento. “O mundo necessita da mineração, mas a indústria precisa mudar”, considerou Kulvir Singh Gill, diretor da consultoria estratégica Clareo Partners e integrante da Rede de Inovação Kellogg, que reúne líderes de negócios em todo o mundo com foco em inovação. Os percalços não impedem apostas ousadas. “Nos últimos seis anos, nosso investimento em mineração cresceu quase duas vezes. Temos 80 projetos novos que empregam mais de 15 mil pessoas”, disse Zamir Saginov, secretário-executivo do Ministério de Investimentos e Desenvolvimento do Cazaquistão, que vai sediar na capital, Astana, o 25° Congresso Mundial de Mineração, em 2019. Nono maior país em extensão do mundo, com uma população de 17,5 milhões de pessoas, o Cazaquistão tem mais de 2 mil empresas mineradoras. É rico em reservas de urânio, zinco, prata e carvão. O setor de mineração investiu em transparência e compliance para se aproximar dos padrões ocidentais sem descuidar do grande consumidor do outro lado da fronteira: a China.
O maior mercado de minérios do mundo também faz suas apostas. Uma delas é aumentar a produção de carvão mineral em mais 500 milhões de toneladas nos próximos cinco anos. A China já produz mais de 800 milhões de toneladas anuais. Para equilibrar oferta e demanda, busca otimizar a estrutura produtiva da indústria. “O desenvolvimento de novas tecnologias é importante para que o salto seja dado com o menor impacto ambiental possível. Queremos promover a utilização limpa do carvão e reduzir o nível de emissões de carbono do setor”, disse Wang Xianxheng, presidente da Associação Nacional de Carvão da China.
São movimentos que animam a vislumbrar uma retomada do crescimento na mineração mundial. A volta por cima deve começar no final de 2017. “Estamos vendo a luz no fim do túnel e não é um trem na contramão”, afirmou o analista sueco Magnus Ericsson, da Universidade Técnica de Lulea. Há indicações positivas da retomada como o aumento no portfólio de pedidos das empresas de equipamentos.
O setor extrativo responde por 5% do PIB mundial, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), algo em torno de US$ 3,9 trilhões. No rastro da desvalorização das matérias-primas minerais, depois de um ciclo de alta que durou de 2003 a 2012, o setor se encaminha para o quarto ano de queda nos investimentos: ¬30,7% em 2013, ¬24% em 2014 e -11% no ano passado, de acordo com a SNL Metal Mining. Os aportes, que chegaram a US$ 24,4 bilhões, em 2012, caíram para pouco mais de US$ 10 bilhões, em 2015.
No Brasil, líder mundial na exportação de nióbio e terceiro entre os exportadores de minério de ferro, a indústria sentiu o baque. Ainda assim, tem participação importante no saldo da balança comercial: US$ 30,2 bilhões em 2012, US$ 32,5 bilhões em 2013, US$ 26,3 bilhões em 2014 e US$ 15,1 bilhões no ano passado. A participação do setor no PIB brasileiro é de 4%. “Podemos chegar logo a 6% do PIB. Esperamos a retomada dos investimentos no país, principalmente para o setor mineral. Temos base mineral diversa e uma plataforma industrial para fomentar a exportação em maior escala”, disse o ministro interino de Minas e Energia, Paulo Pedrosa.
No Brasil, a nova fronteira da mineração, de acordo com especialistas reunidos no Rio, é a Amazônia. O potencial é proporcional aos desafios de operar em áreas isoladas, com limitações relativas a reservas ambientais e à presença de populações indígenas. A região é rica em xisto, manganês e urânio. “A Amazônia será a principal fonte de crescimento das mineradoras no país”, afirmou o diretor de assuntos ambientais do IBRAM, Rinaldo Mancin. Toda a América do Sul está no radar das grandes mineradoras internacionais. Apesar do aumento dos investimentos na Ásia e na África, a região ainda é o principal mercado das empresas de mineração canadenses. A Argentina espera atrair US$ 20 bilhões em investimentos para o setor até 2021, segundo anúncio do presidente da Câmara de Mineração Argentina, Gustavo Koch. “Trabalhamos junto ao governo canadense para avançar em acordos de livre comércio com países da região. Se não for possível uma abertura comercial, pelo menos que haja proteção aos investimentos”, ponderou Pierre Gratton, presidente da Associação de Mineração do Canadá.
