Grupo investidor chinês quer entrar na briga pela Potash
25/08/10
Um consórcio liderado pelo fundo chinês de investimento em participações Hopu Investment Management Co. estuda fazer uma oferta pela Potash Corp. of Saskatchewan Inc., disse uma pessoa a par do assunto, no sinal mais forte até agora de que a China pode surgir para disputar com a BHP Billiton a aquisição da gigante canadense dos fertilizantes.
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O consórcio do Hopu é formado por investidores da Ásia, do Canadá e dos Estados Unidos e conta com pelo menos dois fundos soberanos, disse a pessoa a par da questão. Também inclui um investidor estratégico da China. A pessoa não quis identificar os outros sócios, mas disse que o consórcio ainda não tinha decidido se seguiria adiante com a oferta para comprar a Potash.
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Após a Potash rejeitar a oferta não negociada de US$ 38,6 bilhões da BHP, na semana passada, tem crescido a especulação de que um investidor chinês vai apresentar uma oferta para derrotar a BHP ? ou pelo menos adquirir uma fatia grande o suficiente para complicar os planos da gigante anglo-australiana da mineração. A Bloomberg noticiou ontem que a Vale SA teria sido uma das empresas a abordar a Potash sobre a possibilidade de negociar. No fim do dia, a Vale divulgou um comunicado em que afirmava que os rumores a respeito de uma oferta pela Potash, ou negociações para tanto, eram “totalmente infundados”.
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A Potash, por sua vez, já procurava um comprador rival que pudesse mantê-la independente da BHP.
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As empresas chinesas ? a maioria estatais, muitas vezes com apoio de bancos do governo ? iniciaram nos últimos anos uma onda de investimentos pelo mundo para assegurar o suprimento de matéria-prima para a economia do país. Nenhuma empresa chinesa conseguiu fechar um acordo da magnitude da Potash, embora a estatal Chinalco, ou Corporação de Alumínio da China, juntamente com a Alcoa Inc., tenha abocanhado uma fatia de 9% da mineradora anglo-australiana Rio Tinto por US$ 14,1 bilhões, em 2008. Alguns analistas apontaram a aquisição como responsável por descarrilar a tentativa da BHP de comprar a Rio Tinto ? uma oferta que as autoridades chinesas temiam que daria à empresa combinada poder suficiente para ditar o preço do minério de ferro.
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Ainda podem surgir outras ofertas chinesas pela Potash. A Sinochem Corp., de propriedade do governo chinês, discutiu nos últimos dias o desenvolvimento de uma nova aliança, disse uma pessoa familiarizada com a questão. A Potash Corp. já tem 22% da filial de fertilizante da Sinochem, a Sinofert Holdings Ltd.
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A pessoa com conhecimento da situação disse que boa parte do interesse na Potash, incluindo as discussões com a Sinochem, é preliminar e nenhuma oferta tinha sido apresentada.
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Li Qiang, porta-voz da Sinochem, disse que a empresa “coopera há anos” com a Potash e é natural que a Sinochem esteja acompanhando de perto os acontecimentos. Ele não quis confirmar se a Sinochem entrou em contato com a empresa canadense desde que a oferta da BHP veio à tona. A pessoa familiarizada com a movimentação do Hopu disse que a Sinochem não está envolvida no consórcio.
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O diretor-presidente da Potash, Bill Doyle, disse ao Wall Street Journal ontem que a empresa recebeu manifestações “excepcionais” de interesse de uma gama variada de empresas, mas não especificou quais. Ele disse que o interesse de outras empresas surgiu “horas” depois de a empresa divulgar a rejeição da oferta não negociada da BHP, há uma semana, e afirmou também que a Potash Corp. está buscando possíveis parceiros e analisando interessados.
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“Não limite a sua imaginação”, disse Doyle, em relação ao tipo de possíveis interessados caso a situação evolua para um leilão. Ele disse que o preço oferecido pelos possíveis compradores será o fator mais importante na hora de decidir se a empresa, que ontem rejeitou formalmente a oferta hostil da BHP de US$ 130 por ação, deve mesmo se vender. “Ninguém acredita que essa oferta avarenta de US$ 130 tenha condições de ter sucesso.”
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Um porta-voz da BHP não quis comentar. A empresa levou sua oferta diretamente aos acionistas da Potash Corp. na semana passada.
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A potassa, ingrediente importante de fertilizantes, não é uma commodity tão importante na China quanto o minério de ferro ou o petróleo, mas a agricultura é um setor especialmente sensível no país. Os líderes chineses temem qualquer coisa que afete o preço dos alimentos de sua gigantesca população, e Pequim tem uma política antiga de tentar evitar a dependência de fornecedores estrangeiros para produtos e materiais agrícolas essenciais.
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Não está claro se o governo chinês, que ainda não tinha comentado a oferta da BHP pela Potash, está incentivando empresas locais a fazer contraofertas. Mas Pequim geralmente apoia as empresas em seus investimentos mundiais em recursos naturais. O presidente da China, Hu Jintao, falou sobre a potassa numa reunião com o primeiro-ministro canadense Stephen Harper em junho, quando os dois assinaram um memorando de entendimento voltado a melhorar a cooperação para o desenvolvimento do produto.
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Wei Chengguang, chefe de divisão da Associação da Indústria de Sais Inorgânicos da China, disse que o país espera se tornar autossuficiente em potassa até 2019 ou antes. “Hoje em dia, potassa é tão importante quanto petróleo”, disse, acrescentando que a China não tem influência para determinar o preço do produto. Wei disse que a China vai importar cerca de 3 milhões de toneladas de potassa este ano. A demanda total do país é de cerca de 7 milhões de toneladas, disse ele.
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O Hopu não é do governo, mas tem boas ligações políticas e comerciais, e um histórico de reunir grupos diversos para fazer ofertas rivais. Um dos fundadores do fundo é Fang Fanglei, um amigo íntimo do vice-premiê chinês Wang Qishan que comandou a criação da joint venture chinesa de corretagem da Goldman Sachs Inc., em 2004.
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O Goldman investiu no Hopu, assim como o Temasek Holdings Pte. Ltd., o fundo soberano de Cingapura. O Hopu, que administra US$ 2,5 bilhões, reuniu em junho um consórcio com o Temasek e os fundos soberanos da China, da Coreia do Sul e de Abu Dhabi para investir US$ 900 milhões na energética americana Chesapeake Energy Corp. Não se sabe se esses fundos integram o consórcio do Hopu que estuda uma oferta pela Potash.
Zmela Angola