A insegurança jurídica não é o único problema. “É impossível conceber o Peru sem mineração, mas o país enfrenta forte resistência à implantação de novos projetos. Há grandes investimentos, como a mina de cobre Las Bambas, parada por causa de protestos da comunidade, há conflito”, disse Romulo Mamani, ex¬vice-ministro de Energia e Minas do Peru. Ao passar a “Falum Lamp”, símbolo do congresso, ao embaixador do Cazaquistão no Brasil, Kairat Sarzhanov, no fim do evento, Coura deixou encaminhadas as discussões que deverão mobilizar a indústria nos próximos três anos.
A alternativa de fomentar um novo mercado consumidor caso a China decida reduzir seus investimentos em infraestrutura e a possibilidade de acordo de redução da produção para conter a queda dos preços talvez precisem ser decididas antes do encontro de Astana, assim como a resposta às questões mais imediatas da indústria que talvez não possam esperar até lá. “A indústria pode ser sustentável e limpa, mas para isso há algo fundamental: depois do que aconteceu com a Samarco é preciso haver engajamento com a comunidade”, afirmou Ruben Fernandes, presidente da Anglo American no Brasil. “As mineradoras precisam se modernizar para o século XXI”, resumiu Dubinki.
Clima deve provocar um realinhamento estratégicoQuais as implicações do aquecimento global sobre as atividades mineradoras? Há vários riscos. Fenômenos climáticos extremos podem danificar estruturas de energia e transporte com maior frequência, paralisando a produção e elevando preços. “A água também fica mais escassa e provoca uma competição entre as mineradoras e a comunidade”, diz Abdul Koroma, vice-ministro de mineração e recursos naturais de Serra Leoa. Segundo ele, a mudança climática pode frustrar os esforços de seu país para agregar valor à mineração. O setor responde por 22% do PIB e 83% das exportações da nação africana. O uso da energia também será decisivo nas próximas décadas. O insumo representa de 20% a 30% do custo das mineradoras e é responsável por grande parte da pegada de carbono da indústria de mineração. Um dos países mais bem-sucedidos na redução de emissões no setor é o Canadá. Hoje, elas estão em um nível inferior ao registrado em 1990. Os canadenses acreditam que é possível reduzir ainda mais a pegada de carbono do setor. Para isso, as mineradoras canadenses apostam na eletrificação das minas. “Em cinco anos, o Canadá terá sua primeira mina 100% elétrica”, diz Pierre Gratton, presidente da Associação de Mineração canadense. O Canadá foi o primeiro país a adotar um sistema de carbon pricing, que estabelece um preço para o minério de acordo com a emissão de carbono da mina. O `carbon pricing` é um dos fatores de maior impacto no setor nas próximas décadas, mas as regras para um sistema internacional de precificação ainda não estão claras. O processo, no entanto, será inevitável. “O carbon pricing já está virando uma realidade e vamos levar isso em conta nas nossas tomadas de decisão no futuro”, diz Jennifer Hooper, vice¬presidente de sustentabilidade da Vale. Ela ressalta também que o investimento em tecnologias verdes aumenta a produtividade das mineradoras. “Na mina S11¬D, em Carajás, tivemos queda de 50% na emissão de gases, reduzimos o uso de terra e conseguimos um sistema de transporte 35% mais eficiente.” O consultor de mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável do Banco Mundial John Drexhage observa que a demanda global por minérios seguirá crescendo, mesmo com a intensificação das medidas contra o aquecimento global. E isso pode favorecer alguns segmentos, como os de níquel, alumínio e cobre, usados de forma intensiva na produção de equipamentos para geração de energia renovável. “Só a demanda por cobre, por exemplo, deve crescer de 275% a 350% em 2050, se forem adotadas medidas agressivas para a redução de gases do efeito estufa”, diz.
Reúso da água avança entre as mineradorasA água, que sempre foi uma das questões estratégicas da mineração, junto com a terra e o capital, tornou¬se um grande desafio para a indústria extrativista. A escassez do recurso exige medidas de uso mais eficiente e sustentável e uma parceria cada vez mais próxima com as comunidades em áreas de mineração. A participação nesses processos das mineradoras, a necessidade de esforço conjunto de governos, organizações nãogovernamentais, empresas, populações locais e universidades foram destaque do seminário “Water Mining and Communities”, realizado durante o 24° Congresso Mundial de Mineração, no Rio de Janeiro. “A água é uma limitação para o desenvolvimento dos recursos minerais. Nos últimos anos, as empresas tiveram que mudar muito para evitar conflitos com a comunidade e a perda de licenças e cada vez mais terão de fazer isso”, diz Tom Butler, presidente do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM). “Mais de 70% dos conflitos na mineração no Peru estão relacionados à água”, diz o professor Bern Klein, professor, do Instituto de Engenharia de Minas da Universidade de British Columbia (UBC), do Canadá. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 73% do uso da água no planeta vão para a irrigação agrícola, 6% para o consumo humano e 21% para a indústria ¬ inclusive a extrativista. A concessão mineira de cobre de La Bamba, no Peru, um investimento de US$ 10 bilhões liderado pela estatal chinesa Minimetals, está parada desde os protestos locais, em setembro, por causa, entre outros motivos, do consumo de 800 litros de água por segundo do rio Challhuahuacho e do temor de contaminação da bacia hidrográfica. Uma das respostas das mineradoras ao desafio tem sido o reúso da água. A Vale reduziu a dependência ao recurso reutilizando 70% da água que consome nas operações mineradoras. No projeto S11D, que entrará em operação em 2016 e vai mais que dobrar a capacidade de produção de minério de ferro de Carajás, no Pará, a tecnologia será a do beneficiamento por umidade natural. A inovação vai reduzir em 93% o consumo de água usada nesta etapa da mineração.A Newmont, no estado norte-americano de Nevada, conseguiu reduzir em 90% o consumo de água usada para baixar a poeira que impedia o tráfego de caminhões até à usina com tecnologia de supressão de pó com elementos químicos não-tóxicos desenvolvida pela Water & Process da GE. “A relação com a água tem de ser discutida com a comunidade”, diz Ben Chalmers, responsável na Associação Mineradora do Canadá pelo projeto Rumo à Mineração Sustentável, de fomento às boas práticas para gestão de barragens. ” Nada, porém, vai funcionar sem real engajamento da indústria de mineração”, afirma Manuel Bernales Pacheco, gerente da ONG peruana Futuro Sustentável.
Argentina quer atrair US$ 20 bi em investimentosO setor de mineração na América Latina enfrenta um cenário mais volátil, com preços em queda, mas luta para atrair novos investimentos. A Argentina, por exemplo, quer desenvolver um potencial pouco explorado. O país espera atrair US$ 20 bilhões em investimentos no setor até 2021. Segundo Gustavo Koch, presidente da Câmara de Mineração da Argentina, a indústria deve crescer com base em padrões modernos de operação. “Não temos uma tradição mineradora arraigada como o Chile, ou o Peru”, compara. “Então, queremos expandir o setor evitando erros cometidos no passado, adotando as melhores práticas tecnológicas, ambientais e sociais.” “Há muito potencial. Só a exploração de algumas jazidas importantes de prata descobertas recentemente já poderia destravar a economia”, continua Koch. A avaliação dos especialistas argentinos é de que a mineração pode ser tão importante para a economia do país quanto à agricultura. “Estamos trabalhando para criar bases sólidas para o setor, muito além de uma visão de curto prazo.” A indústria mineradora latino¬americana, no entanto, enfrenta alguns obstáculos para desenvolver todo seu potencial. Hugo Nelson, presidente do Organismo Latinoamericano de Minería (Olami), afirma que há uma judicialização das decisões envolvendo a mineração na América Latina. “Há exemplos na Colômbia, e em outros países, como El Salvador, onde uma decisão judicial abriu a possibilidade de se proibir a atividade mineradora no país”, alerta.”Isso causa grande insegurança nos investidores.” Outra potencial ameaça são os conflitos sociais em áreas de mineração. O problema é particularmente sensível na indústria mineradora peruana. A mina de cobre de Las Bambas, um investimento de US$ 10 bilhões, vem sofrendo paralisações por conflitos com as comunidades no entorno. Segundo o ex¬vice-ministro de energia e minas do Peru, Romulo Mucho Mamani, para vencer os conflitos, é preciso convencer a sociedade da importância da mineração, setor que representa 15% do PIB peruano. “As pessoas precisam entender que mineração é ciência, é investimento, é desenvolvimento”, afirma. E mesmo com todas as restrições, a demanda por minério vai continuar crescendo em todo o mundo. “Se a América Latina não receber esses investimentos, eles irão para outra parte.” No Brasil, o segmento passa por um momento de reconstrução da imagem, depois do desastre com a barragem da Samarco em Mariana, no ano passado. Além disso, é importante integrar melhor as pequenas mineradoras à cadeia produtiva.”O Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM reúne pouco mais de 100 mineradoras que concentram 90% da produção, mas existem oito mil pequenas empresas no setor, que precisam ter acesso a conhecimento e tecnologia para melhorar suas práticas ambientais e sociais”, explica Rinaldo Mancin, diretor de assuntos ambientais do Ibram. A tendência é de que o desafio ambiental ganhe ainda mais peso para o setor no Brasil, à medida que a fronteira de exploração se volta para a Amazônia. “Teremos que operar em áreas isoladas, com limitações relativas a reservas ambientais, preservação e populações indígenas, mas há um enorme potencial”, conclui Mancin.
Satélite combate atividade ilegalAs grandes mineradoras brasileiras recorrem cada vez mais à tecnologia de imagens por satélite para acompanhar o avanço da produção de suas minas e fiscalizar a invasão de suas áreas por mineradores ilegais. Boa parte deste trabalho de captação de imagem é feita pelos satélites da norte¬americana Digital Globe – uma das suas distribuidoras no país é a Space Imaging Brasil. Com faturamento na casa dos US$ 700 milhões, a maior parte vinda do governo norte-americano, a Digital Globe tem quatro satélites que ficam a uma altitude de 600 km e fazem 55 órbitas diárias no mundo. Em novembro, deverá lançar ao espaço mais um, o WorldView4 para operar a 680 km de altitude. Os principais serviços oferecidos pela empresa são monitoramento do meio ambiente, controle de invasões e de ocupação ilegal de terras em áreas de mineração e acompanhamento do volume de minério retirado das minas. “A imagem obtida pelo satélite pode identificar uma área com mineração ilegal em um território de até 5 metros quadrados”, afirma Tata Lacale, gerente de vendas para a América do Sul da Digital Globe. A Space Imaging Brasil também fornece trabalho diferenciado com as imagens obtidas pelos satélites para empresas das áreas de mineração, agricultura, defesa, energia, transportes, óleo e gás. A empresa usa a tecnologia de mapeamento por imagens de satélite de alta resolução, que permite, além do monitoramento geológico e de recursos minerais, a coleta de dados estruturais e de uso e ocupação do solo com imagens em 2D e 3D. No Brasil, os maiores usuários desses serviços são Vale, Votorantim, Petrobras, Transpetro, TBG (controladora do gasoduto Brasil-Bolívia) Furnas, Sabesp, Embrapa, Ministério da Defesa, Polícia Federal e Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro. A Polícia Federal usa as imagens dos satélites da empresa para perícia ambiental, verificando sobretudo áreas de desmatamentos. O governo de Mato Grosso do Sul contratou os serviços da empresa para criar o Cadastro Ambiental Rural, seguindo a nova lei do Ministério do Meio Ambiente. As imagens obtidas pelas lentes dos novos satélites da Digital Globe têm alta resolução. Cada pixel equivale a 30 centímetros no terreno. Com isso, consegue-se identificar uma cerca e diferenciá¬la de um riacho, por exemplo. A SpaceImaging Brasil também obtém imagens do Radarsat¬2, um radar orbital canadense lançado em 2007 que, segundo Paulo Costa, gerente técnico da empresa, fornece imagens de alta resolução para vigilância marítima, gestão de desastres e monitoramento ambiental.
Moagem com esferas ganha espaçoA francesa Saint-Gobain, líder mundial em soluções para construções sustentáveis, aproveitou o 24° Congresso Mundial de Mineração realizado no Rio de Janeiro, como oportunidade de negócios para a tecnologia de moagem ultrafina com esferas. A inovação, capaz de elevar a produtividade dos moinhos com impacto na sustentabilidade das usinas, vem ganhando adeptos no país. A Sibelco é uma delas. A multinacional, que opera 228 centros de produção de argila e caulim, cal e calcário, sílica e zirconita em 41 países, vai inaugurar, até dezembro, em São Paulo, duas plantas de moagem de carbonato de cálcio com esferas. As unidades vão dobrar a produção de duas usinas convencionais, que serão desativadas. “Mais cedo ou mais tarde as mineradoras vão adotar a nova tecnologia. A moagem com esferas é mais econômica e eficiente que outros processos”, afirma Rodolfo Fischer Moreira de Oliveira, gerente comercial de vendas da Saint-Gobain Zirpro, um dos principais fabricantes mundiais de esferas de moagem de cerâmica. A tecnologia de esferas é utilizada há muito tempo para a moagem na indústria de tintas e defensivos agrícolas. As primeiras eram de vidro. A partir dos anos 80 e 90, as esferas de zircônio começaram a surgir como opção de maior rendimento por causa do menor desgaste. Na composição das esferas a Saint-Gobain Zirpro utiliza zircônia, alumina e óxido de silício. As esferas são fabricadas por meio de sinterização, processo que compacta e submete os cristais a temperaturas elevadas, mas menores que o ponto de fusão, e produzem uma peça sólida com alto grau de dureza, densidade e resistência. O diâmetro das esferas de moagem devem ser cerca de 20 a 30 vezes maior que o tamanho das partículas dos materiais antes da moagem. Especialistas consideram que são a melhor escolha para micromoagem. No Brasil, moinhos de esferas já atendem clientes como Tintas Renner, Basf e Bayer, mas com usinas de pequeno porte. Os dois moinhos da usina da Sibelco em São Paulo serão as primeiras de grande porte na América do Sul e vão produzir 18 mil toneladas de carbonato de cálcio ultrafino para a indústria de plástico, com impacto na redução das importações da matériaprima pelo país. No Chile há projetos de moagem fina com esfera para usinas de manganês, cobre e estanho. A tecnologia aumenta o desempenho, garante qualidade constante do produto, reduz carga de moagem, custos de produção e aumenta a produtividade. “Os impactos se refletem na sustentabilidade, porque há redução no consumo de energia dos moinhos e menor desperdício de materiais”, afirma Oliveira.
Brasil e Suécia buscam eficiênciaInovar ou morrer, não há outro caminho para que o setor de mineração, em todo o mundo, torne-se competitivo, sustentável e eficiente do ponto de vista econômico. A frase é do vice-ministro para assuntos da União Europeia, promoção da Suécia, comércio e investimento, Oscar Stenström, que esteve no Brasil na terceira semana de outubro, para cumprir compromissos e uma agenda diplomática com o Embaixador da Suécia no Brasil, Per-Arne Hjelmborn. Os dois participaram de uma solenidade em Brasília, em 18 de outubro, quando assinaram, com o governo brasileiro, um memorando de entendimento para cooperação e exploração mineira sustentável. O objetivo do acordo é estreitar os contatos entre os dois países, reforçando a cooperação no setor de mineração e, em linha com as metas da Agenda 2030. Os países devem estabelecer uma cooperação em prol do desenvolvimento sustentável da atividade mineira e extrativista, com eficiência e segurança, priorizando a preservação do meio ambiente, as relações sociais e seus avanços. Entre as áreas designadas prioritárias, pelo memorando, está a melhoria da inovação e a eficiência logística, considerando projetos de automação; aumento da segurança; criação e manutenção de programas de sustentabilidade que incluem o fechamento de antigas minas, com estímulo ao consumo eficiente de energia e água para redução de impactos ambientais; e o estímulo ao uso da ciência, tecnologia e inovação (CT&I). No âmbito da pesquisa, o documento expressa um compromisso entre as partes para estreitar a comunicação entre governo, academia, entidades civis e setor privado. A meta é estimular o intercâmbio de experiências e informações sobre políticas públicas, regulação, desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologia. Com uma ampla produção acadêmica na área de mineração, a Suécia tornouse o principal produtor de minério de ferro da Europa. Nas últimas seis décadas, o governo sueco vem promovendo incentivos à inovação e ao estabelecimento de parcerias entre indústrias e universidades. O resultado foi um aumento de produtividade. O país tem hoje cinco minas ativas, com uma produção de 70 milhões de toneladas ao ano ¬ em 1960, eram 60 minas, com um total anual de 28 milhões de toneladas. “Para que a indústria de mineração tenha condições de competir globalmente é preciso ser cada vez mais sustentável e eficiente, do ponto de vista dos custos. Esse patamar de eficiência e sustentabilidade só é alcançado se houver investimento em pesquisa. Estou muito confiante no sucesso dessa parceria com o governo brasileiro”, diz Stenström, que também participou da 5ª Semana de Inovação Suécia Brasil, evento sediado por dez cidades brasileiras.Tendo como tema a experiência sueca de desenvolvimento inovador e sustentável, painel organizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), no Rio de Janeiro, mostrou como a indústria sueca de mineração está investindo em tecnologias como redes wi¬fi, telecomunicações, computação cognitiva e automação para reduzir custos, garantir sustentabilidade aos projetos e aumentar a eficiência econômica. De acordo com o engenheiro Laercio da Costa Barbosa, um dos pesquisadores da Scania que participou do painel, apesar de o setor de mineração brasileiro ser conservador, já é possível perceber um movimento em busca de projetos de automação. Segundo ele, há projetos de automação em estado avançado na Europa, onde a discussão já evoluiu para o estabelecimento de padrões. “Não teremos, da noite para o dia, um conjunto de normas que permita que toda a indústria converse: isso tem um processo de maturação. Os projetos de automação em minas estão no início, teremos, pelo menos, cinco anos para que se tornem economicamente viáveis, mas percebo que, no Brasil, as mineradoras estão dispostas a dar um passo adiante no universo da automação”, afirma.
Indústria procura novas soluçõesUm dos maiores vilões sobre o custo de produção do minério de ferro é a umidade. De acordo com o Código Marítimo Internacional para Cargas Sólidas a Granel (IMSBC Code), 10,45% é o limite máximo permitido de umidade para o embarque de minério de ferro ¬ percentuais maiores colocam a estabilidade da embarcação em risco, além de aumentar o consumo de combustível. Em busca de inovação, uma solução para reduzir a umidade do minério desenvolvida pelos pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Ouro Preto (MG), será submetida a uma prova de conceito industrial em fevereiro de 2017. Com a meta de reduzir entre 1% e 1,8% a umidade do minério de ferro, o experimento substitui os tradicionais secadores industriais, que não são viáveis economicamente por causa do grande volume exportado, por chutes de transferência de minério adaptados para funcionarem como câmeras de secagem. Os chutes são equipamentos fechados onde ocorre a mudança de direção de correias transportadoras que levam o minério do pátio para o navio. A proposta dos pesquisadores é, no futuro, evoluir e reutilizar o vapor gerado no processo de secagem. O resultado dessa pesquisa, apresentado durante o 24th World Mining Congress, Mining in a World of Innovation, realizado no Rio de Janeiro entre 18 e 21 de outubro, expressa o foco do setor de mineração em todo o mundo: descobrir como incorporar processos e tecnologias inovadoras a uma das mais tradicionais indústrias do mundo. Os tomadores de decisão das maiores mineradoras brasileiras são unânimes em afirmar que inovação é fator decisivo para ganhar competitividade e tornar a indústria sustentável. “Estamos desenvolvendo várias pesquisas no ITV, com uso de automação, computação cognitiva e buscando processos inovadores. Temos de competir globalmente e estamos olhando todas as áreas em que precisamos melhorar a produtividade”, afirma Clovis Torres, diretor executivo de recursos humanos, integridade corporativa e consultor geral da Vale. Tito Martins, CEO da Votorantim Metais, explica que há cerca de cinco anos, a empresa está focada em trazer a tecnologia para melhorar os processos do dia a dia da organização. Para Martins, o setor precisa atrair jovens talentos e ter a capacidade de retê¬los, lançando desafios constantemente. Para isso, diz, o investimento em inovação é imprescindível. O CEO da Votorantim Metais ressalta ainda que é preciso buscar tecnologias de ponta e adaptá-las à indústria de mineração.Na Unidade de Vazante, em Minas Gerais (MG), a Votorantim Metais investiu em projetos de IIoT (Industrial Internet of Things), ou emprego industrial de internet das coisas, no beneficiamento de minério para produzir concentrado de zinco. Todo o processo, desde a entrada do minério no moinho à flotação, foi automatizado e integrado a sensores; os dados gerados são enviados em tempo real para uma unidade da GE, nos EUA, e retornam à unidade de Vazante, com relatórios analíticos. Com o processo, a Votorantim conseguiu reduzir em até 12% o consumo de um reagente de alto custo, e a estabilidade alcançada pelo processo elevou a produtividade em 1,5%. Martins chama a atenção também para os processos inovadores na unidade de Morro Agudo da Votorantim Metais, localizada em Paracatu (MG). Ele explica que, nessa unidade, a inovação foi aplicada para transformar rejeitos em matéria-prima e insumos. O resultado foi a produção de um pó calcário agrícola (PCA), também conhecido como Zincal200. O produto foi criado com a tecnologia para reprocessar o resíduo gerado no beneficiamento do zinco, que era depositado nas barragens. O Zincal200 neutraliza a acidez do solo e aumenta sua produtividade. Ruben Fernandes, CEO da Anglo American no Brasil, afirma que o setor precisa usar a tecnologia para mudar de patamar. “Trata¬se de uma indústria muito tradicional, em que os processos são iguais há décadas. Mas isso não impede de introduzir inovação em um determinado aspecto ou processo. É preciso fortalecer essa cultura dentro das organizações”, diz.
Projetos de inovação dispõem de R$ 1,2 biNa próxima década, o setor de mineração no Brasil terá avanços tecnológicos, com aprimoramento de operações e processos envolvendo sustentabilidade, desde que haja mais investimento em pesquisas aplicadas à área e que os projetos sejam resultado de uma associação mais intensa entre empresas e centros de pesquisa. A análise é do professor e consultor em mineração Jair Carlos Koppe, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Na próxima década, o setor de mineração no Brasil terá avanços tecnológicos, com aprimoramento de operações e processos envolvendo sustentabilidade, desde que haja mais investimento em pesquisas aplicadas à área e que os projetos sejam resultado de uma associação mais intensa entre empresas e centros de pesquisa. A análise é do professor e consultor em mineração Jair Carlos Koppe, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Em sintonia com esse cenário, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Finep, focados no estímulo à inovação e no aumento da competitividade do setor de mineração e transformação mineral no Brasil, estão promovendo ações para atrair planos de negócios baseados em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) no âmbito do Inova Mineral – Plano de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Inovação do Setor de Mineração e Transformação Mineral. Inserido no Plano Inova Empresa e desenvolvido em conjunto pelo BNDES e pela Finep, o Inova Mineral oferece R$ 1,18 bilhão, reembolsáveis e não¬reembolsáveis, às empresas que tiverem seus respectivos planos de negócios selecionados. A primeira etapa para inscrição de planos de negócios, iniciada em setembro, termina no dia 1º de novembro, mas haverá uma segunda chance de inscrição em abril de 2017. Pedro Sérgio Landim de Carvalho, gerente setorial do Departamento de Mineração e Metais do BNDES, diz que o edital é aberto a empresas de todos os portes e inclui startups e incubadas em universidades e institutos de pesquisa. De acordo com Carvalho, um dos objetivos do Inova Mineral é aumentar o apoio e o investimento a projetos de risco tecnológico. O plano também pretende fortalecer as relações entre empresas, setor público e instituições de ciência e tecnologia (ICTs). De acordo com Henrique Vasquez Fèteira do Vale, da equipe do departamento de petróleo, mineração e siderurgia da Finep, serão financiados projetos de inovação baseados em tecnologias aplicadas em cinco linhas temáticas. Elas incluem materiais de alto desempenho, ligas e suas aplicações (como titânio, vanádio, cobalto, lítio, grafita entre outros); minerais com elevado déficit comercial (fosfato e potássio); tecnologias de mineração e processos produtivos; tecnologias e processos para redução e mitigação de riscos e impactos ambientais na mineração e uma linha totalmente dedicada ao desenvolvimento e produção pioneira, no Brasil, de máquinas, equipamentos, softwares e sistemas para mineração e transformação mineral.
Mas Vale chama a atenção para o fato de que, qualquer que seja a linha escolhida, os recursos do Inova Material não vão contemplar projetos que representem uma adaptação ou internalização de tecnologias já desenvolvidas no exterior pelas empresas líderes instaladas no Brasil. “A única exceção são os planos de negócios voltados à produção pioneira de equipamentos, softwares e sistemas para mineração e transformação mineral, compreendidos na Linha 5”, explica. Também fazem parte do conjunto de metas do Inova Mineral, cujo edital está disponível nos sites da Finep e BNDES, o fomento à criação de processos e soluções inovadores resultando em impactos positivos na indústria mineral; a busca da redução de riscos e impactos ambientais das atividades de mineração e transformação mineral e a elevação do patamar tecnológico da cadeia nacional de fornecedores, priorizando o desenvolvimento de engenharia nacional e absorção de novas tecnologias.
Saída é atuar de forma integradaA inovação é a chave para a viabilização econômica da mineração em um cenário mundial de desvalorização das matériasprimas minerais. Para os integrantes do seminário The Kellog Innovation Network, realizado durante o 24° Congresso Mundial de Mineração, a indústria aperfeiçoou muito suas atividades, mas nem todo o progresso é suficiente para atender a sociedade. A Kellogg Innovation Network (KIN) é uma rede mundial que desde 2003 reúne líderes de negócios com foco na inovação em encontro periódicos para debater os desafios do setor. “A questão ambiental é importante, mas não é tudo. O desenvolvimento da comunidade é importante, mas não é tudo. Precisamos intervenções integradas e resultados econômicos de desenvolvimento”, diz Jon Samuel, chefe do grupo governamental e desempenho social da Anglo American. “É preciso substituir a palavra extração por desenvolvimento”, afirma Kulvir Singh Gill, diretor da e colaborador da Kellogg Inovation. A preocupação dos especialistas se justifica. Muitas comunidades ainda defendem o fechamento de minas por causa dos impactos sociais e ambientais. Projetos estão parados não por desafios técnicos, mas por questões de sustentabilidade. A segurança deixou de ser um problema secundário para se tornar objetivo estratégico na mineração. “É preciso ser obcecado com o meio ambiente”, diz Kulvir Singh Gill, da Clareo Partners. Para ambientalistas e gestores de projetos sustentáveis, a inovação pode dar respostas capazes de equalizar necessidades econômicas da indústria, demandas sociais das comunidades locais e preocupações ecológicas da comunidade preservacionista. “No futuro, veremos mudanças tecnológicas que permitirão às mineradoras ter participação mais estruturada nas comunidades nos projetos”, diz Juan Eduardo Balmaceda, gestor no Peru da Hatch Serviços Ambientais. “O setor privado, principalmente de mineração, precisa estar inserido na estratégia de visão integrada, mitigação dos impactos e desenvolvimento de projetos”, diz Antonio Werneck, diretor-executivo no Brasil da The Nature Conservancy Brazil (TNC), organização de conservação ambiental com presença em 35 países. “Nas regiões com minas observamos governos frágeis e baixo nível de capital social, mas o principal problema é a dificuldade na coordenação do combate à pobreza e na promoção do desenvolvimento econômico. Buscamos qualificar os governos e organizamos consórcios de municípios para otimizar recursos”, afirma Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública, organização não-governamental que dá suporte a gestores públicos e empresas.Os desafios da mineração também pautam as decisões dos investidores. O caminho proposto por um representante de grandes financiadores é que a indústria encontre seu papel cidadão. “Somos vigilantes sobretudo em onde não vamos investir. Deve haver comprometimento com os recursos naturais e com os direitos humanos nas comunidades em que há atuação da indústria da mineração”, diz o reverendo Séamus Finn, diretor da OIP Investment Trust, um fundo de investimento de 200 organizações católicas romanas localizadas em mais de 55 países.
Tecnologia digital pode duplicar o lucroAs mineradoras podem aumentar em 20% sua produtividade no curto prazo e dobrar seu Ebitda nos próximos dez anos com o uso intensivo de tecnologias digitais em seus processos produtivos, segundo levantamento da consultoria Accenture. A queda no preço dessas tecnologias e a redução no tempo de implantação podem representar um salto para indústria mineradora. Um robô simples, que custava US$ 500 mil há alguns anos, hoje vale US$ 500. O armazenamento de 1GB de dados, que custava US$ 24 mil, hoje sai por menos de um centavo de dólar. “Muitas empresas de mineração acham que o investimento vai ser grande e levará muito tempo, mas isso não é mais verdade”, diz Rachel Bartels, diretora-gerente global da Accenture UK para química e recursos naturais. “Acompanhamos a otimização digital de uma mina na Austrália que custou menos de US$ 500 mil, ficou pronta em quatro semanas e aumentou a produtividade em 6%.” O primeiro grande impacto ocorre por meio de sistemas que permitem conectar trabalhadores – ou máquinas – em campo com os centros de controle das minas. Isso permite gerar grande volume de dados que pode servir para melhorar a tomada de decisões e aumentar a segurança de trabalho. A conexão permite saber exatamente a localização do trabalhador ou da máquina, e aumenta a velocidade de resposta em caso de emergência. O levantamento da Accenture, em parceria com o World Economic Forum indica que a adoção em massa de tecnologias digitais e de automação poderia salvar cerca de 700 vidas e evitar que 36 mil trabalhadores sejam feridos em acidentes. As conexões também podem monitorar a fadiga dos operários ou pontos de ineficiência ou mau funcionamento, sugerindo correções. Para termos uma ideia do potencial de geração de dados para análise na mineração, uma operação de varejo gera em média 0,1 TB em uma hora. Um caminhão conectado gera 1TB por hora. “Multiplique isso pelo número de horas de operação e pelo número de veículos na frota de uma mina para perceber as implicações só na área de transportes”, afirma Bartels. A rápida evolução dos sistemas de inteligência artificial e análise de dados permitem um aproveitamento muito maior das informações geradas na operação. Hoje, Bartels estima que as mineradoras não aproveitem 10% dos dados produzidos em suas minas. A inteligência artificial e o big data podem ter grande impacto também nas atividades de exploração. Não apenas porque facilitam a descoberta de padrões antes ocultos e que podem levar à descoberta de jazidas, mas também porque permitem analisar informações não estruturadas, ou seja, não classificadas para consulta em bancos de dados. “Às vezes são informações anedóticas, como um morador do local que diz que observou uma cor diferente no solo, por exemplo”, diz Bartels. Os sistemas inteligentes também aumentam a possibilidade de crowdsourcing na mineração, uma prática ainda pouco comum.Já as tecnologias de impressão 3D terão um impacto indireto, mas que pode representar grande oportunidade para as mineradoras. “Quem vai conseguir desenvolver um cartucho de impressão 3D carregado com minérios?”, pergunta Bartels.
Valor Econômico